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AS CASAS DE COLMO: UM SÍMBOLO DE HERANÇA CULTURAL E SUSTENTABILIDADE EM ÁFRICA

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Num mundo cada vez mais atento às questões ambientais e à preservação das identidades culturais, as casas tradicionais africanas com telhados de colmo surgem não como relíquias do passado, mas como modelos inspiradores de arquitectura sustentável e resiliente . Estas construções, feitas de barro e palha tecida à mão , representam séculos de sabedoria ancestral adaptada aos climas tropicais e às necessidades das comunidades. Em Moçambique , onde mais de 80 por cento das moradias rurais ainda recorrem à autoconstrução com materiais locais , estas casas não são apenas abrigos, mas expressões vivas de identidade e harmonia com a natureza. Porém, às vezes levantam-se questões de casos onde paira a dúvida, se se trata sobre pobreza ou cultura.  Este artigo inspira-se numa visão impactante partilhada por Yator Boss , um africano que, além de romantizar o que chamam de pobreza, ele inova a formar de preservar o legado da ancestralidade antes de entrar em confronto com o advento das ou...

IA, BLACK FRIDAY E A OPORTUNIDADE QUE CONTINUAMOS A PERDER

Quatro Ferramentas que Podiam Transformar o Nosso Presente — se Não Tivessemos Medo do Futuro

Há um padrão que se repete na nossa história como africanos e, em particular, como moçambicanos: primeiro demonizamos, depois rejeitamos, só muito tarde tentamos compreender. E quando finalmente compreendemos, o mundo já mudou novamente e nós ficamos mais uma vez na plateia, espectadores da evolução que podíamos ter liderado ou pelo menos acompanhado.

A Inteligência Artificial (IA) é apenas mais um capítulo desse ciclo. Esse negócio ultrapassa barreiras convencionais e alcança metas excepcionais na vida de quem domina. 

Uma ferramenta poderosa, nascida para democratizar acesso, reduzir distâncias, ampliar oportunidades — mas que, por falta de domínio ou medo do desconhecido, usamos apenas na superfície, como consumidores passivos e não como criadores activos do nosso próprio destino digital.

Neste fim de ano, com o frenesim global da Black Friday e da Cyber Monday, a Google apresentou quatro formas simples e práticas de usar IA para facilitar a vida. Mas, numa leitura mais profunda, estas mesmas quatro ferramentas expõem algo maior: as oportunidades de desenvolvimento que continuamos a perder porque não investigamos, não exploramos, não registamos e não participamos activamente no mundo digital.

A pergunta que proponho é simples:

Se tivéssemos recebido estas tecnologias sem medo, sem suspeita, sem preconceito — que lugar ocuparíamos hoje no mapa global de produção, comércio e inovação?

Vamos reflectir.

1. Acompanhar preços: o que poderia ser uma ponte entre mercados… mas não é

A IA permite hoje acompanhar preços, comparar ofertas e detectar oportunidades sem esforço.

Para o consumidor global, isso é puro poder: informação na hora certa, economia real, compras inteligentes.

Mas e nós?

Que dados temos para oferecer ao mundo?

Que produtos locais, serviços, artesanato, gastronomia, cultura digital ou tecnologia nacional estão registados em plataformas globais para que alguém, em Berlim ou Buenos Aires, possa comparar preços connosco?

A resposta dói: quase nada.

Porque enquanto aprendemos a usar a IA apenas para “ver preços da China”, esquecemo-nos de que a mesma ferramenta podia mostrar ao mundo o preço da capulana local, o valor do cacana, o custo de um serviço gráfico em Maputo, ou o preço de uma peça de madeira de Palma.

Mas não registamos.

Não digitalizamos.

Não documentamos.

E assim, a IA não nos encontra — não porque não temos valor, mas porque não nos colocámos na vitrina do mundo.

2. Pedir à IA sugestões personalizadas: uma funcionalidade criada para ajudar… mas que também expõe a nossa ausência digital

Noutros países, quando alguém pede à IA “encontra-me um presente único, artesanal, africano”, há dezenas de bases de dados, lojas digitais, catálogos e páginas independentes onde a IA vai buscar referências.

E de Moçambique?

