COISAS QUE NUNCA ME ENSINARAM

Como Sobreviver Psicologicamente Sob Governos Perpétuos!

Nunca me ensinaram que haveria momentos na vida onde o Estado se tornaria o meu maior predador, onde as instituições criadas para me servir se voltariam contra mim, onde a democracia seria apenas uma palavra bonita pintada sobre a realidade brutal do poder absoluto. Nunca me ensinaram que seria possível viver numa época onde votar se tornaria um ritual vazio, onde a polícia serviria aos poderosos em vez da justiça, onde questionar publicamente seria um luxo que poucos podem permitir-se. E principalmente, nunca me ensinaram como preservar a minha sanidade mental, a minha dignidade humana e a minha esperança quando tudo ao meu redor conspirava para me quebrar.

Em África, esta não é filosofia política abstracta - é a realidade quotidiana de centenas de milhões de pessoas. É a vida sob Mugabe no Zimbabwe, sob Dos Santos em Angola, sob Obiang na Guiné Equatorial, sob uma lista interminável de homens que transformaram países inteiros nas suas propriedades pessoais. É a experiência de gerações que nasceram, cresceram e morreram sob o mesmo rosto nas notas de dinheiro, nas paredes dos edifícios públicos, nos noticiários televisivos que mentem descaradamente todas as noites.

O que nunca me ensinaram é que existe uma arte sombria na sobrevivência psicológica sob estas condições, uma sabedoria que os livros de História raramente documentam porque é vivida nos silêncios, nos olhares não ditos, nas conversas sussurradas entre pessoas que se conhecem há décadas e ainda assim medem cada palavra. É o conhecimento de como manter a alma viva quando o sistema inteiro foi desenhado para a matar lentamente.

A primeira lição é compreender que o poder absoluto funciona através da erosão gradual da realidade partilhada. Quando as eleições são uma farsa mas todos devem fingir que são legítimas, quando a economia está em colapso mas os jornais falam de crescimento, quando a corrupção é sistemática mas oficialmente não existe, criamos uma sociedade esquizofrénica onde a verdade se torna subversiva. O regime não precisa que acredites nas suas mentiras - precisa apenas que te canses de lutar contra elas. O objectivo não é convencer, é exaurir.

Esta exaustão psicológica tem um nome: é a "aprendizagem do desamparo" que o psicólogo Martin Seligman estudou, mas aplicada a uma escala nacional. Quando as pessoas percebem que os seus esforços individuais não conseguem mudar nada significativo, muitos param de tentar. Votar não muda nada, manifestar-se é perigoso, reclamar formalmente é inútil. Gradualmente, a população aprende que é impotente, mesmo quando colectivamente tem o poder de mudar tudo.

Mas aqui está o que nunca me ensinaram: a resistência mais profunda acontece não nas barricadas, mas na preservação da capacidade de pensar claramente. O regime quer que duvides da tua própria percepção da realidade. Quando vês corrupção mas todos fingem que não existe, quando sabes que as eleições foram manipuladas mas os media falam de "festa da democracia", quando testemunhas brutalidade policial mas os jornais só reportam "distúrbios de manifestantes", o sistema está a tentar fazer-te questionar a tua própria sanidade.

A resistência começa na decisão consciente de confiar nos teus próprios olhos, nos teus próprios ouvidos, na tua própria experiência. É manter um diário privado onde escreves a verdade que não podes dizer publicamente. É cultivar relacionamentos onde podes falar abertamente, mesmo que seja apenas com uma ou duas pessoas de confiança. É criar pequenos espaços de honestidade numa sociedade construída sobre mentiras oficiais.

O segundo aspecto crucial é compreender a economia política da perpetuação no poder. Estes regimes não se mantêm apenas através da força bruta - isso seria demasiado caro e instável. Mantêm-se através de um sistema cuidadosamente calibrado de incentivos e punições que transforma a própria população num mecanismo de auto-policiamento. Quando conseguir um emprego público depende da lealdade política, quando aceder a serviços básicos requer conexões certas, quando fazer negócios depende de estar nas boas graças do sistema, a maioria das pessoas escolhe a sobrevivência prática sobre a resistência idealista.

Isto não é cobardia - é um cálculo racional numa situação impossível. Uma mãe solteira com filhos para alimentar não pode dar-se ao luxo de heroísmos que resultem na perda do emprego. Um comerciante que vive do seu negócio não pode arriscar provocar autoridades que podem fechar a sua loja com uma simples inspecção. O regime constrói uma teia de dependências onde resistir significa não apenas riscos pessoais, mas riscos para pessoas que dependem de ti.

O que nunca me ensinaram é que reconhecer estas limitações não é derrotismo - é realismo. E dentro desse realismo, ainda existem# Coisas Que Nunca Me Ensinaram... 

Esta é uma série em construção. Cada "coisa" representa uma lição que muitos de nós descobrimos tarde demais, mas nunca é tarde demais para aprender.

Como Sobreviver Psicologicamente Sob Governos Perpétuos!


Comentários