Publicação em destaque

QUANDO O EXAGERO NEGLIGENCIADO SE TORNA PERIGO

A pertinente responsabilidade individual no trânsito e no dia-a-dia

As imagens que circulam nas redes sociais mostram um retrato inquietante do nosso quotidiano, bem como revelam a má postura de alguns dos nossos comportamentos indesejados para o exercício de uma cidadania ideal: cidadãos que desafiam todos os limites do bom senso e da segurança rodoviária. 

Estamos a pôr de no comando de mais e brincar com a sorte. Muito se fala sobre a necessidade de as autoridades apertarem a fiscalização, mas há algo que não podemos ignorar — muitos condutores e passageiros exageram na ignorância também, e esses exageros custam vidas.

Independentemente das circunstâncias, razões e alegações que lhe remete a situações de insegurança, exposição aos perigos e riscos das suas vidas, as consequências de algumas atitudes afectam não só aos visados e seus familiares e pessoas próximas, os impactos negativos alastram-se até a sociedade em geral. Em suma, todos sofremos com a ignorância, negligência e a desobediência ou falta de observação das medidas de segurança básica na mobilidade urbana.

O Peso do Exagero

Basta um simples olhar pelas ruas de Maputo, Beira, Nampula ou Quelimane, Lichinga e outras artérias nacionais para perceber o cenário: motorizadas transformadas em autênticos camiões, sobrecarregadas de passageiros e mercadorias. Numa das imagens que recentemente circularam, vê-se uma moto com três a quatro pessoas e uma pilha de volumes tão grandes que o condutor mal consegue equilibrar-se. Noutra, a carga é tamanha que tapa completamente a visão de quem conduz — uma manobra suicida, disfarçada de “solução prática”. Uns foram ainda acordar um vídeo de um transporte semi-colectivo, provavelmente de quinze lugares, mas transportava cerca de trinta passageiros e seus bens. 

Infelizmente, estas cenas não são excepções. São o reflexo de um problema que se repete todos os dias: motorizadas a transportar móveis, electrodomésticos, sacos de carvão, bidões de água, blocos de construção — e, em muitos casos, famílias inteiras. Não se trata dos vulgo 'txopelas', motas de três rodas, sejam aqueles que apresentam a estrutura coberta para transporte minimamente confortável para passageiros ou abertas designados para carga. Não. São apenas as motas com duas rodas. 

A vida é e está cada vez mais difícil, sim. Porém, sempre foi assim. Ela nos impõe desafios e é nossa responsabilidade superá-los, mas com serenidade e sabedoria de modo que a resolução de um problema não seja a janela de provocar um outro que nos deixe numa situação pior que o problema que se queria ultrapassar. O peso do peso que pode nos enterrar mais cedo, apesar de ser inevitável. Mas prevenir é preciso e por sermos humanos é possível negociar para se encontrar consensos satisfatórios entre, por exemplo os transportadores e os utentes para uma mobilidade mais digna. 

Entre a Necessidade e a Irresponsabilidade

É verdade que muitos destes comportamentos nascem da necessidade. Num país onde os transportes públicos são escassos e os de carga são caros, a motorizada acaba por ser o único meio viável para muitos. No entanto, é preciso reconhecer que a necessidade não pode justificar a irresponsabilidade.

O Código de Estrada é claro: cada veículo tem os seus limites de carga e passageiros. As motorizadas, por mais resistentes que pareçam, não foram feitas para suportar o peso de quatro a cinco adultos ou de meia tonelada de mercadorias. Ignorar essas regras não é apenas infringir a lei — é pôr em risco a própria vida e a dos outros.

As autoridades falham, mas também a nossa postura e comportamento piora ainda mais. Fazendo com que criem condições de haver corrupção ou aquelas situações de multas que alarmam a sociedade quando mal interpretadas. Isto porque, a falta de observação do aspecto segurança desencadeia uma série de situações que diapertam aproveitamento indevidos dos agentes desonestos à igual imagem dos cidadãos desobedientes confessos. 

As Consequências São Reais

Quando uma motorizada vai além do que aguenta, tudo se torna perigoso: o travão pode falhar, o equilíbrio desaparece e qualquer buraco na estrada pode ser o início de uma tragédia. Acidentes com motorizadas sobrecarregadas são mais comuns do que se imagina, e muitos terminam em ferimentos graves ou mortes evitáveis.

Mais preocupante ainda é o efeito de “normalização” que estas práticas geram. Quando se vê todos os dias alguém a transportar cargas absurdas sem consequências imediatas, cria-se a falsa ideia de que é seguro — e assim o ciclo repete-se, até que algo trágico acontece.

Desta sobrecarrega nas vias e sobre os veículos, passam para sobrelotação dos postos, centros e hospitais públicos  que além de não haver condições dignas para o seu funcionamento normal, não chegam para albergar vítimas de acidentes em situações de emergência. 

A Responsabilidade é de Todos

Sim, as autoridades falham e pelo que precisam reforçar a fiscalização, aplicar multas e educar os cidadãos. Mas é ilusório pensar que o Estado pode estar em todos os cruzamentos ao mesmo tempo. A segurança no trânsito começa com cada um de nós. Não precisa apenas temer a flagra dos agentes, é necessário pensar nas consequências individuais, dos nossos familiares e a comunidade em geral sobre os infortúnios que podem advir da sobrelotação dos veículos. 

É preciso mudar a forma de pensar. As regras de trânsito não são inimigas da liberdade — são protecções para a vida. Fazer duas viagens em vez de uma pode parecer perda de tempo, mas é um pequeno preço a pagar para continuar vivo. Viver um pouco mais importa que partir cedo e deixar ainda prejuízos incalculáveis aos que amamos e de nós dependem. 

O que fazer para Possíveis Mudanças 

O caminho para um trânsito mais seguro passa por várias frentes. Primeiro, investir na educação cívica ou particularmente rodoviária — nas escolas, nas comunidades, nas próprias autoescolas. Segundo, criar alternativas reais e acessíveis para o transporte de cargas, de modo que a motorizada deixe de ser a única opção para tudo.

Também é essencial que a fiscalização seja firme, mas justa, e que as penalizações tenham efeito dissuasor. Ainda assim, nada substituirá o senso de responsabilidade individual. Aliás, haver responsabilização é um dos passos preponderante na cidadania - não basta admitirmos os erros. 

As imagens que inspiraram esta reflexão não são apenas curiosidades das redes sociais — são alertas vivos. Elas mostram o quanto a pressa, o improviso ou improvisação quem preferir e a falta de consciência podem transformar o trânsito num campo de risco.

Não basta culpar as autoridades. A segurança começa no capacete que decidimos usar, na carga que escolhemos levar, na prudência que praticamos. Nenhuma pressa, nenhum lucro, nenhuma economia vale mais do que uma vida.

Os utentes do trânsito e as vias de acesso e comunicação que temos, precisam de mudar — e essa mudança começa com cada um de nós.



Comentários

Enviar um comentário