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"CRIANÇAS CRIADAS POR PAÍS TÊM MAIS SUCESSO OU É APENAS UM MITO SOCIAL?"

Disciplina, afecto, recursos e responsabilidade parental para além dos estereótipos das redes sociais.

Este artigo analisa criticamente a ideia de que filhos criados por pais solteiros são mais bem-sucedidos do que aqueles criados por mães solteiras. Com base em estudos sociológicos, dados africanos e exemplos contemporâneos, o texto demonstra que factores como estabilidade económica, envolvimento emocional, apoio social e responsabilidade parental são mais determinantes do que o género do progenitor. Uma reflexão necessária sobre paternidade, maternidade, desigualdade e responsabilidade colectiva.

O que realmente molda o sucesso das crianças?

Não há como negar: a seguir pode se ver a imagem que ilustra um pai negro, cheio de tatuagens, sentado na cama a actar sapatilhas à criança de pele clara, enquanto ela o observa com admiração, provoca uma reacção imediata. É uma cena terna, de dedicação paternal, mas que, num contexto mais amplo, expõe uma ferida aberta na comunidade negra – a ausência frequente de pais em famílias monoparentais lideradas por mães, e a percepção de que, quando o pai assume sozinho, os resultados são visivelmente melhores. Mas será esta uma verdade incómoda ou apenas um estereótipo amplificado pelas redes sociais?A publicação que circula no X questiona directamente: por que razão as crianças criadas por pais solteiros parecem mais “decentes e inteligentes” do que aquelas criadas por mães solteiras? A foto anexada serve de ilustração perfeita – um homem negro, provavelmente um atleta ou figura pública, investindo tempo e carinho num filho mestiço. Nos comentários, as opiniões dividem-se com inteligência: alguns defendem que um pai sério nunca abandona o filho, independentemente das circunstâncias; outros apontam para a necessidade de evidências concretas, questionando estatísticas e estudos; há quem reconheça que o ideal é a presença de ambos os pais, mas, na ausência de um, o pai parece impor mais estrutura e disciplina. Outros ainda destacam casos reais de sucesso em famílias monoparentais femininas, alertando para o risco de generalizações.

Fora do X, o debate sobre famílias monoparentais está longe de ser esgotado, mas há consensos claros em estudos sociológicos e psicológicos. Investigação consistente, como relatórios do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos EUA e estudos europeus semelhantes, mostra que crianças criadas em famílias com dois pais presentes tendem a ter melhores resultados académicos, emocionais e comportamentais. No entanto, quando se compara famílias monoparentais, os dados são mais nuançados: filhos de pais solteiros (mais raros, representando cerca de 10-15% das famílias monoparentais em muitos países) frequentemente beneficiam de maior estabilidade económica, pois os homens, em média, têm rendimentos mais altos. Estudos como os do Pew Research Center indicam que crianças em custódia exclusiva de pais solteiros apresentam taxas mais baixas de problemas comportamentais e melhores desempenhos escolares do que em custódia materna exclusiva, atribuindo-se isso a factores como maior disponibilidade financeira para educação e actividades extracurriculares, e uma abordagem educativa mais estruturada.

Por outro lado, a maioria esmagadora das famílias monoparentais é liderada por mulheres (cerca de 85% em contextos africanos e afro-americanos), muitas vezes devido a abandono paternal, divórcio ou viuvez. Aqui, os desafios são reais: maior risco de pobreza, stress materno elevado e menor tempo dedicado exclusivamente à criança. Organismos como a UNICEF e estudos africanos (em países como Moçambique, África do Sul ou Nigéria) destacam que mães solteiras enfrentam barreiras sistémicas – discriminação laboral, falta de apoio familiar alargado e estigma social – que impactam o desenvolvimento infantil. No entanto, quando controlamos variáveis como rendimento e educação materna, muitos estudos (ex.: meta-análises publicadas na Journal of Family Psychology) mostram que o género do progenitor solteiro não é o factor determinante; o que importa é a qualidade da parentalidade, o envolvimento emocional e o apoio externo.

O consenso académico é equilibrado: nenhum progenitor solteiro, seja pai ou mãe, substitui o ideal de uma família biparental estável

Mas a provocação da publicação toca num ponto sensível – a responsabilidade paternal. Em comunidades negras, onde taxas de absentismo paterno são elevadas devido a factores históricos (escravatura, racismo sistémico, encarceramento em massa), a imagem de um pai dedicado torna-se símbolo de resistência. A criança mestiça na foto adiciona outra camada: reflecte tendências de casamentos inter-raciais entre homens negros bem-sucedidos (como atletas da NBA) e mulheres brancas, um tema controverso que amplifica percepções de “sucesso” associado a certas escolhas pessoais.

No fim, o que impacta uma criança não é o género do progenitor solteiro, mas o amor, a disciplina, os recursos e a presença consistente. Mães solteiras heroicas criam filhos brilhantes todos os dias, contra ventos e marés; pais dedicados, como o da imagem, merecem aplauso. A verdadeira questão não é culpar um lado, mas exigir responsabilidade colectiva: pais que ficam, sociedades que apoiam, e políticas que combatem a pobreza e o abandono. Só assim quebramos ciclos e construímos futuros verdadeiramente decentes e inteligentes para todas as crianças. Vale a pena reflectir – e agir.

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