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AS CASAS DE COLMO: UM SÍMBOLO DE HERANÇA CULTURAL E SUSTENTABILIDADE EM ÁFRICA


Num mundo cada vez mais atento às questões ambientais e à preservação das identidades culturais, as casas tradicionais africanas com telhados de colmo surgem não como relíquias do passado, mas como modelos inspiradores de arquitectura sustentável e resiliente. Estas construções, feitas de barro e palha tecida à mão, representam séculos de sabedoria ancestral adaptada aos climas tropicais e às necessidades das comunidades. Em Moçambique, onde mais de 80 por cento das moradias rurais ainda recorrem à autoconstrução com materiais locais, estas casas não são apenas abrigos, mas expressões vivas de identidade e harmonia com a natureza. Porém, às vezes levantam-se questões de casos onde paira a dúvida, se se trata sobre pobreza ou cultura. 

Este artigo inspira-se numa visão impactante partilhada por Yator Boss, um africano que, além de romantizar o que chamam de pobreza, ele inova a formar de preservar o legado da ancestralidade antes de entrar em confronto com o advento das outras culturas. Aliás, sem subestimar a sua, encontro um ponto de equilíbrio absoluto que nos trás tranquilidade e harmonia na abordagem e concepção habitacional diante da civilização ocidental. 

Por outro lado, Yator é um entusiasta da arquitectura estrutural, que desafia a narrativa colonial ao afirmar: "Quando os brancos chegaram à África, disseram ao nosso povo que as casas de barro com telhados de colmo eram sinal de pobreza, mas eu discordo. Representam herança cultural, arquitectura sustentável e saber tradicional. É por isso que as cottages e resorts mais caros são com colmo!"

As imagens anexas acima, mostrando cabanas redondas e aconchegantes cercadas por vegetação exuberante, evocam precisamente essa beleza intemporal, convidando-nos a repensar o que significa "progresso". 

A Herança Colonial e o Esquecimento do Saber Ancestral

A chegada dos colonizadores europeus ao continente africano, especialmente durante o século XIX e início do XX, trouxe não só novas tecnologias, mas também uma visão etnocêntrica que desvalorizava as práticas locais. Em Moçambique, sob domínio português, o Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1974) promoveu casas "modernas" de cimento e zinco como símbolos de civilização, rotulando as estruturas de colmo como primitivas e associadas à pobreza.

Esta imposição ignorava o génio das comunidades indígenas, que construíam casas circulares ou ovais – conhecidas como machamba ou xilondelo nas regiões centrais e setentrionais – usando barro compactado para paredes espessas e colmo para telhados inclinados, garantindo ventilação natural e isolamento térmico.

 A exposição do Boss Yator nesse quesito, ressoa com esta crítica histórica, e os comentários positivos nas mesas de café e nas redes sociais, amplificam o debate. Por exemplo, cidadã como Roselyne Wanjirul, lamentam: "Eles tiveram de usar triliões para nos fazer odiar a nossa cultura e a nós mesmos...", destacando o custo psicológico da colonização cultural. Enquanto outros, como Dr. Rhoune Ochako (@RhouneOchako)I no X, enfatizam a ironia: "Os africanos, cientes do seu clima, construíam tradicionalmente casas com efeito de arrefecimento natural. É irónico que agora dependamos de ar condicionado, abandonando designs climáticos eficazes."

Estes testemunhos, com centenas de curtidas e partilhas, transformam o post num catalisador de orgulho colectivo, provando que a arquitectura vernacular não é passado, mas ferramenta para o futuro.

Vantagens Sustentáveis: Da Tradição à Inovação Ecológica

O que torna estas casas tão impactantes é a sua intrínseca sustentabilidade, alinhada com os objectivos globais de desenvolvimento. Os telhados de colmo, tecidos com ervas secas como o capim ou palha de milho, mapira ou mechoeira, oferecem isolamento superior: mantêm o interior fresco durante o dia (até 10-15°C mais baixo que o exterior em climas quentes) e retêm calor à noite, reduzindo a necessidade de energia eléctrica.

Em Moçambique, com o seu clima tropical húmido e estações de chuvas intensas, estas coberturas inclinadas facilitam o escoamento da água, prevenindo inundações, enquanto as paredes de taipa (barro misturado com palha) absorvem humidade excessiva, regulando a qualidade do ar interior.

