O REI QUE DEVORA O SANGUE DO SEU POVO

Relógios de Ouro Sobre Túmulos de Fome

O Rei de ESwatini, Mswati III é um grande fã dos relógios Jacob & Co. Ele tem 12 deles, totalizando US $ 17,9 milhões, sendo o mais caro o Jacob & Co Billionaire Ashoka, que vale US $ 7,7 milhões. 

Por um Observador da Realidade Africana, Maputo, 30 de Setembro de 2025.

Num mundo onde os reis deviam ser guardiões do bem-estar colectivo, o Rei Mswati III de eSwatini surge como um vampiro moderno, sugando os recursos de uma nação faminta para alimentar o seu vício por luxos obscenos. Imagine: doze relógios da marca Jacob & Co, avaliados em impressionantes 17,9 milhões de dólares, com o mais caro – o Jacob & Co Billionaire Ashoka – a custar 7,7 milhões de dólares sozinhos. Estes objectos de ostentação, cravejados de diamantes e mecânicas de precisão suíça, não passam de ferros frios no pulso de um monarca que ignora o pulsar fraco dos corações moçambicanos... perdão, eswatinienses, que definham na miséria. Mas, como bem rebateu uma voz indignada nas redes sociais: "Desperdício de dinheiro enquanto o teu país ou reino ainda abriga tantos pobres". Esta crítica não é mero desabafo; é um grito de justiça que ecoa pela África Austral, expondo a podridão de um regime absoluto onde o rei banqueteia-se à custa da fome alheia.

eSwatini, outrora Suazilândia, é um pequeno reino encravado entre a África do Sul e Moçambique, com uma população de pouco mais de um milhão de almas. No entanto, os números da pobreza aí são de gelar o sangue: segundo o Banco Mundial, cerca de 53% da população vive abaixo da linha de pobreza de 3,65 dólares por dia, uma miséria que condena famílias inteiras a noites sem pão e dias sem esperança. O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai mais longe, estimando que 59% dos eswatinienses mergulhem na pobreza nacional, com 29% em extrema penúria – isso significa crianças a remexer no lixo por migalhas, enquanto o rei acumula relógios que valem fortunas capazes de erguer escolas ou hospitais. E as crianças? A UNICEF revela que 65,3% delas sobrevivem abaixo dessa linha internacional de pobreza, 40,6% em condições de absoluta desumanidade. Como pode um soberano ostentar 17,9 milhões em acessórios de pulso quando o seu povo mal consegue medir o tempo entre uma refeição e a próxima?

Esta não é uma extravagância isolada; é o padrão de uma monarquia que se alimenta do suor e das lágrimas dos súbditos. Mswati III, com uma fortuna pessoal estimada em mais de 200 milhões de dólares, tem sido alvo de críticas furiosas por décadas. Em 2019, enquanto a economia do reino cambaleava com secas devastadoras e uma taxa de desemprego que roça os 40%, o rei gastou cerca de 6 milhões de dólares em 15 Rolls-Royce para si e as suas esposas – sim, 15 carros de luxo para um harém real, enquanto órfãos da SIDA imploravam por subsídios que o governo devia há anos, no valor de 10 milhões de dólares, segundo o FMI. E não para por aí: em 2016, durante outra crise de fome, comprou um jacto particular por 13 milhões de dólares, pagos com fundos públicos. Recentemente, em 2025, apelou a mais de 38 mil milhões de rands (cerca de 2 mil milhões de dólares) para combater as mudanças climáticas, mas quem acredita que esses fundos não escorrerão para palácios e frotas de BMWs, como as 120 viaturas de luxo adquiridas em 2019?

A crítica ao rei não vem só de fora; é um rugido interno que abala as fundações do absolutismo. Jornais como o Times of Swaziland e activistas locais denunciam esta "monarquia como luxo que o país não pode pagar", ecoando o que o Pambazuka News escreveu em 2016: o povo passa fome enquanto o rei voa alto. Em Moçambique, vizinho e irmão na luta africana, vemos ecos desta injustiça – lembre-se da nossa própria história de elites que devoram os recursos enquanto o povo rala. Mas em eSwatini, onde a monarquia absoluta proíbe partidos políticos e esmaga protestos, esta ostentação é mais que desperdício: é um crime contra a humanidade, um insulto à dignidade de um povo que merece pão, não pedras cravejadas de diamantes.

Que o eco desta réplica – "desperdício de dinheiro enquanto o teu país abriga tantos pobres" – se torne um trovão. Mswati III, os teus relógios marcam o tempo da tua glória passageira, mas o relógio da história avança para a accountability. África clama por reis que sirvam, não que sugam. Que o teu pulso pese com a vergonha do que deixas para trás: um reino de fome sob o brilho falso do ouro.



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