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QUANDO A INTERPOL CHEGA, OS CULPADOS TREMEM — E MOÇAMBIQUE ENTRA EM PÂNICO

Que mal tem a Inter e Afripol se deslocar no país se somos parte dela? 

Desaparecimento de veículos de alta cilindrada, redução de frotas de luxo, queima e até aterro de viaturas, desaparecimento de alguns patrões, silêncio de alguns magnatas, humildade de alguns dirigentes, etc. O que mudou de repente? Afinal é porque a polícia de verdade chegou em Moçambique! Então, é possível haver ordem, só não queremos, não há vontade política, apenas. 

Começou a semana com um frenesim que rapidamente tomou conta da agenda nacional: a presença da Interpol — e, quase despercebida, a Afripol — em solo moçambicano. Entre debates intermináveis e indignações súbitas, o país assistiu a um curioso espectáculo. Os chamados “intelectuais” surgiram nos ecrãs com voz trémula e ar revoltado, exigindo explicações públicas dos dirigentes, pedindo esclarecimentos que, na verdade, não deviam causar alarme a ninguém.

O mais irónico? Aquilo que, em qualquer nação que se pretende séria, seria motivo de orgulho — a presença de organismos internacionais de combate ao crime — transformou-se, por cá, em rumores, especulações, lamentos e teorias absurdas despejadas por ultracrepidários que saltam de canal em canal à procura de protagonismo.

Do outro lado do palco, vemos os nossos dirigentes a gaguejar diante do óbvio, incapazes de explicar com clareza o que devia ser simples: se há pessoas em Moçambique na mira da Interpol, isso não é vergonha nacional, é uma oportunidade para limpar a casa. Mas, para muitos, essa limpeza dói — e dói porque a cumplicidade é antiga e profunda.

Afinal, não devia ser motivo de esperança para qualquer cidadão que deseja transparência e justiça o facto de um organismo com experiência global vir actuar em Moçambique? Porque tanto medo, resistência e burocracia? Porque tanta exigência de pronunciamentos formais como se a Interpol tivesse de pedir licença para combater o crime num país signatário das suas próprias convenções?

A verdade é simples: a Interpol não precisa de holofotes, conferências de imprensa, vídeos nas redes sociais ou fotos ao lado de dirigentes nervosos. Eles conhecem os alvos, conhecem os circuitos, conhecem as rotinas. Estão ligados às nossas próprias forças internas há anos. A sua missão é recuperar bens roubados, deter criminosos, restituir a justiça e devolver dignidade a quem foi lesado.

E, no entanto, muitos preferiam que viessem às escondidas, agissem e partissem sem grande alarido. Porquê? Porque o barulho da Interpol aterroriza quem sempre viveu da impunidade.

Não esqueçamos: a Interpol sempre actuou em Moçambique. Já recolheu barões de droga, traficantes de armas, redes de tráfico humano e ladrões de viaturas. O país não é, nem nunca foi, território imune à sua acção.

O problema, portanto, não está na Interpol.

Está nos nossos dirigentes, que têm alergia antiga a negócios limpos e legais. Está no aparelho do Estado, onde muitos descobriram que o crime rende mais do que a honestidade. Está na cultura de enriquecimento fácil, onde se pavimenta o caminho para o poder com esquemas, fraudes e cumplicidades criminosas.

E esta semana mostrou algo desconfortável: grande parte dos que gritaram contra a presença da Interpol não o fez por patriotismo — fê-lo por conveniência. Muitos tornaram-se, voluntariamente ou não, advogados de criminosos que, independentemente do cargo que ocupem, deviam ser responsabilizados.

A máxima é dura, mas reflecte o desespero social: bandido bom é bandido morto.

Porque, mesmo preso, continua a manobrar. Continua a influenciar. Continua a controlar.

A Interpol devia trabalhar sem interferências — mas em Moçambique, até a presença das nossas forças internas atrapalha. E atrapalha porque são, demasiadas vezes, cúmplices, promotoras ou beneficiárias dos próprios esquemas que deviam combater. Parece até que acompanham a Interpol para indicar onde não mexer, a quem não tocar, que bens não devem ser apreendidos. Uma escolta para proteger criminosos — não para os deter.

E há mais: cada novo governo apresenta-se como renovação, mas o exercício é sempre o mesmo — teatro para o povo, enquanto a máquina do roubo continua afinada. Não admira que muitos desconfiem quando a Interpol aparece com demasiado protagonismo visível. A encenação tornou-se regra.

Se a sua presença fosse genuína, o povo esperaria o óbvio:

— apreensão de viaturas e bens roubados;

— prisão de criminosos com e sem cargos;

— responsabilização efectiva;

— restauração da ordem pública.

Moçambique é signatário, tem estruturas para actuar, e mesmo assim vive como se o crime estivesse acima da lei.

Hoje, criminosos em Moçambique gozam de liberdade plena. O problema já nem é apenas a corrupção: é a escalada de violência. Esquadrões da morte, raptos, assassínios diários, intimidações. A África do Sul que o diga, cansada da facilidade com que bens roubados lá são legalizados cá.

Enriquecer à custa da desgraça alheia nunca foi sustentável — mesmo num mundo onde Europa, Ásia e América convivem com os seus próprios abismos morais.

A pergunta que fica é simples:

de que lado queremos estar — do lado da justiça ou do lado dos que tremem com a chegada dela? Mas prontos, se vieram trabalhar, veremos os resultados. Agora se vieram para uma encenação, à pedido de um entretenimento político, aguardaremos Jesus voltar para uma verdadeira justiça. Pois, este país provou que até líderes religiosos são corruptíveis. 


Agora: POVO, DEVEMOS ENTREGAR OS LADRÕES DE LUXO À INTERPOL OU NÃO? 

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