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A VIAGEM À TANZÂNIA QUE PODE ENTERRAR AS CHANCES DO HICHILEMA EM 2026
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Será o Precipício do Hakainde Hichilema, PR da Zâmbia por participar no empossamento da Samia Suluhu Hassan, na Tanzânia?
Em 8 de novembro de 2025, as ruas de Chingola, na província do Cobre, transformaram-se num palco de fúria popular que soou como um veredicto antecipado contra o presidente zambiano, Hakainde Hichilema. Enquanto discursava sobre o incêndio no mercado de Chiwempala e os desafios do sector mineiro — pilares da economia nacional que, sob a sua gestão, mergulharam em dívidas e desemprego crónico —, uma multidão enfurecida lançou pedras contra a sua comitiva. Um veículo policial foi incendiado, tendas presidenciais destruídas e a ordem só foi restabelecida após tiros de advertência e várias detenções.
Esse episódio não foi um incidente isolado. Representou o sintoma agudo de uma erosão profunda da legitimidade política de Hichilema, agravada por uma recente decisão diplomática que beira o suicídio político: a sua presença na posse da presidente tanzaniana Samia Suluhu Hassan, em meio a eleições contestadas e marcada por repressão sangrenta na vizinha Tanzânia.
Hichilema, que chegou ao poder em 2021 como o reformador carismático que derrotou o autoritarismo de Edgar Lungu, viajou a Dar es Salaam em 3 de novembro de 2025 para assistir à cerimónia de reeleição de Suluhu — um pleito denunciado por observadores como fraudulento e violento. No seu discurso, o presidente zambiano, outrora vítima de prisões e perseguições políticas, apelou à “paz, ao diálogo e à estabilidade” na Tanzânia. À primeira vista, a mensagem parecia nobre; no entanto, o contexto regional revelou uma hipocrisia desconcertante.
Como pode o mesmo Hichilema que em 2021 mobilizou solidariedade internacional contra fraudes eleitorais agora endossar, ainda que tacitamente, um processo tão semelhante? A sua presença na posse foi interpretada não como gesto de mediação, mas como selo de aprovação a um regime acusado de massacrar opositores — com dezenas de mortos e milhares de detidos após o pleito. Um posicionamento que um dos mais sonantes a repudiar foi o PR do Botsuana - Duma Boko, que mais uma vez ganhou aceitação discretamente por não só não participar do empossamento, mas também não dirigir alguma mensagem e apelando pela observação dos direitos humanos.
Nas redes sociais zambianas, a expressão “a postura sobre a Tanzânia” tornou-se viral, simbolizando o descontentamento crescente contra Hichilema. E com as eleições gerais marcadas para 13 de agosto de 2026, o panorama político parece cada vez mais sombrio.
Pesquisadores como o historiador Sishuwa Sishuwa já preveem uma derrota iminente, salvo se o presidente recorrer a expedientes autoritários para se manter no poder. Entre os sinais dessa deriva estão a inelegibilidade de Edgar Lungu, decretada pelo Tribunal Constitucional em dezembro de 2024; a suspensão de juízes críticos sob alegações duvidosas; e o uso abusivo das leis cibernéticas para silenciar vozes dissidentes — tudo em nome da “segurança nacional”.
Mesmo assim, as manobras parecem insuficientes. Os apoios forçados de pequenas facções da oposição, como o Movimento para a Democracia Multipartidária (MMD), não mascaram a solidão política do presidente. Enquanto isso, Lungu tenta reorganizar as forças opositoras, sondando figuras independentes e da sociedade civil para uma frente unida.
O incidente de Chingola expôs, sobretudo, as fissuras económicas que corroem o legado de Hichilema. Eleito com promessas de revitalizar a mineração de cobre — responsável por 70% das exportações nacionais —, o seu governo acumulou uma dívida externa de 13 mil milhões de dólares, agravada por secas severas e inflação descontrolada. O incêndio no mercado de Chiwempala, que destruiu centenas de barracas de pequenos comerciantes, tornou-se símbolo desse fracasso: enquanto as elites ligadas ao Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional (UPND) enriquecem com concessões mineiras, o povo comum afunda na pobreza.
A pedra lançada em Chingola não foi apenas um acto de violência. Foi um grito simbólico contra o desemprego, a corrupção endémica e a percepção de que Hichilema prioriza alianças regionais obscuras em detrimento das necessidades locais.
No plano analítico, a situação zambiana encaixa-se num padrão recorrente da África pós-colonial: líderes que sobem como democratas visionários acabam a reproduzir o autoritarismo que prometeram combater. O “HH” que em 2021 inspirou juventudes urbanas com o lema One Zambia, One Nation agora enfrenta uma geração desiludida — tal como aconteceu com Museveni no Uganda e Kagame no Ruanda.
A viagem à Tanzânia, longe de fortalecer a sua imagem, expôs um cálculo político cínico: talvez a tentativa de cortejar o apoio de Suluhu nos fóruns regionais da SADC. Mas, ao fazê-lo, Hichilema ignorou a empatia pan-africana com as vítimas de eleições manipuladas. Como observou um analista local, “Hichilema foi à cena do crime e pregou o perdão; os zambianos, vítimas de promessas quebradas, não perdoam”.
Rumores circulam de que os serviços de inteligência zambianos já o alertaram sobre uma possível derrota frente a um “candidato desconhecido” — talvez uma figura emergente da sociedade civil ou um outsider apoiado por Lungu. Se tal previsão se confirmar, o desfecho não revelará apenas o colapso de um governo, mas a falência de um projecto moral que se apresentou como renovador.
A pergunta, portanto, não é apenas quem substituirá Hichilema, mas porque é que o seu sonho de reforma se desfez tão rapidamente. Numa democracia frágil como a zambiana, a ascensão de um “herói anónimo” não representa vitalidade política, mas um sintoma de vazio estrutural.
Em última instância, a tragédia de Hichilema não reside na pedra que quase o atingiu em Chingola, nem no discurso em Dar es Salaam, mas na traição do seu próprio ideal. De reformador a realista autoritário, ele ilustra o destino dos líderes africanos que confundem diplomacia com autopreservação.
Com 2026 à vista, a Zâmbia não precisa de pacificadores de palco, mas de governantes que saibam ouvir as pedras antes que elas atinjam o alvo. Caso contrário, o “candidato desconhecido” poderá ser menos uma surpresa política e mais a justiça poética de um povo cansado de ilusões.
#Zâmbia #Hichilema #Tanzânia #Eleições2026 #PolíticaAfricana
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Comentários

873818035
ResponderEliminarMuito enigmáticos um número de celular, assim. Terá a resposta do futuro de HH?
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