CIDADÃO EXEMPLAR EM MOÇAMBIQUE: UTOPIA OU POSSIBILIDADE REAL?

 

Será que ainda é possível ser um cidadão do bem quando o chão parece desaparecer debaixo dos nossos pés?

Vivemos num tempo em que é comum ver textos eloquentes, com forte carga académica e intelectual, mas que no fundo apenas transbordam ódio e revolta contra dirigentes, políticos e líderes comunitários. A crítica, por vezes necessária, acaba muitas vezes reduzida a ataques pessoais, sem dar espaço ao contraditório ou ao direito de defesa. A verdade é que a opinião pública em Moçambique transformou-se num campo de batalha onde qualquer deslize de quem ocupa cargos públicos é usado para espezinhar, e não para corrigir.

Mas, deixando de lado os discursos inflamados, a grande pergunta é: será possível, neste contexto, ser um cidadão exemplar em Moçambique, sem se deixar corromper pelo ambiente predatório que nos cerca?

O Desafio da Honestidade

Quem nunca viu um amigo ou vizinho, outrora humilde e íntegro, mudar radicalmente de conduta depois de conseguir um cargo, uma promoção ou uma pequena fortuna? Muitos que eram “pessoas do bem” acabam prisioneiros de um complexo de superioridade, tratando os outros com arrogância e desprezo.

O exemplo repete-se: jovens que alcançam empregos no Estado mas rapidamente aderem ao compadrio e ao “custa quanto custar”; dirigentes locais que deviam ser guardiões da moralidade, mas preferem fechar os olhos em troca de favores; até agentes da lei e ordem que deveriam representar imparcialidade, mas que também sucumbem à tentação de pequenos subornos.

E aí surge a questão: como exigir cidadania exemplar quando até os guardiões da lei dão maus exemplos?

O Que Significa Ser um Cidadão Exemplar

Antes de parecer utópico, convém esclarecer: ser cidadão exemplar não significa ser santo ou perfeito. Significa:

  1. Cumprir e respeitar a lei, sem “atalhos” fáceis;
  2. Ser solidário e justo, mesmo sem reconhecimento;
  3. Viver com ética e respeito pelo próximo, sem cair na armadilha da indiferença;
  4. Proteger o bem comum, seja o meio ambiente, o espaço público ou a própria comunidade.

Um cidadão exemplar não precisa de títulos nem cargos para praticar o bem. Uma senhora que varre a frente da sua casa todos os dias, um jovem que ajuda idosos a atravessar a rua, ou até um vizinho que denuncia uma injustiça sem esperar recompensa — todos estes são exemplos silenciosos de cidadania real.

Moçambique Hoje: Entre Utopia e Possibilidade

É verdade que a nossa realidade é dura. O desemprego crescente, os preços insuportáveis da cesta básica, os escândalos de corrupção que nunca chegam a julgamento e o abismo cada vez maior entre pobres e ricos fazem muitos acreditar que “ser honesto é ser tolo”.

Quando um jovem vê colegas enriquecerem rapidamente através de esquemas duvidosos, enquanto ele, com esforço e ética, continua preso à sobrevivência diária, a tentação é grande. Como explicar a um estudante que a honestidade compensa quando até bolsas de estudo muitas vezes são entregues por favoritismo, e não por mérito?

Mesmo assim, pequenos exemplos inspiram. Temos cidadãos comuns que se recusam a pagar subornos, comunidades que se organizam para limpar bairros sem esperar pela edilidade, professores que, apesar da precariedade, continuam a formar gerações. São estes que provam que ainda não estamos completamente perdidos.

Reflexão Final

Ser um cidadão exemplar em Moçambique pode até soar a utopia, mas não é impossível. A diferença está em compreender que os verdadeiros “super-heróis” não usam capas nem aparecem nos telejornais. São pessoas comuns, que no silêncio do seu dia-a-dia praticam pequenas acções de bondade, justiça e responsabilidade.

Talvez nunca teremos unanimidade sobre este conceito. Mas, se cada um de nós fizer a sua parte, mesmo sem holofotes, estaremos a plantar sementes de um país mais justo e humano.

Então, caro leitor: na realidade moçambicana de hoje, acredita que ainda é possível ser um cidadão exemplar — sem bajulação, sem medo, e sem ceder ao facilitismo?

👉 Se concorda, partilhe esta reflexão. Se discorda, deixe o seu ponto de vista. O debate é necessário para alinharmos a consciência colectiva e, quem sabe, resgatarmos a esperança de que ainda vale a pena acreditar na cidadania.

Comentários

  1. Boa reflexão na verdade nós precisamos de mudar de consciência não há nenhum dirigente do mundo que irá oferecer comida em casa precisamos de trabalhar, isto é, faça algo que no fim do dia irá meter mais um metical. Vamos parar de seguir a vida de dirigentes.

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  2. Boa chamada para reflexao.
    Ultimamente vivemos numa sociedade em que se diz que ja nao é possivel fazer o bem porque o mundo ja está corompido mas eu queria desafiar responsabilidade individual para a melhoria e resgate dos valores morais. Pois, cada um deve lutar em fazer o melhor por onde estiver que isto em parte pode indluenciar para a devolucao dos valores morais da nossa sociedade.

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  3. Agradeço ao autor deste texto pois, é de muito interesse. Temos que cultivar este pensamento, estás boas acções á partir de casa. Reconheço também que é difícil ser-se um exemplo pelas vicissitudes da vida de vivenciamos. Dou o meu voto aos que tentam e procuram ser exemplares. Bom dia a todos.

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  4. Muito bem exposta a ideia uma coisa e a teoria outra e a prática

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