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"CRIANÇAS CRIADAS POR PAÍS TÊM MAIS SUCESSO OU É APENAS UM MITO SOCIAL?"

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Disciplina, afecto, recursos e responsabilidade parental para além dos estereótipos das redes sociais. Este artigo analisa criticamente a ideia de que filhos criados por pais solteiros são mais bem-sucedidos do que aqueles criados por mães solteiras . Com base em estudos sociológicos , dados africanos e exemplos contemporâneos, o texto demonstra que factores como estabilidade económica , envolvimento emocional , apoio social e responsabilidade parental são mais determinantes do que o género do progenitor. Uma reflexão necessária sobre paternidade , maternidade , desigualdade e responsabilidade colectiva . O que realmente molda o sucesso das crianças? Não há como negar: a seguir pode se ver a imagem que ilustra um pai negro, cheio de tatuagens, sentado na cama a actar sapatilhas à criança de pele clara, enquanto ela o observa com admiração, provoca uma reacção imediata. É uma cena terna, de dedicação paternal, mas que, num contexto mais amplo, expõe uma ferida aberta na comunidade...

A HERANÇA POLÍTICA COMO CAPITAL DE SUCESSO

Em Países Corruptos, Ser Filho de Rico – Especialmente Político – É o Verdadeiro Bilhete Dourado para o Sucesso

Numa publicação, que pode ter acesso através deste link:, revigorava discutir entre pais solteiros (pai ou mãe) qual dos dois vinham crianças promissoras. Enquanto uns parambulavam na escolha entre um e outro ou ambos juntos, que era melhor, houve um cidadão que preferiu expor uma realidade sabido, mas pouco reelevada em debates. Ele sugeria que nenhum dos dois ou ambos podiam determinar o sucesso das crianças, que quem tivesse um apelido de peso no país. Ou melhor, aquela criança que nascesse de um pais que ostentasse algum cargo político de alto relevo, tinha mais chances de ter sucessos na vida. 

Aparentemente não há como contornar a verdade crua: num país afogado em corrupção, como Moçambique ou tantos outros em África, o sucesso não vem do talento, do esforço ou da educação meritória – vem do apelido, das ligações familiares e do acesso privilegiado aos recursos públicos. O comentador acertou em cheio ao apontar que filhos de pais ricos, sobretudo políticos, têm uma vantagem esmagadora. Mas esta não é apenas uma "vantagem"; é um sistema perverso que perpetua elites, esmaga a mobilidade social e condena a maioria a uma pobreza cíclica. É o nepotismo institucionalizado que transforma o Estado num balcão de favores familiares.

Em Moçambique, a corrupção não é um desvio ocasional – é o motor da economia paralela. Estudos do Centro de Integridade Pública estimam que a corrupção drena bilhões de meticais anualmente, equivalentes a percentagens significativas do PIB, desviados para bolsos privados enquanto saúde, educação e infra-estruturas definharam. O escândalo das "dívidas ocultas" em 2016 expôs como elites políticas contraíram empréstimos bilionários em nome do Estado, beneficiando empresas ligadas a familiares e aliados. O resultado? Cortes drásticos em gastos sociais, aumento da pobreza e uma juventude desesperada sem oportunidades. Neste contexto, filhos de políticos ou empresários próximos do poder acessam contratos públicos, empregos estatais e financiamentos sem concorrência real. Nepotismo floresce: nomeações em cargos chave baseadas em laços familiares, não em competência.

Fora de Moçambique, o padrão repete-se em África. Em Angola, filhos de presidentes acumularam fortunas em sectores estratégicos como petróleo; na Libéria, a primeira presidenta africana enfrentou acusações de nepotismo ao colocar filhos em posições chave no banco central e na companhia nacional de petróleo. Estudos da Transparency International e do Banco Africano de Desenvolvimento mostram que países com altos índices de percepção de corrupção – como Moçambique, classificado em posições baixas no ranking global – apresentam mobilidade social reduzida. A riqueza parental, especialmente quando ligada ao poder político, actua como "seguro" contra riscos: acesso a escolas privadas, redes de influência e protecção legal.

Investigações académicas globais confirmam: em nações corruptas, a riqueza e conexões familiares superam a educação ou mérito no sucesso dos filhos. Um estudo da OCDE sobre mobilidade social em países em desenvolvimento revela que, onde a corrupção é endémica, são necessárias várias gerações para um pobre subir na escada social – em contraste com nações com instituições fortes, como Dinamarca ou Suécia, onde bastam duas ou três. Em contextos africanos, o legado colonial, combinado com corrupção pós-independência, cria oligarquias que controlam recursos naturais, perpetuando desigualdades. Filhos de elites políticas não só herdam riqueza, mas também impunidade: processos judiciais arrastam-se ou evaporam quando envolvem "os grandes".

Por outro lado, para equilibrar, nem toda vantagem parental é corrupta – em qualquer sociedade, pais com mais recursos investem em educação e saúde dos filhos, criando ciclos positivos. Estudos como os da Journal of Economic Inequality mostram que riqueza familiar facilita acesso a melhores escolas e redes, mesmo em países desenvolvidos. Mas num país corrupto, esta vantagem natural transforma-se em monopólio: o mérito é sufocado pelo clientelismo, e o talento de jovens pobres desperdiça-se em subempregos ou emigração forçada.

O impacto é devastador na mobilidade social. Em Moçambique, apesar de avanços na educação pós-guerra civil, a desigualdade persiste: filhos de elites urbanas dominam universidades e empregos qualificados, enquanto jovens rurais ou de famílias pobres enfrentam barreiras sistémicas. Relatórios da UNICEF e do Instituto de Estudos Sociais e Económicos destacam como corrupção agrava pobreza, limitando investimentos em capital humano. O consenso em estudos comparativos – do Pew Research ao World Bank – é claro: corrupção alta correlaciona com baixa mobilidade, maior desigualdade e crescimento económico anémico.

No fim, o comentador tem razão, mas o quadro é mais sombrio: esta "vantagem" não é só individual; é estrutural, minando o desenvolvimento nacional. Para quebrar o ciclo, precisamos de transparência real, justiça independente e políticas que priorizem mérito sobre ligações. Caso contrário, o sucesso continuará reservado aos filhos dos "ricos corruptos", e Moçambique – rico em recursos, pobre em oportunidades iguais – permanecerá preso na armadilha da desigualdade. É hora de exigir mais: não só provas, mas acção colectiva contra este sistema que rouba o futuro à maioria. Vale reflectir – e, acima de tudo, lutar por mudança.


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