A Verdade por Trás das Diferenças nos Aparelhos Electrónicos

Será que "Os Africanos" Recebem Tecnologias Inferiores?

Muitos africanos já se depararam com dicas e truques sobre funcionalidades “secretas” de aparelhos electrónicos compartilhadas em redes sociais, principalmente em perfis brasileiros, europeus ou norte-americanos. Mas, ao tentar replicá-las, percebem que essas opções simplesmente não aparecem nos seus dispositivos. Isso levanta uma dúvida intrigante: será que os aparelhos vendidos em África são diferentes? Existe uma configuração específica para a região ou será que apenas recebemos versões inferiores e réplicas enquanto os produtos originais são reservados para outros continentes?

A resposta não é simples e envolve múltiplos factores, que dos quais nos prediapusemos ir atrás e trazer próximo aos que tem tido a paciência e coragem de nos seguir ou acessar o nosso blogue. Pois, as respostas se centram desde decisões comerciais e políticas das grandes empresas tecnológicas até aspectos regulatórios e económicos que influenciam a forma como a tecnologia chega a África.

Uma das principais razões para essas diferenças está na configuração regional dos dispositivos. Muitas funcionalidades são activadas ou desactivadas dependendo do país onde o aparelho é vendido. Isso pode acontecer por diversas razões, como: 

  • Regras de telecomunicações específicas;
  • Acordos comerciais entre empresas e governos;
  •  ou até mesmo decisões estratégicas das marcas sobre quais funcionalidades disponibilizar para cada mercado. 

Um exemplo disso são os serviços como Apple Pay ou Google Pay, que demoram ou nunca chegam a certos países africanos porque dependem de parcerias bancárias locais que nem sempre são estabelecidas.

Além das limitações de software, há também diferenças em hardware. Muitas marcas lançam versões dos seus produtos especificamente para o mercado africano, que podem ter especificações mais modestas para reduzir custos. Isso não significa necessariamente que sejam réplicas ou falsificações, mas sim que as empresas consideram o poder de compra local ao decidir quais modelos disponibilizar. 

Por vezes, aparelhos lançados em África vêm com processadores mais fracos do que os mesmos modelos vendidos nos Estados Unidos ou na Europa. Um exemplo clássico é a Samsung, que já vendeu smartphones na África e na Índia com processadores Exynos, enquanto as versões para o mercado americano vinham com os mais potentes Snapdragon.

Outro ponto que contribui para a sensação de inferioridade tecnológica em África é o atraso no acesso a actualizações e novos serviços. Empresas como Google, Apple e Microsoft normalmente priorizam mercados considerados mais lucrativos, fazendo com que novos recursos sejam lançados primeiro em países da América do Norte, Europa e Ásia, enquanto África muitas vezes fica para trás. Isso pode ser observado, por exemplo, na monetização do YouTube, que demorou a chegar a vários países africanos e ainda tem restrições para criadores de conteúdo da região.

Para além das diferenças impostas pelas próprias fabricantes, há também a questão do mercado paralelo. Em muitos países africanos, a falta de fiscalização rigorosa faz com que réplicas e modelos recondicionados sejam vendidos como se fossem novos e originais. Muitas pessoas compram dispositivos importados de forma não oficial, vindos de mercados como a China ou a Índia, sem saber que esses modelos podem ter configurações específicas que os tornam diferentes dos aparelhos destinados ao mercado africano. Por exemplo, certos telemóveis da Xiaomi comprados directamente da China podem vir sem serviços da Google activados, o que limita suas funcionalidades.

Desafios

Diante de tudo isso, a questão central não é simplesmente se os africanos recebem produtos inferiores, mas sim que a forma como as grandes empresas configuram e distribuem seus produtos é influenciada por factores económicos e políticos. Nem sempre é uma questão de discriminação, mas sim de segmentação de mercado. No entanto, esse modelo de distribuição reforça desigualdades, pois impede que os africanos tenham acesso às mesmas experiências tecnológicas que outros consumidores ao redor do mundo.

Soluções

Se o objectivo for garantir o acesso a aparelhos com todas as funcionalidades disponíveis, uma alternativa é procurar dispositivos importados oficialmente de regiões onde as versões são completas. Contudo, essa opção nem sempre é viável devido aos custos elevados e às taxas alfandegárias. No fim das contas, a luta por um acesso tecnológico mais justo e igualitário também passa pela necessidade de os consumidores africanos exigirem melhores condições e pressionarem empresas e governos para uma distribuição mais equitativa dos avanços tecnológicos.


Por: Paulino INTEPO
Maputo, Moçambique.

Comentários

  1. Já notei até em aplicativos de smartv. Pensei q fosse preconceito

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