"CRIANÇAS CRIADAS POR PAÍS TÊM MAIS SUCESSO OU É APENAS UM MITO SOCIAL?"
Nas redes sociais, uma imagem tem circulado com entusiasmo: uma pickup robusta, de design angular e futurista, pintada de preto mate, estacionada num quintal rural em Thamaga, Botswana. O post no X, partilhado por um utilizador admirado, celebra Itireleng Samuel Moatswi, um jovem inovador local que concebeu e construiu este veículo do zero. "De Thamaga para o mundo!", exclamava o autor, pedindo financiamento para uma fábrica inteira. A imagem impressiona: faróis circulares intensos, chapa reforçada, um ar de veículo todo-o-terreno pronto para enfrentar estradas difíceis. É uma prova palpável de que a inovação global pode nascer nas comunidades rurais de África, longe dos grandes centros tecnológicos.
Este caso não é isolado. Ele reflecte uma onda crescente de criatividade africana na mobilidade sustentável, onde indivíduos e empresas desafiam limitações com soluções locais adaptadas às realidades do continente. Em Botswana, Moatswi representa o espírito empreendedor que transforma sucata e engenho em veículos funcionais. Mas, para lá das histórias individuais inspiradoras, há iniciativas estruturadas que já estão a mudar vidas em escala maior, especialmente nas zonas rurais onde a mobilidade é um luxo.
Imagine-se numa aldeia remota do Zimbabwe: mulheres caminham quilómetros com cargas pesadas de lenha, água ou produtos agrícolas, perdendo horas preciosas que poderiam dedicar à família ou ao negócio. Agora, visualize o mesmo cenário com um triciclo eléctrico robusto, carregado com energia solar, transportando 400 kg de carga por estradas de terra batida. É exactamente isso que a Mobility for Africa (MFA) está a fazer desde 2019. Os seus veículos, chamados "Hamba" (que significa "vai" em línguas locais), são triciclos eléctricos desenhados para o terreno rural africano: pneus reforçados, estrutura resistente e baterias intercambiáveis carregadas em estações solares off-grid.
A MFA, apoiada por investidores como a InfraCo Africa, já expandiu uma frota de centenas de Hambas, beneficiando milhares de pessoas – 70% delas mulheres. Estas condutoras relatam aumentos de rendimento até 120 dólares por mês, mais tempo para actividades económicas e redução do esforço físico exaustivo. Os veículos servem não só para transportar produtos ao mercado, mas também para serviços de saúde (como campanhas de vacinação) e até polícia rural. Alimentados por energia renovável, evitam os custos voláteis dos combustíveis fósseis e contribuem para a luta contra as mudanças climáticas.
Em Moçambique, onde mais de 90% da electricidade provém de fontes renováveis (principalmente hidrelétricas), o potencial é enorme. O país já adoptou uma estratégia nacional de mobilidade eléctrica, com incentivos para importação de veículos limpos. Embora projectos como o da MFA ainda se concentrem no Zimbabwe, com planos de expansão para Malawi, Zâmbia e outros, Moçambique posiciona-se como terreno fértil para iniciativas semelhantes. Aqui, as zonas rurais enfrentam desafios idênticos: estradas precárias, acesso limitado a combustível caro e impacto desproporcional nas mulheres, que passam bilhões de horas anualmente em tarefas de transporte manual.
Estes exemplos – do carro artesanal de Moatswi à frota organizada da MFA – provocam uma reflexão profunda: por que razão África, rica em recursos e talento, continua dependente de importações obsoletas, muitas vezes veículos usados poluidores vindos da Europa ou Ásia? Por que não investimos mais no génio local, criando fábricas, empregos verdes e soluções adaptadas? A inovação rural não é só uma história bonita; é uma necessidade urgente para a independência económica, a igualdade de género e a sustentabilidade ambiental.Itireleng Samuel Moatswi merece, sim, apoio para escalar a sua visão. Mas histórias como a dele lembram-nos que África não precisa esperar pelo "desenvolvimento" externo.
O futuro da mobilidade sustentável já está a ser construído nos quintais, nas aldeias e nas comunidades – basta acreditar, financiar e replicar. Do interior ao mundo: o continente está pronto para liderar.
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