AS CASAS DE COLMO: UM SÍMBOLO DE HERANÇA CULTURAL E SUSTENTABILIDADE EM ÁFRICA
Como africanos e moçambicanos, temos um padrão antigo: primeiro rejeitamos, depois desconfiamos, e só muito tarde tentamos compreender as tecnologias novas. A Inteligência Artificial (IA) tornou-se o exemplo mais recente dessa tendência que nos faz perder oportunidades antes mesmo de percebermos que elas existiam.
A verdade é simples: usamos a IA apenas na superfície, como consumidores passivos. Mas, se tivéssemos tido coragem para explorar, investigar e dominar estas ferramentas desde cedo, hoje estaríamos a aproveitar um mundo de benefícios — inclusive nesta época de Black Friday e Cyber Monday, onde quatro funcionalidades da Google mostram exactamente o que estamos a perder.
A IA acompanha preços, detecta oportunidades e facilita comparações. Mas o que oferecemos nós ao mundo para ser comparado? Nada ou quase nada. Não registamos produtos locais, não catalogamos serviços, não digitalizamos aquilo que é nosso. Assim, a IA não nos encontra — não porque não temos valor, mas porque não nos apresentamos.
Quando alguém pede à IA recomendações de presentes africanos, surgem dezenas de opções de outros países. De Moçambique? Quase nada. A IA só recomenda aquilo que existe nos seus bancos de dados — e nós não alimentámos esses bancos com o nosso artesanato, gastronomia, moda, produtos naturais ou serviços criativos.
Hoje a IA liga automaticamente para lojas nos países onde a digitalização é uma cultura. Imagina o impacto disto aqui: encontrar peixe, carvão, frutas locais, madeira, móveis, serviços ou produtos artesanais em segundos. Mas a IA só pode ligar para lojas que existem digitalmente. E a esmagadora maioria dos nossos negócios permanece invisível.
Enquanto marcas globais permitem experimentar roupas virtualmente, os nossos estilistas, alfaiates e criadores continuam fora da Internet. Sem fotografias catalogáveis, sem presença digital, a IA não pode apresentar moda moçambicana ao mundo. Consumimos, mas não expomos.
As quatro ferramentas mostram oportunidades reais que podíamos aproveitar para interagir com o mundo, trocar conhecimentos, vender, colaborar e criar parcerias directas — sem burocracias, sem intermediários, sem esperar que governos decidam por nós.
O problema não é a IA. O problema é a nossa ausência digital. Rejeitamos antes de aprender. Consumimos antes de criar. Criticamos antes de tentar. E assim, deixamos o mundo evoluir enquanto nos mantemos quietos.
A IA não é uma ameaça — é uma oportunidade. Uma ponte. Uma janela. Uma chance de finalmente existir no mapa global. Mas, para isso, precisamos de abandonar o medo e assumir o hábito de quebrar padrões para o nosso próprio bem. O futuro não espera. E nós já perdemos demasiado tempo.
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