Inovação Africana e a Batalha pelo Mercado Internacional

A recente criação de um braço protético robótico alimentado por inteligência artificial (IA) no Quénia trouxe à tona uma questão essencial: até que ponto os países africanos estão preparados para competir no mercado internacional da inovação tecnológica? David Gathu e Moses Kiuna, dois inventores autodidactas quenianos, desenvolveram essa tecnologia revolucionária utilizando apenas componentes electrónicos recuperados e sem nenhum financiamento externo. O que muitos doutores ou a gama geral do produto universitário não consegue desdobrar-se nesse sentido. 

O feito não só demonstra a criatividade e a resiliência da juventude africana, mas também expõe um problema estrutural: a falta de políticas que impulsionem invenções locais para além do entusiasmo inicial. Sempre apontamos a falta de incentivo e como é que as opiniões e observações dos intelectuais africanos, acomodados nos governos, impactam negativamente para o Desenvolvimento. Desde a formulação e a execução das políticas, que catapultariam as invenções e iniciativas criativas,  que resolvessem os problemas comuns das comunidades. 

A AfroGenesys, empresa fundada por Gathu e Kiuna, criou um braço robótico que capta sinais cerebrais através de um receptor de auriculares e traduz essas intenções em movimentos. Feito com materiais reciclados, o dispositivo representa um avanço na acessibilidade para amputados, além de abordar a problemática do lixo electrónico. Algo semelhante ao que Elon Musk está trilhando com envolvimento de somas avultados de dólares e uma legião de especialistas em áreas afins faz anos.

Apesar de seu impacto potencial, o projecto enfrenta dificuldades comuns a muitas inovações africanas: escassez de financiamento, limitações de acesso a materiais avançados e falta de um ecossistema de suporte robusto. Quase as mesmas dificuldades que o Zimbabueano Maxwell Sangulani Chikumbutso enfrenta no seu projecto de energia livre.

O caso de Gathu e Kiuna não é isolado. Em vários países africanos, inventores e startups desafiam a narrativa de que a inovação é monopólio do Ocidente e da Ásia, algo dado como realidade pelos dirigentes e governantes, especificamente dos partidos libertadores. No entanto, poucos conseguem transformar suas descobertas em produtos comercializáveis a nível global. O obstáculo raramente é a falta de talento – mas sim a ausência de políticas visionárias que criem um ambiente propício à inovação. Não temos governos rebeldes além de um conjunto de olheiros do Ocidente, que supostamente garantem que não haja nenhum cidadão pensando fora da caixa para contrariar os factos. 

A concorrência no mercado internacional de tecnologia exige mais do que ideias brilhantes. Requer infra-estrutura, investimento contínuo e uma estratégia estatal que compreenda a inovação como uma ferramenta de desenvolvimento nacional. Países que hoje dominam a indústria tecnológica, como os Estados Unidos, a China e a Coreia do Sul, possuem governos que incentivam activamente a pesquisa e garantem que o conhecimento gerado seja convertido em vantagem económica. Em África, essa visão ainda é incipiente.

Os inventores da AfroGenesys sonham em transformar sua empresa numa referência em robótica não invasiva no continente. Mas, como muitos outros talentos africanos, estão diante da escolha entre lutar contra um sistema que lhes oferece pouco ou procurar oportunidades no exterior. A questão que se impõe é se os líderes africanos têm interesse e capacidade para construir um futuro onde inovações como essa não sejam apenas motivo de orgulho passageiro, mas motores reais de desenvolvimento económico e social.

Até lá, a cabra pode voar!

Comentários

  1. Que maravilha. Eu sempre soube que África é um continente, repleto de génios e de pesquisadores competentes.
    O que nos falta na verdade são as condições financeiras ou económicas.
    Seria uma grande conquista se oas instituições de ensino, ensinassem a transformar os conhecimentos teóricos em práticas...
    Meus parabéns irmãos pela conquista

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