Sementes de Mamona como Contraceptivo

Será Mito ou Realidade? Informações, Preparação e Cuidados Essenciais

Introdução

A mamona (Ricinus communis) é uma planta amplamente encontrada em regiões tropicais e subtropicais, incluindo Moçambique. Seu óleo, conhecido como óleo de rícino, tem diversos usos medicinais e industriais, mas suas sementes também contêm uma substância altamente tóxica chamada ricina. 

Apesar de sua toxicidade, há relatos históricos de que algumas comunidades africanas utilizam as sementes de mamona como método tradicional de contracepção. Recentemente, uma publicação na plataforma X, feita por Chief Herbalist (@chiefherbalist), afirmou que “as sementes de mamona sem a casca podem servir como contraceptivo feminino por até 9 meses”.

Diante dessas alegações, este artigo explora a base histórica e científica desse uso, os métodos tradicionais de preparação e consumo, além dos riscos associados, especialmente no contexto moçambicano.

Mamona e o Uso Tradicional como Contraceptivo

O uso das sementes de mamona para contracepção não é uma novidade. Em comunidades da Nigéria, como entre as mulheres Rukuba do estado de Plateau, há relatos de que a mastigação de 2 a 3 sementes garantiria protecção contra a gravidez por cerca de um ano. Estudos experimentais em animais indicam que extractos das sementes podem inibir a ovulação ou dificultar a implantação do embrião.

Por exemplo, um estudo publicado no International Journal of Pharmacognosy (1997) mostrou que coelhas tratadas com extracto de sementes de mamona apresentaram uma redução significativa na taxa de gravidez, com efeitos reversíveis após a interrupção do uso. 

No entanto, não existem estudos clínicos robustos que confirmem essa eficácia em humanos. Organizações de saúde, como a OMS, não reconhecem a mamona como um método contraceptivo seguro ou recomendado.

Preparação e Consumo das Sementes

A preparação das sementes de mamona para esse suposto uso contraceptivo segue práticas tradicionais que envolvem:

Colheita e selecção: As sementes devem ser retiradas de plantas maduras. Em Moçambique, a mamona cresce espontaneamente em áreas rurais e terrenos baldios.

Remoção da casca: A casca contém ricina, um veneno letal. A sua remoção deve ser feita com extremo cuidado, pois mesmo pequenas quantidades podem ser fatais.

Métodos de consumo:

Algumas tradições recomendam engolir a parte interna da semente sem mastigar, para evitar a liberação de toxinas residuais.

Outras práticas envolvem torrar ou ferver as sementes para reduzir a toxicidade, mas não há comprovação científica de que esse processo as torne seguras.

A quantidade recomendada varia conforme os relatos: algumas fontes sugerem que uma única semente garantiria contracepção por até um ano, enquanto outras mencionam a necessidade de doses regulares.

Efeitos e Riscos Relatados

Embora haja indícios experimentais de que componentes da mamona possam ter efeito contraceptivo, a sua toxicidade representa um risco grave.

Toxicidade da ricina: A ingestão de apenas 1 a 6 sementes inteiras pode ser letal para um adulto. Mesmo sem a casca, a presença de toxinas pode causar efeitos adversos.

Efeitos secundários: Algumas pesquisas indicam que o consumo de sementes sem casca pode provocar diarreia, perda de peso e dores abdominais.

Falta de regulação: Diferente de contraceptivos modernos, as sementes de mamona não são testadas ou aprovadas por entidades de saúde, tornando sua eficácia e segurança imprevisíveis.

Riscos para mulheres grávidas e lactantes: O consumo pode induzir abortos espontâneos ou afetar o bebé durante a amamentação.

Contexto em Moçambique

Em Moçambique, a medicina tradicional desempenha um papel importante no acesso à saúde, especialmente em áreas rurais. A mamona é conhecida principalmente pelo seu óleo medicinal, sendo pouco documentado o seu uso como contraceptivo. 

No entanto, considerando os riscos da ricina e a falta de evidências científicas sólidas, recomenda-se cautela extrema ao considerar o uso das sementes para esse fim. Métodos modernos, como preservativos, implantes e pílulas anticoncepcionais, são oferecidos gratuitamente em centros de saúde e possuem eficácia comprovada.

Outros usos da planta

Na infância, os frutos ainda verdes, crianças nas zonas rurais arancam das árvores e praticam arremessos uns contra outros, num cenário de guerra. Enquanto do outro lado as miúdas e adolescentes ou raparigas, pegam nas sementes, toram-nas e depois de esmaga-las, surge uma espécie de óleo que usam para lubrificar a vagina, facilitando assim puxar os lábios grandes.

Há relatos também que folhas do rícino, ainda verdes, são boas para fazer pastos para menores dores de luxação, entorses e mesmo depois de retirar gesso. Aliviam significativamente as dores nas articulações, também, quando aquecidas junto ao fogo e pressionadas de imediato à parte dolorida em forma de massagem. 

Conclusão

A utilização das sementes de mamona como contraceptivo é uma prática que carece de comprovação científica e apresenta riscos significativos para a saúde. Embora relatos tradicionais sugiram sua eficácia, a toxicidade da planta e a ausência de regulamentação tornam essa opção perigosa. Em Moçambique, onde a mamona é abundante, é fundamental buscar alternativas contraceptivas seguras e validadas cientificamente, garantindo a protecção da saúde reprodutiva da mulher.

Nota: Esta publicação é uma sugestão como um ponto de partida sólido para pesquisas mais aprofundadas sobre o tema.

Ricinus communis


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