COISAS QUE NUNCA ME ENSINARAM
Que o Corpo Comunica o Que a Boca Não Diz
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@Myriam Tillson |
Nunca me ensinaram que os nossos corpos são bibliotecas químicas sofisticadas, constantemente a escrever e reescrever mensagens que os outros podem ler, mesmo sem termos consciência disso. Nunca me ensinaram que durante a intimidade, particularmente a excitação sexual, o corpo humano liberta sinais tão precisos quanto palavras, tão reveladores quanto confissões sussurradas ao ouvido.
A educação formal ensinou-me sobre anatomia básica, sobre reprodução, sobre prevenção de doenças até a normalização de relacionamentos íntimos com pessoas do mesmo sexo, enquanto outro absurdo suaviza o mesmo com animais, plantas, etc. O que na minha cultura é inaceitável, visto que desvia as normas da natureza e são rotulados esses actos como transtornos ou desvios anormais dos indivíduos. Onde antes de serem emancipados, são de imediato acolhidos com atenção especial para serem tratados - pois, doentes.
Mas nunca me disseram porém, que quando uma mulher se excita, as suas glândulas apócrinas - localizadas principalmente nas axilas, virilha e área genital - aumentam dramaticamente a produção de secreções que, metabolizadas pelas bactérias naturais da pele, criam um perfil olfactivo único e detectável. Estas são as feromonas, compostos químicos que funcionam como uma linguagem silenciosa entre corpos, uma comunicação que precede a própria linguagem verbal na nossa evolução.
O que descobri pela experiência, e não pelos livros escolares, é que durante a excitação a respiração muda de qualidade - torna-se mais acelerada, mais quente, e o hálito altera-se subtilmente devido ao aumento do fluxo sanguíneo e mudanças no pH da boca. A saliva pode tornar-se ligeiramente mais doce, resultado das alterações hormonais e do aumento da circulação. A temperatura corporal eleva-se visivelmente, especialmente no peito, pescoço e rosto. A própria textura da pele se transforma, tornando-se mais sensível e frequentemente ligeiramente húmida.
Estas não são informações académicas abstractas - são ferramentas práticas para a intimidade humana. Um parceiro que compreende esta linguagem corporal pode ajustar o ritmo e intensidade das carícias, perceber quando acelerar ou abrandar, identificar o que está realmente a funcionar, criar um ambiente mais responsivo e genuinamente conectado. É a diferença entre fazer amor mecanicamente e fazer amor com inteligência emocional.
Mas a sociedade africana, com toda a sua riqueza cultural, frequentemente ensina-nos a ignorar ou envergonhar-nos destas realidades físicas. Crescemos numa cultura onde falar sobre sexualidade é tabu, onde o prazer feminino é frequentemente invisibilizado, onde a intimidade é tratada como território masculino com participação feminina passiva. Nunca nos ensinaram que o corpo feminino tem uma linguagem própria que merece ser aprendida, respeitada e celebrada.
Esta ignorância cria relacionamentos onde os parceiros funcionam como estranhos nos corpos uns dos outros. Homens que nunca aprenderam a "ler" os sinais de prazer das suas parceiras, limitando-se a rotinas aprendidas em conversas de esquina ou pornografia. Mulheres que nunca foram ensinadas a comunicar os seus desejos, assumindo que a satisfação sexual é responsabilidade exclusiva do parceiro masculino.
O resultado são décadas de relacionamentos onde a intimidade permanece superficial, onde o sexo se torna obrigação conjugal em vez de expressão de amor e prazer mútuo, onde gerações de mulheres vivem vidas sexualmente insatisfeitas porque nem elas nem os seus parceiros compreendem como os seus corpos realmente funcionam. O mais engraçado e preocupante ainda, está semana começou observando uma informação que dava conta que na Nigéria, havia uma percentagem enorme dos resultados negativos de paternidade testada através do DNA. Quer dizer, muitos homens, dos que submeteram às famílias aos testes de paternidade por DNA, descobriram ou descobrem que os filhos não são seus. Só espero que isso não chegue a Moçambique porque ainda temos problemas básicos a resolver como país.
Mais profundo ainda é o facto de que esta comunicação química acontece não apenas durante o acto sexual, mas ao longo de todo o espectro da atracção e relacionamento humano. Quando alguém está interessado em nós, quando está nervoso, quando está mentindo, quando está genuinamente feliz - o corpo está constantemente a transmitir informação através de sinais químicos, térmicos, e energéticos que os nossos sentidos captam a níveis subconscientes.
