A DITADURA DA BELEZA
Algures neste país chamado Moçambique, onde o ensino ainda se faz entre paredes de barro, carteiras reaproveitadas e sonhos que teimam em crescer, duas vidas cruzaram-se numa sala humilde, mas repleta de esperança.
De um lado, o professor Jaleia, homem simples e atento, que guia a sua turma com paciência e afeto. Do outro, a Elisa, uma menina de olhar tímido mas decidido, que divide o seu tempo entre estudar e ajudar a mãe na venda de bolinhos.
A sala de aula — construída com material local — é testemunha de um quotidiano que só quem vive o interior de Moçambique entende: crianças focadas, livros gastos, sorrisos sinceros e professores que fazem milagres sem recursos.
Naquele dia, porém, algo chamou a atenção do professor Jaleia.
Ele notou que a Elisa escondia algo debaixo da carteira. Aproximou-se com a curiosidade de quem educa com o olhar, e, ao verificar, descobriu uma bacia com bolinhos caseiros, cuidadosamente guardados.
Elisa, envergonhada, explicou:
“São bolinhos que vendo no intervalo, professor. Guardei aqui só para ninguém mexer…”
O professor sorriu. Em vez de repreender, decidiu fazer o que poucos fariam: comprou todos os bolinhos — e partilhou com a turma. O que poderia ter sido um acto de punição, transformou-se numa lição de solidariedade e respeito.
Muitos internautas que viram o vídeo dividiram-se em opiniões.
Uns disseram que o professor devia ter repreendido a aluna e chamado a mãe para conversar. Outros defenderam que, ao contrário, o gesto de Jaleia foi pedagógico e profundamente humano — uma demonstração de empatia num contexto em que o ensino e a sobrevivência caminham lado a lado.
A verdade é que Elisa não vendia na sala de aula. Guardava os bolinhos por segurança, para não os perder ou serem mexidos. Vendia apenas no intervalo, o que mostra organização, sentido de responsabilidade e coragem para conciliar a infância com o esforço de apoiar a mãe.
Num país onde tantas crianças enfrentam longas caminhadas para chegar à escola e estudam de estômago vazio, a história de Elisa ecoa como retrato da realidade moçambicana: a educação ainda é, para muitos, uma travessia feita de sacrifício e criatividade.
O gesto do professor Jaleia não foi apenas um acto de bondade. Foi um acto de pedagogia social, uma forma de ensinar sem precisar escrever no quadro-negro.
Ele mostrou aos alunos que aprender também é reconhecer o esforço do outro, que solidariedade é conteúdo essencial da vida, e que nem tudo o que parece fora do padrão é motivo de censura — às vezes é apenas uma história de luta.
Há professores que ensinam com giz e há outros, como Jaleia, que ensinam com o coração.
Esta história faz pensar sobre o que realmente significa “educar”.
Num país onde ainda se luta contra a fome, a pobreza e a exclusão, talvez o verdadeiro papel do professor seja também o de compreender — e agir com compaixão.
A mãe de Elisa não é negligente: é uma mulher que encontrou no esforço da filha uma pequena ponte para manter a esperança viva.
Elisa, por sua vez, é símbolo da geração que cresce sem reclamar, mas resistindo — estudando e trabalhando, aprendendo e sonhando.
Talvez, se houvesse mais professores como o Jaleia, o ensino moçambicano não seria apenas um caminho para o diploma, mas também um espaço de formação humana e transformação social.
Esta devia ser a atitude de todo o governante. Que procurasse entender e resolver a razão por que vamos à rua e não receber-nos com balas e gás lacrimogénio.
ResponderEliminarExcelente Ponte.
EliminarSublinhe-se, não precisaríamos gastar rios de dinheiro com Diálogo Nacional Exclusivo, ou, desculpa Inclusivo.
Mas é que há tantas vezes em que cada presidente que toma o poder inventa diálogo mas que no final não resulta em nada.
Uma boa lição da vida
ResponderEliminar