A MISÉRIA TRANSFORMADA EM POLÍTICA DE ESTADO

49 Meticais na Conta e Carne de Cão no Prato.

Por: Um Observador Independente

É por isso que o governo quer acções nessas vossas televisões, estão a mexer muito com a mentalidade de um povo já dominado por futebol europeu e novelas dubladas da Turquia ao México. Pois, as notícias que circulam em Moçambique nos últimos dias são um retrato brutal da degradação da nossa realidade social e económica. 

De um lado, denúncias dão conta de que cidadãos podem estar a consumir carne de cão vendida nas ruas, sem qualquer controlo sanitário. Do outro, o Governo anuncia, com toda a solenidade, um aumento do salário mínimo nacional que, em alguns sectores, não passa de 49 meticais. Dois acontecimentos distintos, mas que se cruzam numa verdade amarga: o povo moçambicano foi reduzido a sobreviver entre a miséria e a indignidade.

O caso da carne de cão expõe a falência da saúde pública e da fiscalização alimentar. Carne sem origem clara, vendida nas ruas, significa risco de zoonoses, intoxicações e desrespeito cultural. Mais do que isso, revela um Estado incapaz de proteger a vida humana, permitindo que práticas perigosas se normalizem.

Já o aumento de 49 meticais, classificado de “números vergonhosos” pelos sindicatos, não é apenas insuficiente. É um insulto. Num país onde o custo de vida dispara a cada dia, oferecer menos de dois meticais por dia como “reajuste” é zombar da dignidade do trabalhador. Enquanto isso, sectores privilegiados como a banca e seguros recebem aumentos de milhares de meticais, perpetuando uma desigualdade escandalosa.

A verdade é que a maior parte dos negócios que hoje dão lucro em Moçambique são, no fundo, imorais. Vão desde a venda de carne duvidosa nas ruas até às grandes decisões de Estado que aumentam salários em 49 meticais, sabendo que isso não cobre nem um pão por dia. É o lucro acima da dignidade, o ganho acima da ética. Enquanto alguns enriquecem à custa da fome e do medo da maioria, o povo continua condenado a improvisar a sua sobrevivência.

Esses fenómenos ligam-se num ponto central: a sobrevivência. Quando os salários não permitem comprar sequer alimentos básicos, os cidadãos são empurrados para alternativas inseguras e desumanas. A pobreza extrema alimenta a doença, que reduz a produtividade e mantém o povo preso num ciclo de dependência e sofrimento.

O mais grave, porém, é a indiferença com que tudo isto é tratado. As autoridades parecem mais preocupadas em salvar estatísticas do que em salvar vidas. A carne suspeita não gera planos emergenciais sérios. O reajuste salarial não procura corrigir injustiças. Ambos são tratados como factos banais, quando deveriam provocar indignação nacional.

Moçambique vive, hoje, não apenas uma crise económica, mas uma crise de dignidade. Comer carne de cão nas ruas e receber 49 meticais como aumento salarial são sinais de um contrato social falido. Um país que expõe os seus cidadãos a tamanha humilhação perdeu o rumo.

A questão que fica é inevitável: até quando aceitaremos que a miséria seja transformada em política de Estado?



Comentários

  1. "...estão a mexer muito com a mentalidade de um povo..." e o Verbalyzador está a fazer o quê? Não está a fazer o mesmo? Qualquer governo faz isso, os Verbalyzadores escrevem só para eles lerem sozinhos...

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