Aprender a prestar atenção a estes sinais não é apenas sobre melhorar a performance sexual - é sobre desenvolver inteligência relacional. É sobre compreender que os seres humanos são criaturas muito mais complexas e comunicativas do que a cultura formal nos ensina. É sobre reconhecer que muito do que consideramos "intuição" sobre outras pessoas é na verdade a nossa capacidade biológica de detectar e processar informação não-verbal.
Esta sabedoria tem implicações que vão muito além do quarto. Num contexto africano onde muitos relacionamentos ainda são arranjados ou fortemente influenciados por considerações familiares e económicas, a capacidade de realmente "ler" outra pessoa pode ser a diferença entre uma vida de compatibilidade genuína e décadas de estranhamento conjugal. Pode ajudar-nos a distinguir entre atracção química real e pressão social para formar relacionamentos.
Pode também ajudar-nos a compreender melhor os nossos próprios corpos e reacções. Quando sentimos atracção instantânea por alguém, quando nos sentimos inexplicavelmente desconfortáveis com uma pessoa aparentemente agradável, quando temos "feeling" sobre alguém que acabámos de conhecer - muito disso pode ser o nosso sistema nervoso a processar informação química e energética que a mente consciente ainda não conseguiu articular.
Mas existe também um aspecto mais sombrio desta realidade que nunca me ensinaram: quando compreendemos como os corpos comunicam, também compreendemos como esta comunicação pode ser manipulada ou mal interpretada. Pessoas que aprendem a "ler" sinais físicos podem usar esse conhecimento para explorar outros, especialmente em contextos onde existem desequilíbrios de poder.
Por isso é crucial que esta educação sobre comunicação corporal venha sempre acompanhada de educação sobre consentimento, sobre respeito, sobre a diferença entre compreender os sinais de alguém e assumir que temos direito de agir sobre esses sinais. O facto de conseguires perceber que alguém está excitado não significa que tens permissão para fazer algo sobre isso. O facto de conseguires "ler" interesse físico não significa que esse interesse é convite para acção.
Esta é talvez a lição mais importante: que a verdadeira intimidade acontece quando dois corpos comunicam livremente entre si, quando ambos os parceiros são fluentes na linguagem química e energética um do outro, quando existe espaço seguro para que estas conversas silenciosas aconteçam sem pressão, sem expectativas forçadas, sem scripts culturais que ditam como devemos reagir.
Num mundo ideal, cresceríamos aprendendo sobre os nossos corpos como sistemas de comunicação sofisticados, aprendendo a prestar atenção aos sinais que enviamos e recebemos, desenvolvendo a sensibilidade para navegar estas conversas não-verbais com respeito e inteligência. Aprenderíamos que o sexo verdadeiramente satisfatório não é performance baseada em técnicas memorizadas, mas conversação fluída entre dois corpos que aprenderam a "falar" um com o outro sem palavras dos idiomas importados ou exportados.
Aprenderíamos também que esta comunicação corporal é apenas uma parte de relacionamentos saudáveis - que complementa, mas nunca substitui, a comunicação verbal honesta. Que por mais fluente que sejamos na linguagem dos feromonas e das mudanças de temperatura corporal, ainda precisamos de perguntar "o que te dá prazer?", ainda precisamos de dizer "gosto assim", ainda precisamos de criar espaços onde as palavras podem expressar o que os corpos estão a sentir.
O que nunca me ensinaram é que quando finalmente compreendemos e integramos estas diferentes formas de comunicação - verbal, emocional, química, energética - criamos possibilidades para intimidade que transcendem o que a maioria das pessoas experimenta. Não é apenas sexo melhor, embora isso seja certamente um resultado. É conexão humana mais profunda, relacionamentos mais satisfatórios, maior compreensão de nós mesmos e dos outros.
E talvez mais importante ainda, é a compreensão de que os nossos corpos são sábios, que carregam informação valiosa, que merecem atenção e respeito. Numa cultura que frequentemente nos ensina a desconectar da nossa sabedoria corporal, a tratá-la como fonte de tentação ou vergonha, aprender a ouvir e honrar estas comunicações subtis é um acto de reclamação da nossa humanidade completa.
Infelizmente 😕, está informação chega tarde, seria muito bom que escrevesses um livro e publicarar em PDF
ResponderEliminarNão boa
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