As Tranças Cornrows: Um Símbolo de Resistência e Liberdade

A história das cornrows (trancinhas) como o legado da resistência e dicas de escape à escravatura .

No passado, "em cada trança, um caminho para a liberdade era tecido"!

As tranças cornrows, como vi sendo denominadas, o qual na minha província ouvia se chamando por "mirrabas" ou simplesmente trancinhas, em todos casos, é um estilo de cabelo tradicional amplamente reconhecido em várias culturas africanas e da diáspora, carregam uma história profunda que vai além da estética. Segundo um post publicado pela African Hub no X, estas tranças desempenharam um papel crucial durante o período da escravatura, servindo como uma ferramenta ingeniosa de comunicação e sobrevivência para os povos escravizados. 

Este artigo explora essa narrativa, trazendo à tona uma história de resiliência e luta pela liberdade. Por outro lado, fica expressa a nossa vénia à inteligência afro feminina nessas linhas que seguem, pela ousadia, inteligência e sabedoria mesmo na condição submissa aos seus valentes homens, chefes de família que elas cuidam, incondicionalmente. 

Trancinhas/Cornrows/Mirrabas como Mapas e Mensagens Codificadas

De acordo com a African Hub, as tranças cornrows, além de sensuais para os de bom gosto no olhar, foram usadas por pessoas escravizadas como um meio de transmitir informações e criar mapas que as guiassem rumo à liberdade, particularmente em direcção ao norte. Num contexto em que os escravizados eram proibidos de ler ou escrever, este método visual e táctil tornou-se uma forma secreta de comunicação. O post destaca que a origem desta prática remonta ao final do século XVI, em Cartagena, na actual Colômbia, onde Benkos Bioho, um líder revolucionário, teria idealizado a técnica. Bioho, que escapou da escravatura e fundou uma comunidade de resistência chamada San Basilio de Palenque, teria incentivado as mulheres a entrelaçar mapas e mensagens nas tranças.

Os estilos das tranças tinham significados específicos. Por exemplo, tranças curvas, bem apertadas contra o couro cabeludo, representavam as estradas sinuosas que os fugitivos deveriam seguir para escapar. Esta codificação visual era subtil o suficiente para não levantar suspeitas aos olhos dos escravocratas, que viam as tranças apenas como um penteado comum.

Sementes e Ouro: Recursos para a Sobrevivência

Além de servirem como mapas, as cornrows também eram usadas para esconder objectos vitais. Os escravizados guardavam sementes e ouro nas tranças, recursos que garantiam sua subsistência após a fuga. As sementes, cuidadosamente entrelaçadas no cabelo, eram posteriormente plantadas para cultivar alimentos nas terras onde se estabeleciam como livres. O ouro, por sua vez, poderia ser usado como moeda ou troca, ajudando-os a reconstruir suas vidas. Este uso multifuncional das tranças demonstra a engenhosidade dos povos escravizados em transformar algo quotidiano numa ferramenta de resistência.

“Canerows” e o Contexto dos Campos de Cana-de-Açúcar

O termo “canerows” (derivado de “cane rows”, ou fileiras de cana), mencionado no post, conecta as tranças ao trabalho forçado nos campos de cana-de-açúcar. Este nome não apenas reflecte o ambiente em que muitos escravizados viviam, mas também simboliza a forma como adaptaram elementos do seu dia-a-dia para lutar pela liberdade. A simplicidade do penteado, que não requeria ferramentas complexas nem despertava atenção, tornava-o ideal para passar despercebido aos olhos dos capatazes e senhores de escravos.

Comentários que Reforçam a Narrativa

A publicação gerou várias reacções e comentários que enriquecem esta história. Um utilizador destacou: “É incrível como os nossos antepassados encontraram maneiras de resistir mesmo nas piores condições. As tranças eram mais do que estilo, eram sobrevivência.” Outro comentário reforçou a ligação histórica, afirmando: “Benkos Bioho foi um génio. San Basilio de Palenque ainda existe hoje como prova viva dessa resistência.” Estes testemunhos mostram como a narrativa das cornrows ressoa profundamente na memória colectiva, sendo vista como um legado de luta e criatividade.

Um Legado de Resistência

As tranças cornrows, portanto, não eram apenas um penteado, mas um acto de desafio e esperança. A sua utilização como mapas, mensagens e esconderijos de recursos essenciais ilustra a capacidade dos povos escravizados de transformar o pouco que tinham em instrumentos de libertação. Originada possivelmente na Colômbia com Benkos Bioho, esta prática espalhou-se por outras regiões das Américas, tornando-se um símbolo duradouro de resistência cultural.

Hoje, ao trançarmos o cabelo em cornrows, carregamos sem saber os ecos dessa história. É um lembrete de que a cultura africana, mesmo sob opressão, encontrou formas de florescer e abrir caminhos para a liberdade. Como Moçambicanos, que também partilhamos um passado de luta contra a colonização e a escravatura, podemos olhar para as cornrows como mais um exemplo da força e engenho dos nossos irmãos e irmãs da diáspora.

Enfim, achamos que a história das cornrows/mirrabas como ferramenta de escape é um testemunho poderoso da resiliência humana e merece ser contada e recontada.



Comentários

  1. Obrigado pela aula meu caro.... continue assim, os seus artigos são muito ricos...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário