ENTRE RUBIS, DISCURSOS E A JUVENTUDE SEM RUMO
Felicitações ao Dia das FADM - 61 anos defendendo Moçambique.
A 25 de Setembro, Moçambique celebra o Dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), uma data que evoca o início da luta armada contra o colonialismo português em 1964, há 61 anos. É um marco de resistência e sacrifício, de homens e mulheres que deram o seu sangue para que hoje houvesse uma bandeira erguida e um hino nacional. Mas, passadas seis décadas, a interrogação que se levanta é: para quem valeu esse sacrifício?
A fotografia que acompanha esta reflexão dispensa muitas palavras. Um jovem sentado no chão, cabisbaixo, provavelmente exausto da luta diária para sobreviver. Ao lado, baldes de produtos — talvez bolinhos, talvez pequenas frituras para vender. É o retrato cru da juventude moçambicana: cansada, sem rumo, encurralada entre a vontade de trabalhar honestamente e a realidade de um país onde a corrupção ocupa o lugar da esperança.
A dura verdade: honestidade já não paga
O jovem da imagem poderia ser qualquer um dos milhares espalhados pelas ruas de Maputo, Beira, Nampula, Tete ou Lichinga. Vende o que pode, ganha tostões, volta para casa com pouco ou quase nada. E, mesmo assim, ouve discursos inflamados de dirigentes que lhe dizem para "trabalhar mais", "ser resiliente" ou "não querer enriquecer depressa".
Poderá ser mais um daqueles que tenha tentado aproximar aos centros de recrutamento para vida militar ou tenha cumprido a vida militar e por alguma razão ilusória, desistiu e tenta se reerguer de forma honesta. Ambos os casos, o importante é tentar manter-se de pé e com fé que o amanhã será melhor. Mas até quando?
Se estar ali sentado à espera do próximo cliente não for tão doloroso que não ter a chance de correr a vida militar por não ter conseguido subornar alguem para ser recrutado, o risco maior é ainda o próximo a chegar ser um agente camarário que vai recolher o negócio todo, em nome da postura municipal.
Mas como pode vencer, se o jogo já está viciado?
Em Moçambique, negócios limpos e honestos raramente prosperam. O sistema está enraizado em favoritismos, licenças vendidas por baixo da mesa, monopólios protegidos e corrupção institucionalizada. Quem ousa tentar o caminho da dignidade, muitas vezes acaba esmagado por um muro invisível que separa os que têm conexões dos que apenas têm sonhos.
Jovens hoje irão voluntariamente ou ocasionalmente ver p desfile dos que um dia sonham ser, já foram ou mesmo dos que depende o exercício de defesa desta pátria, que parece que é um território favorável ao desacaso da lógica: com riqueza mas pobre. E os dirigentes vivem de luxo, mas mendigando orçamento para tudo de Janeiro a Janeiro, desde ao empossamento até à próxima campanha de manutenção no poder.
O contraste gritante: soldados pobres, generais ricos
Enquanto isso, no mesmo palanque onde se celebram as FADM, o ministro da Defesa — acusado de deter minas de rubis em Cabo Delgado e provavelmente de ouro em Tete — ergue a voz para dizer aos jovens que se juntem às fileiras das forças armadas, mas que não esperem ser ricos. Ricardo Dias, um internauta na rede social X, observa amargamente essa lógica, mas nada vale fazer apenas observações ou reflexões, enquanto a fome, o desemprego e a corrupção são factos reais.
A ironia é cruel. Os jovens são convocados a dar a vida, defender a pátria e viver com salários miseráveis, enquanto no topo se acumulam fortunas extraídas das riquezas naturais que deveriam beneficiar o povo. A história repete-se: os filhos dos pobres carregam a farda, e os filhos dos ricos carregam malas cheias de dólares.
Juventude sem horizonte
Este é o dilema que sufoca a juventude moçambicana:
Trabalhar honestamente? Dificilmente sai do lugar. Entrar para as forças armadas? Significa aceitar um destino de pobreza com Disciplina. Enveredar pela corrupção, crimes, prostituição e outros actos imorais para ganhar a vida? É o único caminho que parece recompensado. E, bem compensado enquanto a sorte durar.
A geração que deveria estar a construir o futuro vive num beco sem saída. A frustração cresce e a esperança desaparece, enquanto as elites acumulam terras, minas e negócios obscuros. Oh! Há um fundo por aí para desempregados e criativos nos bairros! E se fosse público a quantidade dos valores pasmados para subornar a estrutura que recebe, canaliza, avalia e aprova os projectos, te surpreendias?
Um Dia das FADM sem brilho
Celebrar o 25 de Setembro deveria ser um momento de orgulho e reflexão nacional. Mas, para muitos jovens, é apenas mais um dia que recorda como a luta pela independência foi apropriada por uma elite que se afastou das promessas de liberdade, dignidade e justiça social.
As FADM nasceram do povo, mas hoje são usadas como retórica para disciplinar esse mesmo povo e silenciar a juventude que ousa sonhar mais alto. Pois, é natural em ambientes sob regimes iguais ou semelhantes aos que se vive em Moçambique, antes que, talvez, se siga o tal modelo da Gâmbia que um Fernando Pequenino propõe numa das abordagens em fóruns do Whatsapp.
A imagem do jovem sentado, com os baldes à frente, é simbólica: ele não desistiu totalmente, mas está cansado demais para acreditar. É a metáfora perfeita de um país rico em recursos e pobre em oportunidades, onde a honestidade deixou de ser caminho viável.
Neste Dia das FADM, fica a pergunta que todos evitam: de que serve defender a pátria, se a pátria não defende os seus filhos?
Muito forte
ResponderEliminartriste realidade do meu país
ResponderEliminarO que é que os militares defendem ? O povo, ou as elites ?
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