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Entre a Bíblia e o Alcorão - Caminhos da Fé e da Reflexão, Qual Deles Seguir?
Escolher entre a Bíblia e o Alcorão como texto de estudo e de orientação espiritual não é apenas uma decisão literária ou cultural, como já vemos acompanhando debates no grupo do Whatsapp O Verbalyzador e entre outros fóruns amadores, moderados e radicais. É, antes de tudo, um mergulho nas raízes de três grandes tradições religiosas — Judaísmo, Cristianismo e Islão — que moldaram civilizações, inspiraram movimentos sociais e políticos, e até desencadearam conflitos e diálogos ao longo da história.
Mais do que optar por um ou por outro, a proposta que aqui se coloca é de olhar para ambos, não com a ansiedade de quem precisa escolher uma bandeira, mas com a maturidade de quem reconhece que o diálogo entre diferentes fontes de sabedoria pode ser enriquecedor e quiçá a porta da verdadeira salvação. Mas para desvirtuar alguns equívocos, passaremos por seis factores reflexivos antes desta previa conclusão que precipitadamente apresentamos. Ora vejamos:
1. Origens e Autoridade dos Textos
A Bíblia é uma biblioteca viva.
No Judaísmo, aparece como Tanach, composta pela Torá, Profetas e Escritos. É fruto de séculos de tradições, revisões e interpretações, tendo o hebraico como língua principal.
No Cristianismo, agrega o Novo Testamento, centrado na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo. Escrita no século I d.C., em grego, hebraico e aramaico, reforça a ideia de salvação e do amor universal.
O Alcorão, por sua vez, é apresentado como revelação directa a Maomé, no século VII, em árabe clássico. Ao contrário da multiplicidade de vozes da Bíblia, o Islão sustenta que o Alcorão é a palavra final e inalterável de Deus, preservada sem alteração desde a sua compilação.
Base da Reflexão: Enquanto a Bíblia traz o peso da história e da diversidade de contextos, o Alcorão oferece a força de uma mensagem coesa e única.
2. Conteúdos Centrais
A Bíblia expõe narrativas históricas, poesia, profecias e reflexões éticas. A versão cristã destaca o amor e a redenção em Jesus, enquanto a judaica centra-se na aliança entre Deus e Israel.
O Alcorão é mais directo: convoca à submissão a Deus (tawhid), apresenta normas morais, leis e descrições vívidas do juízo final. Nele, Jesus (Isa) aparece como profeta, não como filho de Deus, e Maomé é o selo dos profetas.
Diferença crucial: A Bíblia cristã aponta para Jesus como salvador; o Alcorão rejeita a divindade de Jesus e chama ao monoteísmo absoluto.
3. Estrutura e Estilo
A Bíblia é extensa, heterogénea, variando entre histórias, cartas e poesias. Exige contexto histórico para compreensão plena.
O Alcorão é poético, ritmado, concebido para recitação e memorização, sendo mais uniforme e conciso.
Ambos, contudo, exigem abertura espiritual e, muitas vezes, apoio de intérpretes experientes para evitar leituras superficiais.
4. Práticas e Caminhos
Cada tradição derivada destes textos molda a vida quotidiana dos fiéis:
O Judaísmo gira em torno da Torá e de práticas comunitárias e rituais como o shabat.
O Cristianismo organiza-se em torno da fé em Cristo, com sacramentos como o baptismo e a eucaristia.
O Islão, baseado no Alcorão e na sunna, define os “cinco pilares”: profissão de fé, oração, jejum, caridade e peregrinação a Meca.
Aqui percebemos que não se trata apenas de textos, mas de sistemas de vida que moldam comunidades inteiras.
5. A Questão da Crítica e da Tradição
A Bíblia tem sido amplamente estudada com métodos históricos e críticos, aceitando-se a possibilidade de revisões, contradições e diferentes camadas de autoria.
O Alcorão, dentro da tradição islâmica, é considerado perfeito e intocável, não se abrindo facilmente a críticas literárias ou históricas. Essa diferença molda também a forma como as religiões lidam com debates modernos sobre fé e ciência.
6. Ler um ou os Dois?
Seguir apenas um texto pode dar clareza e identidade; ler os dois pode abrir horizontes e permitir uma compreensão mais rica da diversidade humana, que é enriquecedor.
Quem procura Jesus como centro encontrará na Bíblia cristã o caminho.
Quem busca monoteísmo absoluto e práticas bem codificadas encontrará no Alcorão a referência.
Quem deseja entender a raiz das duas tradições precisa mergulhar no Tanach judaico.
Mas nada impede que alguém, em busca de sabedoria e reflexão, leia ambos com espírito crítico e coração aberto.
No fim, tanto a Bíblia como o Alcorão não são apenas livros, mas espelhos da humanidade na sua busca por Deus, pelo sentido da vida e pela ordem moral. Optar por um ou conhecer os dois é mais do que uma questão de fé: é uma decisão sobre que tipo de diálogo se quer estabelecer com a espiritualidade, com a história e com o outro.
Talvez a grande lição não seja escolher entre um e outro, mas reconhecer que ambos, apesar das divergências, apontam para a necessidade universal de justiça, compaixão e responsabilidade diante do sagrado. O melhor dos dois caminhos, enquanto se é africano, é reconhecer a sua existência, mas observar também respeitosamente as nossas práticas tradicionais, aparentemente supersticiosas, como divinas. Pois, viver ou estar vivo, é uma dádiva que está além da percepção humana e que ninguém deve ser obrigado a reconhecer certas entidades antes que lhe venha como uma revelação pessoal e interior.
Uma publicação sem espinhos, como Africano gostava de saber mais sobre a Bíblia Etíope
ResponderEliminarDepois de ler o texto, o que tenho a dizer é tenha a fé em Deus porque a religião não salvará a ninguém somente a fé.
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