Moçambique é só Maputo, mesmo!?

Rescaldo da 3ª semana de Janeiro de 2023.


Por: Crontch Briston

Terminou mais uma semana, a terceira do difícil mês de Janeiro de 2023, infelizmente com boas e más notícias para o humilde e passivo povo moçambicano. Desde a polémica e fomentada reforma salarial que de aumento histórico passou para uniformização e finalmente o assunto parece ter desfecho em redução salarial, para efeitos achados convenientes, até à histórica victória dos mambas e apuramento para fase seguinte, devido à derrota da Etiópia. (risos)

Houve muito que aconteceu e deixou muitos irrequietos, mas passivamente magoados, como é o caso de eclosão da cólera pelo nossa baixa qualidade de vida; acidentes de viação que é por má qualidade das estradas, mas não se pode falar nem apontar os culpados, aos problemas de corrupção e má conduta dos dirigentes, bem como a má actuação de algumas autoridades e entidades à margem da lei. Uma vez que em Moçambique a justiça é um instrumento ao serviço das elites e dos endinheirados. 

Já ia me esquecendo da viagem da S.Excia PR ao Qatar, lá onde aquele problema das dívidas teve escala. Claro, houveram tantos outros acontecimentos sem deixar de fora as nomeações e exonerações de algumas entidades. Mas, como dizem os meus mais próximos, é por falar dessas questões que o meu progresso a nível profissional fica comprometido. Já que às vezes, de certa forma podem estar a mexer com certas sensibilidades ou simplesmente, devia deixar estar, covardemente.

©Cortesia da TVM

Prontos, o que não tenho até então ou não mereço ou devo ser grato porque não é fácil dar-se o tempo de realizar algum sonho: num país onde pela realidade do ponto de vista de desenvolvimento, não faz sentido haver escolas que usem a casa do director como secretária e sombra de árvores como salas de aulas, e, haja algum cidadão com uma viatura em que o valor da aquisição (através dos cofres dos Estado) corresponda ao valor necessário para construir quatro ou seis salas de aulas básicas e aliviar o pesadelo de milhões dos seus conterrâneos, segundo as estimativas de um engenheiro de construção civil residente no Maputo: Carlos Hilário

Sendo sensível e doloroso esse assunto, não me vou alongar tanto quanto para os outros assuntos. Mas eu gosto de escrever, pois presto atenção à minha vida e cuido dela. Só que alguns elementos externos aliados a minha vontade, perturbam os meus planos e isso sinto que acontece no seio de pelo menos 25 milhões de moçambicanos. Caso das promessas feitas, mentiras e propaganda de ilusão de crescimento económico pela exploração dos recursos existentes ou descobertos, em que a gestão é um desastre total e vergonhoso.

Excepto uma milésima parte dos moçambicanos, os tais abençoados que pelas posições que ocupam no Estado e no governo, se beneficiam de regalias e prémios nas comissões e (…) mas as suas más decisões e falta de boa conduta, honestidade e verdadeiro patriotismo no desempenho das suas funções, lesam a maioria dos moçambicanos. É desgastante pensar nisso e recomenda-se que se leve a vida sem se preocupar com a política. Que é uma armadilha ao exercício da cidadania se em algum momento tornar-se eleitor. 

O Ponto de Indignação: Moçambique é só Maputo!? 

Mas o que me trás a este espaço para explorar esta oportunidade é o facto de alguns canais de informação, principalmente os sediados no Maputo, terem vinculado a informação nos seus órgãos de comunicação referente a onda de calor, sentido na terceira semana de Fevereiro deste ano, nos níveis que dos quais em algumas cidades deste país são temperaturas normais (Cidades de Tete, Nampula, Cuamba, Pemba, Beira, etc).

©Cortesia STV

Só por Maputo ter passado por intervalos de temperatura na ordem dos 30ºC e nem chegou aos 40ºC, foi o motivo de vermos manchetes vezes e vezes. Até reportagens bem demoradas e claramente, com um alarmismo melancólico que para os outros cidadãos moçambicanos fora de Maputo, ficaram perplexos. A minha indignação foi mais além quando até vi orientações personalizadas de algumas entidades e instituições sobre quais as recomendações a seguir nesta situação. 

