A MATERNIDADE COMO FONTE DE FELICIDADE VERDADEIRA
Em finais de Dezembro de 2025, uma imagem tornou-se viral nas redes sociais africanas, sobretudo no X (antigo Twitter). A fotografia mostrava um jovem de 18 anos, alegadamente do Quénia, algemado ao lado de uma mulher também detida, com um balde amarelo repleto de notas de dinheiro à sua frente. A legenda afirmava que os próprios pais teriam denunciado o filho à polícia por este “ganhar demasiado dinheiro de fontes desconhecidas”.
Embora a veracidade do caso nunca tenha sido confirmada por fontes jornalísticas credíveis — tudo indica tratar-se de um meme ou conteúdo sensacionalista —, a reacção foi imediata e reveladora. Muitos comentários expressavam revolta: “Os pais são inimigos disfarçados”, “Deixem o rapaz fazer o seu hustle”. Outros ironizavam a montagem da imagem, questionando o uniforme do jovem ou a presença da mulher na cena.
Para além do ruído digital, o episódio expõe uma ferida antiga das sociedades africanas: a chamada mentalidade do caranguejo. Há uma máxima popular que circula há décadas: quando um branco compra uma bicicleta, o outro elogia e compra um carro; quando um africano compra uma bicicleta, o outro fura-lhe os pneus. Generalizante e dura, mas ainda assim perturbadoramente familiar.
Em muitas comunidades africanas, o sucesso individual — sobretudo quando surge fora dos percursos tradicionais — é recebido com suspeita, inveja ou hostilidade, em vez de admiração. No caso do jovem queniano, os pais terão optado pela denúncia em vez do diálogo. Seja jogo online, apostas desportivas ou outra forma de rendimento digital, o medo das “fontes desconhecidas” sobrepôs-se ao reconhecimento da iniciativa.
O contexto ajuda a explicar o fenómeno. Em África, o emprego formal é escasso. Em vários países, o desemprego juvenil ultrapassa os 50%, segundo dados da União Africana. A má governação, a corrupção e sistemas educativos desajustados empurram milhões de jovens para soluções criativas: comércio informal, produção de conteúdos digitais, freelancing global, apostas online ou criptomoedas. Para muitos, estas actividades não representam luxo, mas sobrevivência.
Ainda assim, famílias e comunidades tendem a sufocar essa criatividade. O “dinheiro fácil” é associado a crime, feitiçaria ou imoralidade. Em Moçambique, não faltam exemplos: jovens que ganham rendimento com YouTube, TikTok ou vendas online são acusados de preguiça ou de terem “fontes duvidosas”. Em vez de aprender ou apoiar, prefere-se denunciar, boicotar ou destruir — como quem fura os pneus da bicicleta alheia.
É verdade que o tema divide opiniões. Denunciar um filho pode ser visto como acto de protecção, sobretudo quando o jogo se transforma em vício destrutivo. Mas, num cenário de colapso económico e falta de oportunidades, a linha entre cuidado e traição torna-se ténue. Teriam os pais medo do vício ou ressentimento perante um sucesso que eles próprios nunca alcançaram?
A solução passa por mudar o paradigma. As sociedades africanas precisam aprender a celebrar a inovação juvenil, promovendo educação financeira, regulação ética de actividades digitais e mentoria familiar. Governos devem investir seriamente em educação, acesso à internet e empreendedorismo. E as comunidades precisam trocar a suspeita pela inspiração.
Só assim sairemos do balde do caranguejo. O sucesso de um jovem não é ameaça — é sinal de que ainda há esperança. Em 2026, talvez seja tempo de aplaudir mais… e algemar menos.
gostei de ler
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