O que aparece?

Quase sempre “nada” ou “o mesmo de sempre”.

Não é culpa das máquinas.

É culpa do nosso silêncio digital.

Se tivéssemos entendido cedo que a IA não é inimiga, mas sim uma biblioteca viva, teríamos investido em registar criadores, artesãos, costureiras, produtores de mel, pescadores, cozinheiras, programadores, agricultores, artistas, marceneiros, fotógrafos, carpinteiros, escultores, guias turísticos, designers, pequenos comerciantes…

A IA podia recomendar o que é nosso.

Mas como não alimentamos o sistema, a IA apenas repete o que os outros já documentaram.

3. IA a ligar para lojas locais: a ferramenta perfeita para dinamizar negócios — se houvesse negócios visíveis

Hoje, uma IA pode telefonar automaticamente para lojas locais noutros países, confirmar stock, preços e disponibilidade.

Imagina isto aplicado aqui:

— “Há peixe fresco em Pemba?”

— “Quanto custa o carvão em Magoanine?”

— “Quem tem cimento a melhor preço em Nacala?”

— “Onde encontro cajus, maçanicas ou mangas locais para exportar?”

— “Quem faz mobiliário de madeira maciça em Cabo Delgado?”

Seria revolucionário.

Mas a verdade é que a IA só pode ligar para lojas que primeiro existem digitalmente.

E nós?

Ainda estamos a montar negócios sem número de telefone visível, sem endereço claro, sem sinais na rua, quanto mais presença digital.

O mundo não nos ignora.

Simplesmente não nos encontra.

4. Experimentar roupas virtualmente: o mundo avança — nós observamos

Enquanto o mundo testa roupas virtualmente, simplifica compras, reduz desperdício e melhora a experiência do utilizador, nós continuamos a ver moda apenas como consumo importado.

Mas se tivéssemos ousado, se tivéssemos designers, costureiras, alfaiates e marcas nacionais registadas online com fotografias catalogáveis, a IA podia:

  • Sugerir roupas moçambicanas;
  • Impulsionar marcas locais;
  • Testar virtualmente capulanas, vestidos tradicionais, t-shirts de marcas independentes;
  • Criar passarelas digitais globais para estilistas nacionais. 

Mas como não nos digitalizamos, a IA não consegue mostrar o que é nosso.

Ficamos consumidores.

Nunca expositores.

A grande reflexão

As ferramentas existem.

As oportunidades gritam.

O mundo quer diversidade, autenticidade, cultura africana, produtos orgânicos, criatividade local, mão-de-obra artesanal, experiências únicas.

Mas nós, distraídos ou desconfiados, continuamos a rejeitar a tecnologia antes de a compreender.

Continuamos a temer a IA como se fosse um demónio, quando na verdade ela é apenas um espelho: mostra aquilo que cada povo investiu para que ela aprenda.

E como investimos pouco… ela sabe pouco sobre nós.

A consequência é trágica:

em vez de usarmos a IA para interagir com o mundo, viramos simples consumidores do que o mundo produz.

Perdemos oportunidades de exportação, de divulgação, de visibilidade, de colaboração directa, sem governos e sem burocracias.

Perdemos possíveis parcerias, trocas comerciais, convites, encomendas, projectos, ideias e joint ventures.

Perdemos porque não quebrámos o padrão.

O padrão de recusar antes de aprender.

De consumir antes de criar.

De criticar antes de tentar.

Mas prontos: ainda há tempo — mas já não há desculpas

A IA não é o fim do mundo. Por isso mesmo sem ela, ainda estamos vivos e supostamente saudáveis. 

Mas se esse assunto te tocou, partilhe, inscreva-te e leve o debate aos seus grupos de WhatsApp, Facebook e etc, bem como, conte-nos como nos comentários! 

É o início de um novo.

Mas apenas para quem participa.

Se começarmos hoje a digitalizar, catalogar, registar, criar e expor aquilo que é nosso, ainda podemos entrar no mapa global não como consumidores inúteis, mas como criadores, fornecedores, competidores e parceiros.

A pergunta final é simples e dura:

Queremos continuar a ser invisíveis para o mundo — ou queremos finalmente existir?

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