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A GRANDE FARSA DA CIA E O LUCRO DO COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL

A Guerra ao Terror

A “luta contra o terrorismo” que enriqueceu os fabricantes de guerra e empobreceu o mundo

Imagine uma cena que congela o estômago: Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, a apertar a mão de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico (EI), num cenário digno do Gabinete Oval. Bandeiras americanas, troféus presidenciais e dois homens de fato escuro e gravata vermelha, sorrindo como velhos aliados.

A imagem, partilhada recentemente no X (antigo Twitter) pelo jornalista Clayton Morris, traz a legenda provocadora:

 “A Guerra ao Terror foi sempre uma vigarice. Aqui está a prova.”

Claro: trata-se de uma montagem. Trump nunca se encontrou com Baghdadi, morto em 2019. Mas o impacto simbólico da imagem é inegável. Ela resume o argumento central de Morris — e de muitos críticos da política externa americana: os Estados Unidos, através da CIA, não combatem o terrorismo. Fabricam-no.

Da Guerra Fria ao Estado Islâmico - as sementes do caos

As acusações de manipulação não são novas. Em 2016, Julian Assange, fundador da WikiLeaks, revelou mais de 500 mil cabos diplomáticos de 1979 — os chamados “Carter Cables III”. Neles, apontou a ligação direta entre as operações secretas da CIA e o nascimento do extremismo moderno.

“Se algum ano pudesse ser dito como o ‘ano zero’ da nossa era moderna, 1979 é esse”, afirmou Assange.

Naquele ano, a União Soviética invadiu o Afeganistão. A resposta de Washington foi imediata: a Operação Cyclone, uma das maiores campanhas secretas da história, que canalizou biliões de dólares em armas e financiamento para os mujahideen, combatentes islâmicos anti-soviéticos apoiados também pela Arábia Saudita.

Entre eles estava um jovem saudita chamado Osama bin Laden. A CIA ajudou a criar a rede que viria a transformar-se na Al-Qaeda, e mais tarde, no Estado Islâmico.

O objectivo inicial — enfraquecer a União Soviética — foi atingido. Mas o preço foi alto: um legado de radicalização, guerras intermináveis e terrorismo global.

A “Guerra ao Terror” como negócio

Após os ataques de 11 de Setembro de 2001, o presidente George W. Bush declarou a “Guerra ao Terror” como cruzada moral pela liberdade. Na prática, inaugurou um ciclo de gastos militares sem precedentes.

Segundo o Costs of War Project da Universidade Brown, os Estados Unidos já gastaram mais de 8 biliões de dólares em guerras no Médio Oriente. Esse dinheiro raramente constrói paz. Vai para os cofres de gigantes da indústria bélica como a Lockheed Martin, Raytheon e Boeing, que lucram com drones, mísseis e tanques.

O que se apresenta como defesa da democracia é, na realidade, um modelo de negócio. O mesmo complexo militar-industrial que o presidente Eisenhower denunciou em 1961 cresceu a ponto de transformar a guerra em produto.

Ecos em África: o mesmo guião, novos palcos

O enredo repete-se noutros continentes. Em Moçambique, o extremismo no norte do país tem raízes ideológicas semelhantes às que incendiaram o Médio Oriente — alimentadas por redes wahabitas e fluxos de dinheiro externos.

Quantos cabos diplomáticos, ainda por revelar, exporão o envolvimento indireto do Ocidente no financiamento de grupos como o Al-Shabaab ou o chamado “EI africano”?

Depois, seguem-se as mesmas soluções: intervenções militares, missões de “assistência” e pacotes de ajuda humanitária que soam, cada vez mais, a neocolonialismo. A dependência é reconfigurada, o ciclo renova-se — e os contratos de defesa continuam a crescer.

O espelho da hipocrisia

A falsa fotografia de Trump e Baghdadi é, afinal, um espelho cruel da realidade. Líderes ocidentais há décadas apertam as mãos de ditadores e “aliados temporários” — como Reagan o fez com os mujahideen — enquanto os cidadãos comuns pagam a conta.

Assange, que expôs esse jogo, pagou um preço alto: anos de asilo, perseguição judicial e uma saúde destruída. Mas as suas palavras continuam a ecoar:

 “A CIA foi responsável por abrir o caminho para o ISIS.”

No final, o terrorismo é uma guerra que nunca foi sobre o terror

Em 2025, com Trump novamente no centro da política americana e o mundo ainda dilacerado por guerras por procuração, é hora de encarar uma verdade desconfortável: a Guerra ao Terror nunca foi uma cruzada moral. Foi — e continua a ser — um negócio bilionário travestido de idealismo.

A história repete-se enquanto o público assiste, distraído por bandeiras e discursos patrióticos.

A prova está nos documentos, nas imagens e nos silêncios cúmplices da diplomacia.

Cabe a nós, cidadãos, exigir transparência antes que a farsa nos consuma por completo.



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