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A MATERNIDADE COMO FONTE DE FELICIDADE VERDADEIRA

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Lições de Tiwa Savage e Outras Mulheres Famosas Ao entrarmos em 2026, fica um recado claro: mulheres que ainda se apegam a princípios infundados de rejeitar a maternidade, muitas vezes em nome de uma independência absoluta ou de ideologias que prometem realização plena sem filhos, fariam bem em rever o seu posicionamento. Aceitar ser mãe, quando as condições permitem, é cumprir uma missão divina na terra – multiplicar a vida, nutrir e encontrar um propósito que transcende sucessos materiais. O tempo tem mostrado que ideias como "não preciso de homem nem de filhos" podem soar empoderadoras na juventude, mas frequentemente deixam um vazio que a fama e a carreira sozinhas não preenchem. O caso recente de Tiwa Savage ilustra isso de forma tocante: aos 40 e tal anos, a cantora nigeriana chorou no palco ao interpretar uma música de amor - “ Some body’s son go love me one day “, revelando uma vulnerabilidade que contrasta com as declarações firmes da juventude, quando afirmava que...

£145 POR UM GUARDA-REDES TITULAR?

O Racismo Disfarçado de Humor no Futebol Global

Como moçambicano, nascido e criado em cá, confesso que já poucas coisas nas redes sociais me surpreendem. Mas há publicações que ainda conseguem provocar uma mistura amarga de raiva, cansaço e lucidez forçada. Foi exactamente isso que senti ao deparar-me com um post do perfil @TrollFootball, na plataforma X (antigo Twitter).

A publicação exibia o perfil de Ernan Siluane, guarda-redes titular da Selecção Nacional de Moçambique e atleta dos Black Bulls, acompanhado da legenda: “Mozambique’s first choice goalkeeper’s market value”, seguida de um valor absurdo: £145.

O objectivo era claro desde o primeiro segundo: rir, humilhar, reduzir um atleta profissional a um meme barato. Mas o verdadeiro problema não estava apenas na publicação original — estava nos comentários que se seguiram, revelando algo muito mais profundo, estrutural e podre: o racismo colonialista ainda entranhado no futebol global.

Quando o “humor” se torna desprezo

Entre os comentários, lia-se que £145 era “o preço de um pneu de carro”, que o jogador podia ser “comprado para jogar no quintal”, que o Barcelona “só o contrataria durante a AFCON”, ou que o Manchester United devia fichá-lo porque “as despesas correm por minha conta”.

Um utilizador foi ainda mais longe: publicou uma imagem de uma festa supostamente “em Moçambique”, retratando pessoas pobres, como se todo um país pudesse ser reduzido a um estereótipo de miséria. Outro achou por bem “corrigir” o valor para ainda menos, como se £145 não fosse já suficientemente insultuoso.

Chamemos as coisas pelo nome: isto não é apenas trolling.

Isto é racismo, mascarado de piada futebolística.

O valor de mercado não mede talento — mede poder. 

É preciso dizer isto com clareza. O chamado “valor de mercado”, popularizado por plataformas como o Transfermarkt, não é ciência exacta. É uma estimativa arbitrária, profundamente influenciada por factores como:

  • visibilidade mediática europeia;
  • ligas ricas e inflacionadas;
  • contratos milionários;
  • interesses comerciais e de marketing. 

Na realidade, o valor estimado de Ernan Siluane ronda os €175 mil, não £145. Mas mesmo esse número diz pouco sobre o seu verdadeiro valor desportivo.

Um guarda-redes da Premier League vale milhões porque o dinheiro circula ali, não porque seja automaticamente melhor do que um guarda-redes africano. Em Moçambique, os salários são baixos, os estádios têm menos câmaras e menos holofotes, mas o talento é o mesmo — ou muitas vezes maior, porque nasce da rua, da escassez, da luta diária.

A Moçambola é uma liga dura, competitiva, onde os Black Bulls se afirmam com mérito. E os Mambas representam um país de mais de 30 milhões de pessoas, que vive e respira futebol com uma paixão que muitos desses comentadores jamais compreenderão.

O africano como alvo fácil

Faço aqui uma pergunta simples:

quantos desses trolls saberiam quem é Ernan Siluane se ele jogasse num clube europeu médio?

Provavelmente nenhum.

Mas se um jogador europeu desconhecido tiver um valor de mercado baixo, ninguém faz meme. O africano continua a ser o alvo fácil, o “pobre coitado” útil para gargalhadas rápidas.

Isto não é novo. Recorda os tempos coloniais, quando éramos vistos como inferiores, bons apenas para trabalho braçal. Hoje, o sistema mudou de forma, mas não de lógica:

os grandes clubes europeus extraem talento africano barato, inflacionam-no no seu ecossistema e depois vendem-no por fortunas. Mas quando o jogador permanece no seu país, representando a sua selecção, vira piada.

O verdadeiro valor não se mede em libras

Não aceito isso.

E não devemos aceitar.

Ernan Siluane não vale £145.

Vale as defesas que faz com a camisola dos Mambas.

Vale o orgulho de um povo que, apesar das dificuldades, continua a produzir atletas capazes de enfrentar gigantes na CAN e nas eliminatórias africanas.

Vale o exemplo que oferece aos miúdos dos bairros de Maputo que sonham com uma bola gasta e um futuro melhor.

O verdadeiro valor não se mede em libras nem em euros. Mede-se em dignidade, entrega e representação.

Aos trolls digo apenas isto:

venham jogar na Moçambola. Sintam o calor, a pressão, a paixão crua das bancadas. Depois falem.

Até lá, calem-se.

Moçambique não é même. Moçambique é futebol de verdade. E um dia, o mundo vai reconhecer isso — sem precisar de rir primeiro.



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