UM INSIGHT SOBRE O TERRORISMO EM CABO DELGADO.

Por: Lino Isabel Mucuebo TEBULO
linoisabelmucuebo@gmail.com 

Circulam imagens sobre as actividades diárias dos insurgentes nas redes sociais, neste período em que a comunidade muçulmana observa o Ramadã, indo contra aos interesses do governo e de outros simples cidadãos, bem como instituições unânimes ao desafio de não partilhar e cooperar na promoção e proliferação da sua propaganda.

Uma vez que, a situação em Cabo Delegado, província setentrional de Moçambique, tem sido uma fonte de preocupação e instabilidade no país nos últimos anos. O conflito nesta região, alimentado pela insurgência de grupos armados, tem causado um impacto profundo não só na população local, mas também nas perspectivas de desenvolvimento e segurança nacional.

Desde 2017, a violência perpetrada pelo grupo extremista Al-Sunna wa Jama'a (ASWJ), também conhecido como Al-Shabab, tem deixado um rastro de destruição e sofrimento. Ataques a vilas e cidades, assassinatos, decapitações e deslocações forçadas têm sido uma realidade trágica para os residentes de Cabo Delgado (Morier-Genoud, 2020).

As consequências desta insurgência são profundas e multifacetadas, superando qualquer imaginação. Em primeiro lugar, o impacto humanitário tem sido devastador. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM, 2022), mais de 800 mil pessoas foram deslocadas internamente, fugindo da violência e procurando refúgio em áreas mais seguras de Cabo Delgado ou em províncias vizinhas. 

Esta situação tem exacerbado a já precária condição de vida destas populações, com falta de acesso a alimentos, água potável, abrigo e cuidados de saúde adequados. Profundamente angustiante o quotidiano das famílias e populações afectadas, vítimas do terrorismo. 

Em segundo lugar, a instabilidade em Cabo Delgado tem prejudicado significativamente o desenvolvimento económico da região e do país como um todo. A indústria de gás natural liquefeito, que seria um dos principais motores de crescimento económico em Moçambique, tem sido directamente afectada pelos ataques.

Projectos de investimento bilionários foram suspensos ou atrasados, comprometendo a criação de empregos e a entrada de receitas fiscais tão necessárias (Barca et al., 2021). Ainda que haja suspeitas de até então, 2024, haver operações clandestinas na exploração do gás, mas muitas empresas já declaram abertamente ou secretamente a paralisação das suas actividades dentro do empreendimento. 

Além disso, a crise tem implicações para a segurança nacional e regional. O conflito em Cabo Delgado tem sido alimentado por uma complexa teia de factores, incluindo a pobreza, a marginalização, o recrutamento de jovens desempregados pelos grupos insurgentes e alegadas ligações a redes terroristas internacionais (Habibe et al., 2019). 

Isto representa uma ameaça não só para Moçambique, mas também para os países vizinhos, como a Tanzânia, que já testemunhou ataques transfronteiriços; A África do Sul, o Zimbabué é o Malawi que tem enfrentado situações de imigrantes Ilegais vindo dos grandes lagos, de onde se super entende que provenham parte dos integrantes da massa dos insurgentes. 

Em resposta à crescente insegurança, o governo moçambicano tem intensificado os esforços militares, com o apoio de forças estrangeiras, como as tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Ruanda. No entanto, a abordagem puramente militar tem sido criticada por não abordar as causas profundas do conflito (Morier-Genoud, 2020).

A ser assim, para uma resolução duradoura, é fundamental adoptar uma abordagem holística que combine medidas de segurança com iniciativas de desenvolvimento socioeconómico e diálogo político. Algo que se mostra ser um fracasso pela dependência que o governo tem em operacionalizar algumas iniciativas nesse sentido e, às vezes, pela aparente falta de compromisso para com a causa. 

Pois, se houvesse tanta vontade, um dos indícios seria a massificação de acções que mostrassem sinergias em investir na educação, na criação de oportunidades de emprego para os jovens, no fortalecimento das instituições e na promoção da coesão social é crucial para mitigar os factores que alimentam o recrutamento pelos grupos insurgentes (Barca et al., 2021).

Em suma, a situação em Cabo Delgado é um desafio complexo que requer uma resposta multifacetada e sustentada, se não sofisticada. Porque suas consequências transcendem as fronteiras desta província, ameaçando minar o progresso e a estabilidade de Moçambique como um todo. A título de exemplo são as especulações de se alastrar até ao interior da província de Nampula. 

Opiniões apontam que somente por meio de uma abordagem abrangente, que combine segurança, desenvolvimento e diálogo, será possível superar este conflito e restaurar a paz e a prosperidade nesta região tão importante do país. Pois, há vezes em que as incursões dos insurgentes são sustentadas e acobertadas por populações e indivíduos que deviam logo a priori cooperar na denúncia. 

Referências:

  • Barca, V., Morier-Genoud, E., Patey, L., & Travão, N. (2021). The revolution's
  • Mustard Seed: Islamist Movements and Dynamics of Intra-Muslim Competition in Southern Tanzania and Northern Mozambique. African Studies Review, 64(2), 248-280.
  • Habibe, S., Forquilha, S., & Nevill, J. (2019).
  • Radicalização Islâmica na África Austral. Instituto Superior de Estudos de Defesa Ezequiel Mochuene.
  • Morier-Genoud, E. (2020). The jihadi insurgency in Mozambique: origins, nature and beginning. Journal of Northeast African Studies, 20(3), 1-28.
  • Organização Internacional para as Migrações (OIM). (2022). Moçambique - Crise de Deslocados em Cabo Delgado. https://displacement.iom.int/Mozambique.

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