Pesquisas recentes reforçam estes benefícios. Um estudo sobre arquitectura vernacular africana destaca que estruturas como as rondavels (cabanas circulares comuns em África Austral) usam fractais geométricos para optimizar ventilação cruzada, minimizando o consumo energético em até 70 por cento comparado a edifícios modernos.

Em Moçambique, projectos como as "Casas Melhoradas" em Maputo, desenvolvidos pela ONG Estamos em parceria com arquitectos dinamarqueses, integram técnicas tradicionais de colmo em habitações acessíveis, promovendo autoconstrução comunitária e reduzindo emissões de carbono.

Outro exemplo é o trabalho do premiado arquitecto burquinense Francis Kéré, que em Tete, Moçambique, projectou escolas e assentamentos com colmo e barro, combinando tradição com painéis solares para eficiência energética – um modelo elogiado pela Ordem dos Arquitectos de Moçambique como "justiça à arquitectura africana".

Esta é a prova inegável que Yator e apoiado sem reservas com comentários que coam esta visão ecológica. Boera Michael, por exemplo, nota que: "São energeticamente eficientes e têm bom isolamento contra temperaturas ambiente." Aliás, o autor desta teve uma experiência na infância, na província de Niassa, frequentou o ensino primário em salas de aulas feitas com blocos de massa de terra compactos, na melhor hipótese pois na pior, eram salas feitas à pau-a-pique: uma combinação de paus e bambos amarrados ou entrelaçados com cordas retiradas dos caules de arvores ou arbustos específicos. Assim como as salas de aulas eram cobertas de capim, tal eram as casas, palhotas e cabanas de onde os alunos vinham. 

Ao passo que num outro debate virtual, Mwiumbi, adiciona ainda mais quando se refere que: "Há eco-vilas na Europa inspiradas/copiadas da arquitectura das cabanas africanas – de primitivo a sustentável e amigo do ambiente."

Estes depoimentos, somados a mais de 600 curtidas no post original, mostram um movimento crescente: em África, o colmo não é custo, mas investimento em resiliência climática.

Impacto Cultural e Económico: Do Turismo à Resiliência Comunitária

Além da sustentabilidade, estas casas preservam a essência cultural moçambicana, onde etnias como os Tsonga e Makua tecem padrões simbólicos no colmo, representando fertilidade e protecção ancestral, como afirma o portal do turismo moçambicano, numa das suas exposições virtuais. 

Em regiões como Niassa ou Inhambane, comunidades usam estas estruturas em rituais e como espaços de convívio, fortalecendo laços sociais. Pese embora não sendo exactamente como Yator ilustra isso com fotos de resorts de luxo que adoptam o colmo para atrair turistas, gerando receitas que beneficiam artesãos locais – um ciclo virtuoso de preservação económica.

No mesmo diapasão, Ibrahim Marina comenta respondendo a nossa questão inicial, de forma indirecta: "Casas de barro e colmo não eram sinal de pobreza; erva, árvores e solo eram grátis. Precisavam do nosso esforço e dinheiro, daí a introdução de madeira, chapas de ferro e cimento." 

Esta perspectiva crítica revela como o colonialismo monetizou o que era abundante, mas hoje, projectos como o SURE-África (que inclui Moçambique) capacitam comunidades com ferramentas para habitações sustentáveis, fomentando empregos em construção vernacular.

Um Chamado à Acção: Redescobrir o Colmo para um Futuro Africano

A exposição de Yator Boss não é mero lamento; é um apelo vibrante à redescoberta. Como Damon Zumbroegel responde sustentando que: "Recordar quem somos... como povo, como cultura... é importante."

Em Moçambique, onde o aquecimento global ameaça com secas e inundações, integrar o colmo em políticas habitacionais – como a Estratégia Nacional de Habitação – pode transformar comunidades vulneráveis em modelos de adaptação.

Imagine vilas moçambicanas onde o colmo não é excepção turística, mas norma quotidiana: casas frescas, acessíveis e enraizadas na terra. Graças a vozes como a do Boss Yator e ao eco entusiástico dos seus seguidores, este sonho ganha contornos reais. É hora de abraçar o que os colonizadores chamaram de "pobreza" e transformá-lo em prosperidade sustentável. Afinal, como diria o autor original, o colmo não é passado – é o futuro que sempre tivemos à mão.


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