Vivo em Tete há alguns anos, nunca vi algo igual ou alguma instituição ou entidade, órgão de comunicação social algum a falar sobre recomendações de gestão para situações do género. Mas como aconteceu no Maputo, fomos sujeitos a ouvir por mais de 48 horas notícias sobre esse tal de "calor intenso". Aí sim, cheguei a conclusão que se algo de errado acontecer no Maputo, haverá alarmismo, mas se for noutros locais não faz diferença. Como se os moçambicanos de verdade estivessem no Maputo, apenas. 

Enfim, ainda o INAM vem a dizer que é "provável" que passe algum ciclone. Mas não sabe exactamente quando, apenas diz que "a qualquer momento". Sinceramente, é complicado ser moçambicano em Moçambique e pior ainda quando não vives no Maputo. Não é por acaso que a ideia de descentralização pareça o começo de uma possível Terceira Guerra Mundial, que o Ocidente e seus aliados hesitam em declarar com todas evidências patentes.

Então, se as cidades de Tete, Pemba, Quelimane, Xai-Xai, etc as temperaturas baixam entre 26ºC de Máxima e 12°C de mínima não é problema para os órgãos de comunicação, nem para o conhecimento dos outros moçambicanos. 

Mas se for no Maputo qualquer alteração drástica, aí todos devemos saber por reportagens em separado na hora da antena e páginas, enquanto nos outros cantos se mantém indiferente, se não pela comunicação normal reservada ao tempo! Haja tratamento por igual, camaradas. 

Opinião Pessoal 

Por tanto, nem tudo está mal cá na Pérola do Índico, ainda temos acesso às redes sociais, a televisão, as rádios e as igrejas abertas para alimentar a nossa esperança, buscar conforto, renovar desejos, vontades e sonhos, bem como para os que não estão e nem são de Maputo se sintam isolados ou esquecidos.

Mas uma coisa é séria e certa, abertura das redes sociais, igrejas ou mesquitas e tantos canais disponíveis que nos trazem novidades e nos relaxam, é um perigo a nossa Identidade, atentado ao nosso foco e prisão às nossas mentes. Além de que são as armas usadas para ridicularizar e marginalizar o nosso potencial discretamente.

Queiramos ou não, principalmente as redes sociais e meios de comunicação social, actualmente, tem a estrita função de nos distrair para não se preocupar com coisas importantes que nos libertariam do jugo dos políticos, dívidas dos bancos e outras desgraças. Assim como tive que interromper a leitura de duas obras em simultâneo, para comentar este assunto de "vaga de calor na cidade de Maputo", vinculado pelos órgãos de comunicação enquanto deviam ter ido cavar matérias importantes escondidas nos gabinetes da Július Nyerere

Olha para quem gastou a carga e energia só a ouvir que a temperatura no Maputo ronda aos 36ºC e as pessoas abarrotaram a praia do Costa do Sol, foi um desperdício à dobrar e para piorar foi rolar de baixo para cima e de cima para baixo as plataformas das redes sociais dos bilionários que se beneficiam pela tal distração que nós é disponibilizada. Enquanto devíamos saber sobre a profundidade dos desabafos que o antigo PR deixou no seu discurso dos 80 anos, depois de uma esplêndida mensagem do actual PR.

Muita coisa passa desaparecida quando focamos a nossa atenção nos nossos pequenos ecrãs, ainda que caros e valiosos, nos fazem perder muita coisa. Já nem digo as televisões, segundo como acautelam vários críticos que além dos benefícios, conseguiram apurar os constrangimentos, impactos negativos e desvantagens ao ficarmos grudados à esses aparelhos, que é o caso do renomado Cal Newport, um dos apologistas dessa matéria.

Sem mais por enquanto, obrigado pela atenção e votos de óptima semana laboral com o máximo de minimalismo digital, se não for um meio de sustento.

Maputo, 23 de Janeiro de 2023.



Comentários

  1. Obrigado pela partilha da sua sensibilidade. Para isso mudar, passa necessariamente pela mudança de mentalidade de todos nós. Aliás, não se pode mudar nada, enquanto a mente estiver estagnada.

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    1. Com certeza. Mas com tudo, podemos começar a fazer o pouco e com tempo iremos melhor bastante. Desde que comecemos por algum ponto

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