Como Seria Moçambique Hoje, Sem Venâncio Mondlane na Cena Política?

A presença de Venâncio Mondlane na política moçambicana representa um elemento disruptivo em um cenário tradicionalmente marcado pela hegemonia da FRELIMO e pela fragmentação das forças de oposição. Sua ausência efectivamente não provocaria mudanças substanciais na dinâmica política e social do país. 

Mondlane não apenas propôs um conjunto ambicioso de reformas, mas também conseguiu catalisar debates cruciais sobre habitação, inovação, e pacificação nacional nos últimos meses. A questão central que se coloca é: como Moçambique estaria sem ele neste momento crítico?

O Vácuo na Contestação Política

Venâncio Mondlane tem se destacado como uma das vozes mais proeminentes da oposição, oferecendo uma alternativa vigorosa ao status quo. Em um cenário sem ele, a pressão política sobre o governo de Daniel Chapo seria consideravelmente menor. 

Mondlane não apenas desafia o governo com propostas concretas, como a construção de milhões de casas e a criação de um fundo para startups, mas também mantém viva a exigência de uma governança inclusiva e de diálogo para a pacificação nacional. Sua ausência significaria menos contestação às políticas da FRELIMO, se há ou havia alguma, possibilitando a continuidade de um modelo de gestão caracterizado por uma limitada interação com a oposição e até com a população moçambicana.

A oposição, já fragmentada, enfrentaria ainda mais dificuldades para mobilizar apoio popular e articular um discurso coeso. Sem Mondlane, não haveria uma figura que simbolizasse a aspiração por mudanças estruturais, o que poderia levar a uma apatia generalizada entre os cidadãos descontentes. Essa lacuna contribuiria para uma política mais homogênea, mas também mais previsível e, talvez, menos responsiva às demandas populares.

As 25 Medidas - Um Caminho Não Percorrido

O programa de 25 medidas apresentado por Mondlane estabelece um roteiro ambicioso para os primeiros 100 dias de governo, com foco em justiça social, dinamização económica e reformas estruturais. Sem ele, essas ideias correm o risco de serem marginalizadas, deixando o país sem um plano alternativo robusto que desafie o governo em exercício. 

A construção de milhões de casas e o apoio a startups, por exemplo, são propostas que não apenas atendem às necessidades imediatas da população, mas também sinalizam um modelo de desenvolvimento centrado no empoderamento dos cidadãos. A ausência de tais iniciativas no debate político limitaria as possibilidades de um progresso tangível.

Além disso, a pressão de Mondlane por pacificação nacional e um diálogo político aberto, essencial para superar divisões históricas, estaria ausente. Isso enfraqueceria os esforços para construir uma estabilidade duradoura e uma coesão social capaz de enfrentar os desafios estruturais do país. Porém, a existência do VM7 e seus apoiantes não implica necessariamente a falta de manobras do Daniel Chapo, outro sim, é uma vantagem enorme sobre ele em relação aos seus antecessores. 

O Espaço para Daniel Chapo e a FRELIMO

Sem a figura de Mondlane, o governo de Daniel Chapo desfrutaria de maior estabilidade e liberdade para implementar suas políticas. Essa estabilidade, no entanto, poderia vir à custa da inovação e da inclusão. Sem um contraponto como Mondlane, há o risco de que a política se acomode em soluções de curto prazo, em vez de enfrentar os problemas estruturais que Mondlane tem apontado repetidamente.

A ausência de uma oposição vibrante também enfraqueceria a democracia em Moçambique, reduzindo o espaço para um debate plural e para a emergência de novas ideias. Em última análise, isso poderia levar a um sistema político mais autoritário e menos adaptável às necessidades da população. Apesar de terem havido muitos cidadãos activos mortos por razões políticas. 

Por fim, o Custo da Ausência

A ausência de Venâncio Mondlane na cena política moçambicana até este janeiro de 2025, teria implicações profundas. Ela significaria menos contestação e pressão por reformas, resultando em um ambiente político mais homogêneo e previsível, mas também menos dinâmico e menos responsivo às demandas populares. As 25 medidas apresentadas por Mondlane são um reflexo de sua visão para um Moçambique mais inclusivo e inovador, e sua ausência deixaria um vazio significativo na busca por soluções estruturais.

Se por um lado sua ausência poderia favorecer a estabilidade do governo de Daniel Chapo, por outro, limitaria as possibilidades de transformação social e política em Moçambique. Sem Mondlane, o país corre o risco de permanecer preso a um ciclo de gestão que privilegia a manutenção do poder em detrimento de reformas essenciais. A questão, portanto, não é apenas o que Moçambique seria sem ele, mas o que ele perde ao silenciar vozes que desafiam o status quo.

Saudações!

Por: Mário Nortes Tambala

Lilongwe, Malawi.

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