A DITADURA DA BELEZA
Ah, nosso Moçambique, terra de sol escaldante e sombras alongadas! País Onde a última instância pode te indicar outra entidade competente enquanto lhe cabe a última decisão. Aliás, enquanto o país ainda lambe as feridas da saída da lista cinzenta do GAFI — have desde já parabéns, Frelimo, mais um selo de “progresso” no currículo — eis que um rumor sujo, fedorento como peixe podre no mercado de Xipamanine, invade os grupos de WhatsApp e as timelines do Facebook.
Fala-se de um alegado “depoimento bombástico” de Nurolamin Gulam, o empresário de Nacala detido nos Estados Unidos desde 2024, que, segundo o boato, delata uma máfia de trinta magnatas moçambicanos: lavagem de milhões em imóveis, tráfico de heroína afegã, financiamento a jihadistas de Cabo Delgado e até negócios de armas de destruição em massa para dar sabor ao enredo. Tudo isto através de uma pousada turística em Palma que, de repente, se transforma em entreposto de AK-47 e metanfetaminas. Sensacional, não? Quase dá um filme de Hollywood — ou, melhor, um episódio de Narcos: Versão Zambeziana.
Mas esperem: por que motivo este veneno circula solto há meses enquanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) — guardiã suprema da lei, pelo menos segundo os cartazes eleitorais — permanece mais muda que uma ostra em jejum? Não é de hoje que Maputo ferve com leaks anónimos, mas este tem tempero especial: mistura factos reais (como a prisão do irmão de Gulam em Julho, ou o escândalo da Auto-Pac e da DNA, com directores a venderem a alma por comissões açucaradas) com uma salada de ficções digna de telenovela.
A lista de nomes? Uma colagem aleatória de “tios ricos” indianos e árabes, sem um pingo de prova. A pousada em Palma como QG terrorista? Pura invenção, sem eco nos relatórios da PGR ou do GCCCOT. E o suposto “depoimento confidencial” com maletas de dólares para “financiar o ISIS local”? Nem o FBI, que adora holofotes, mexeu um dedo sobre isso.
Então pergunto, em tom de provocação que não cabe em despacho oficial: quem ganha com este circo? Os opositores da Renamo ou do MDM, a lançar fogos anti-Frelimo antes das próximas autárquicas? Ou os próprios tubarões da elite, a semear o caos para desviar atenções das investigações reais, como a “Stop Branqueamento”, que já apanhou 48 empresas em 2025?
Porque, vejam bem, se tudo isto fosse verdade — uma rede transnacional de drogas e terror a tocar nos “pilares da economia” — seria o jackpot para o governo Nyusi-Daniel Chapo. Imaginem a cena: a PGR solta um comunicado triunfal, com fotos de algemas e confissões, proclamando “Olhem como limpamos a casa! Saímos do GAFI e agora caçamos os fantasmas de Cabo Delgado!”. Seria legitimidade pura, votos na urna, elogios do FMI e da União Africana.
Em vez disso, silêncio sepulcral. Nenhum tweet oficial a desmentir, nenhuma nota no site pgr.gov.mz — que, aliás, parece mais um museu de PDFs empoeirados do que um farol de transparência.
Será conivência? Medo de que, ao cutucar o vespeiro, saiam vespas mais perigosas — nomes de figurões intocáveis, doadores de campanha que constroem pontes e hotéis em troca de olhos fechados? Ou é simplesmente preguiça burocrática, o velho “deixa rolar” que faz de Moçambique um playground de rumores, onde a verdade se torna refém de quem grita mais alto?
Pensemos bem: em Novembro de 2025, com o país ainda a sangrar de ciclones, inflação e dívida, a PGR podia transformar este boato num troféu anti-corrupção. Em vez de posar de herói, escolhe o mutismo. E quem perde? O povo, que merece justiça de verdade, não novelas.
Ou será que, no fundo, o rumor não é tão falso assim, e o silêncio é o maior confessionário de todos?
Provocação lançada: PGR, se estão limpos, falem alto. Se não, ao menos deem-nos o espectáculo. Moçambique aguenta mais um escândalo — mas não mais um silêncio cúmplice. O que dizem, procuradores? Ou continuaremos a dançar no escuro?
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