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A DITADURA DA BELEZA

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Como o Mundo Obriga a Mulher a Pagar Para Ser Vista Vista a partir de Bluntyre, Malawi , esta pode não ser uma reflexão nova — talvez seja das mais antigas —, mas continua a ser uma oportunidade urgente para recordar os sacrifícios que o mundo material impõe à mulher para que ela se destaque aos olhos da maioria. Num tempo em que até políticos desvalorizam abertamente os diplomas e a educação formal , proclamando que já não são critérios fiáveis para o mercado de emprego, a mulher é empurrada pelo eco vazio do mundo a acreditar que pode substituir as suas qualificações humanas, intelectuais e espirituais pela simples estética do seu corpo. Entre os homens, um dos critérios mais usados para escolher uma parceira continua a ser a beleza — ou, no mínimo, a boa aparência. São poucos os que olham para o coração, para o carácter ou para a profundidade espiritual de uma mulher. Se não for pela riqueza dela ou dos seus familiares, os homens vão pelo caminho mais ilusório e ao desejo da carn...

PODE SER A ÚLTIMA VEZ DO LULA EM MAPUTO

O Doutor Honoris Causa que Expôs a Vergonha Política e Reacendeu a Revolução Jovem

O discurso de Lula da Silva durante a cerimónia em que foi distinguido com o título de Doutor Honoris Causa no Maputo não foi uma mera homenagem académica. Foi um acto político carregado de simbolismo, um espelho que expôs fragilidades profundas na forma como Moçambique tem lidado com a justiça social, a educação e o papel da juventude. As suas palavras, proferidas diante de académicos, estudantes e decisores, ecoaram muito para lá das paredes da universidade, reacendendo um debate que há muito incomoda — sobretudo entre aqueles que preferem manter o país numa rotina de silêncio, diplomacia vazia e celebrações protocolares.

Logo no início da sua intervenção, Lula lançou uma frase que cortou o ar como uma lâmina: “A fome não é falta de comida, é falta de justiça.” A simplicidade da declaração contrasta com o seu peso moral. Numa nação onde a fome se esconde por trás de estatísticas suavizadas e discursos optimistas, ouvi-la dita desta forma clara é quase uma acusação. Uma acusação não apenas às estruturas de poder que falham, mas ao conformismo que permitiu que esse falhanço se tornasse hábito.

Mais adiante, o ex-Presidente brasileiro tocou na ferida que muitas vezes é tratada como tabu: o subfinanciamento da educação e a incapacidade do Estado de colocar este sector no centro do seu projecto de desenvolvimento. Disse com firmeza: “É proibido falar em gastos com educação. Educação é investimento, e é o melhor investimento.” Numa altura em que Moçambique enfrenta desigualdades estruturais, sistemas de ensino precários e a fuga constante de talentos, estas palavras funcionam como um lembrete de que um país que desvaloriza a educação está, na verdade, a assinar a sua própria estagnação.

Lula avançou ainda para a crítica social mais sensível: a exclusão dos jovens por razões de origem, classe ou contexto social. Afirmou sem hesitação:

“Ninguém (…) deve ser preterido de estudar, pelo lugar que nasceu, pela religião que professa, ou pela origem financeira da sua família. Cabe ao Estado garantir a mesma oportunidade.”

Esta é uma verdade elementar, mas cuja ausência na prática tem marcado o destino de milhares de jovens moçambicanos que se vêem privados das ferramentas básicas para romper o ciclo da pobreza.

E, talvez a parte mais provocadora — aquela que muitos jovens acolheram como um grito de esperança e muitos dirigentes encararam como uma ameaça velada — veio quando Lula declarou:

“Queridos jovens, (…) não desistam de lutar, porque político decente está dentro de vocês e não de outros.”

Numa época em que a juventude é empurrada para a resignação, esta afirmação devolve-lhe não apenas responsabilidade, mas dignidade. É um lembrete de que a política não é propriedade da elite, mas um espaço onde a integridade pode renascer a partir das margens.

Não surpreende, portanto, que entre os moçambicanos tenha circulado a interpretação de que “por isso não foram na gala dos empresários onde ele foi palestrante”. Porque, ao contrário dos eventos onde se limitam discursos sobre crescimento económico e parcerias estratégicas, aqui havia incômodo real, havia crítica, havia a exigência de olhar para dentro — e nem todos estão preparados para encarar esse espelho.

Conclusão

As palavras de Lula não foram decorativas. Foram cirúrgicas. Num país que luta para equilibrar democracia, desenvolvimento e justiça social, o seu discurso funcionou como um diagnóstico incômodo e, simultaneamente, como um convite à coragem. Recordou-nos que a fome é produto da injustiça, que a educação é investimento estruturante, que a igualdade de oportunidades é dever moral do Estado e que a juventude não pode continuar à espera de líderes que nunca chegam — porque, afinal, o verdadeiro político íntegro pode muito bem ser aquele jovem que hoje é ignorado.

Mais do que homenagear Lula, o acto acabou por homenagear o debate que Moçambique há muito evita. Se essas palavras se transformarem em acção — ou, pelo menos, em inquietação — então esta visita terá servido para mais do que decorar currículos oficiais: terá servido para reabrir a porta da consciência colectiva e reacender a possibilidade de uma revolução jovem, ética e profundamente moçambicana.



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