DINHEIRO É SEMPRE BEM-VINDO, NÃO IMPORTA DE ONDE
Não nesse texto que vamos abordar sobre as formas mágicas de fazer dinheiro ou dizer como a superstição pode transformar folhas secas em dinheiro Limpo. Mas, é nesse contexto que viemos partilhar que Moçambique, há quem evite ao máximo reencontrar pessoas do passado – velhos amigos, colegas de trabalho, primos distantes ou conhecidos de circunstância.
Para muitos, o ideal seria cruzar-se com cada indivíduo apenas uma vez na vida e, depois disso, só numa próxima encarnação, se é que ela existe. Exceptuam-se filhos, pais, irmãos e avós; o resto poderia desaparecer do mapa social sem qualquer peso na consciência. Não se trata de desejar mal ou morte a ninguém, mas de proteger a própria paz de espírito, que pode estar por detrás do imã de captar potenciais oportunidades e visão para ter dinheiro e sobreviver até viver o glamor que nos é negado pelo governo e outras entidades.
Numa praia quase deserta de gente, mas cercada por edifícios turísticos vazios na maior parte do ano, essa ideia ganha contornos mais claros. Ao longo da estrada que leva a esses locais, alinham-se casas e moradias construídas exclusivamente para aluguer de curta duração. São residências modestas, elegantes, com quintal murado, vista para o mar e toda a privacidade que um turista de bolso cheio procura. Fora da época alta ficam vazias; na época alta, rendem entre dez e trinta salários mínimos nacionais por mês – por casa.
O preço por noite varia entre um e três salários mínimos. Há quem pague, e muito. Em Dezembro, algumas já têm lista de espera. Quem aluga são pessoas comuns: o antigo colega de escola, o primo que se via nas festas de família, o amigo que outrora pedia conselho sobre política ou negócios enquanto tomava uma cerveja. Hoje são eles os proprietários. Nunca partilharam a oportunidade, apenas ouviram as ideias que se lançavam ao ar e, com coragem ou astúcia, colocaram-nas em prática.
Os nomes são banais, os negócios parecem formais. Mas o caminho que levou à construção e exploração dessas casas levanta sobrancelhas a qualquer leigo. A internet oficial, as inteligências artificiais calibradas e até grande parte da deep web escondem, censuram ou disfarçam as verdadeiras modalidades de gerar rendimento rápido e elevado. Quando se pergunta directamente “como fazer dinheiro de verdade”, a resposta vem sempre enviesada, protegida, moralmente aceitável.
Existem, porém, actividades que ninguém menciona em voz alta a não ser por eufemismos: cafetinação disfarçada de “guias turísticos”, intermediação de vícios apresentada como “promoção de eventos”, tráfico de influência camuflado de consultoria, prostituição anunciada como “acompanhemento VIP”, tráfico de drogas escondido atrás de farmácias, bares e serviços de entrega, segurança privada que às vezes se confunde com extorsão organizada, clínicas que compram órgãos “doados” a preço de miséria. Para cada euro ou dólar que entra a mais no bolso, há sempre um nome limpo por cima e uma actividade suja por baixo.
Entre todas essas formas, o imobiliário turístico paralelo destaca-se pela subtileza. Funciona com as mesmas tarifas dos hotéis de cinco estrelas, mas sem licença hoteleira, sem pagar IVA, sem inspecções da AT ou do Ministério do Turismo. Em Moçambique, essas casas particulares escapam quase totalmente ao fisco. Facturam mais do que muitos hotéis declarados e entregam zero aos cofres do Estado. Até governantes, depois de negociar lugares de direcção, transformam as próprias residências em “casas protocolares” e obrigam o Estado a pagar rendas absurdas enquanto ocupam o cargo – e, muitas vezes, depois de o deixar.
O dinheiro entra limpo na conta, independentemente da proveniência. As consequências, se e quando aparecerem, serão resolvidas mais tarde – com mais dinheiro, mais contactos ou mais silêncio.
Lição de moral absurda: quem tem certificado mas não tem contactos morre pobre e honesto; quem tem contactos morre rico e, se morrer preso, pelo menos morre com ar condicionado e vista para o mar ou para o rio e uma floresta densa.
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