COISAS QUE NUNCA ME ENSINARAM
Que a Perfeição é Inimiga do Progresso
Na correria do dia-a-dia, somos muitas vezes bombardeados com a ideia de que tudo o que fazemos deve ser perfeito. Desde a escola, onde se valorizam notas impecáveis, até ao mundo profissional, onde a pressão por resultados irrepreensíveis é constante, crescemos com a crença de que a perfeição é o padrão. Mas ninguém me ensinou que a busca desenfreada pela perfeição pode ser, na verdade, uma armadilha que nos paralisa, nos impede de avançar e nos rouba a oportunidade de crescer. Hoje, quero partilhar uma verdade que aprendi com o tempo: a perfeição é inimiga do progresso.
O Mito da Perfeição
Crescemos a ouvir que “se não for perfeito, não vale a pena”. Quantas vezes não desistimos de um projecto, de uma ideia ou até de um sonho porque achávamos que não estava “bom o suficiente”? Quantas vezes olhámos para o trabalho dos outros – nas redes sociais, nos palcos da vida – e sentimos que o nosso esforço nunca chegaria àquele nível de excelência? Este é o grande mito da perfeição: a ideia de que o sucesso só vem quando tudo está impecável, polido, sem falhas.
Mas a vida não funciona assim. A realidade é que o progresso, o verdadeiro crescimento, acontece nos momentos imperfeitos, nos rascunhos mal-acabados, nos passos hesitantes que damos mesmo sem saber se vamos chegar ao destino. Ninguém me ensinou que os rascunhos são valiosos, que as primeiras tentativas, ainda que desajeitadas, são o alicerce de qualquer conquista. Pelo contrário, ensinaram-me a temer o erro, a evitar o fracasso, como se ele fosse o fim da linha, quando, na verdade, é apenas o começo.
A Beleza do Imperfeito
Lembro-me de uma vez em que quis escrever um livro. Tinha uma ideia na cabeça, uma história que ardia dentro de mim, mas cada vez que me sentava para escrever, parava. As palavras não soavam bem, a estrutura parecia fraca, e eu apagava tudo, frustrado, à espera da frase perfeita que nunca chegava. Meses passaram, e a história continuava apenas na minha cabeça, porque eu estava preso à ideia de que o primeiro rascunho tinha de ser brilhante. Até que um dia, alguém me disse: “Escreve qualquer coisa. Não precisa de ser bom, só precisa de existir.” Foi libertador.
Comecei a escrever, mesmo sabendo que as frases estavam longe de perfeitas. E, aos poucos, percebi que o acto de escrever, ainda que imperfeito, me estava a ensinar. Cada parágrafo, cada página, era um passo em direcção a algo melhor. O livro não ficou perfeito – talvez nunca fique – mas ficou real. E isso foi mais importante do que qualquer ideia de perfeição que eu tinha na cabeça.
A lição aqui é clara: o imperfeito é o terreno onde a excelência cresce. Ninguém nasce a saber pintar como Picasso, a escrever como Mia Couto ou a liderar como Mandela. A excelência vem da prática, da repetição, dos erros corrigidos e das tentativas falhadas. Como diz um velho provérbio moçambicano: “É caindo que se aprende a caminhar.” E, para cair, primeiro é preciso dar o passo.
O Custo da Perfeição
A busca pela perfeição não é apenas uma perda de tempo; é também uma fonte de ansiedade e frustração. Quantas vezes não adiamos um projecto porque “ainda não está pronto”? Quantas oportunidades perdemos porque tínhamos medo de falhar? A perfeição torna-se uma corrente que nos prende, um peso que nos impede de voar. E, pior ainda, rouba-nos a alegria de criar, de experimentar, de viver.
Pensa nisto: se os grandes inventores, artistas e líderes do mundo tivessem esperado pela perfeição, muitas das coisas que hoje admiramos nunca teriam existido. A roda não seria redonda, as pinturas de Van Gogh seriam apenas esboços, e as músicas de Oliver Mtukudzi seriam apenas ideias guardadas na cabeça. O mundo avança porque há pessoas que ousam fazer, mesmo sabendo que o resultado não será perfeito.
O Poder do “Suficientemente Bom”
Uma das lições mais valiosas que aprendi é o conceito do “suficientemente bom”. Nem tudo precisa de ser perfeito para ter valor. Às vezes, um trabalho “suficientemente bom” é o que abre portas, cria oportunidades e nos coloca no caminho do progresso. Um artigo escrito com algumas falhas é melhor do que um artigo que nunca sai da cabeça. Uma ideia partilhada, ainda que crua, pode inspirar outros, enquanto uma ideia guardada por medo de críticas nunca verá a luz do dia.
Em Moçambique, temos uma expressão que diz: “Devagar se vai ao longe.” Este ditado não fala de perfeição, mas de persistência, de dar passos, mesmo que pequenos, em direcção ao objectivo. Cada passo, por mais imperfeito que seja, é uma vitória. E cada vitória, por menor que pareça, é um tijolo na construção de algo maior.
Como Abraçar o Imperfeito
Então, como podemos libertar-nos da tirania da perfeição? Aqui estão algumas lições que a vida me ensinou:
- Começa onde estás;
- Valoriza os rascunhos;
- Aprende com os erros;
- Celebra o progresso;
- Partilha o teu trabalho.
A Perfeição É uma Ilusão
No fim de contas, a perfeição é uma ilusão. Nada é verdadeiramente perfeito, porque a vida é feita de imperfeições, de nuances, de histórias que se entrelaçam. O que torna algo valioso não é a ausência de falhas, mas a coragem de criar, de tentar, de avançar. Como moçambicanos, sabemos o valor da resiliência, da luta, de continuar mesmo quando o caminho é difícil. Essa é a essência do progresso.
Por isso, da próxima vez que te sentires paralisado pela ideia de que o teu trabalho não é “bom o suficiente”, lembra-te disto: a perfeição é inimiga do progresso. Faz, cria, tenta. O mundo não precisa da tua perfeição; precisa da tua coragem, da tua voz, da tua história. E, quem sabe, talvez no meio dos teus rascunhos imperfeitos encontres a excelência que sempre procuraste.
Este artigo é um convite para abraçarmos o imperfeito, para darmos valor ao processo e para celebrarmos cada passo que nos leva mais longe. Porque, no final, o que nunca me ensinaram é que a beleza da vida está nas tentativas, nos erros, e na coragem de continuar, mesmo quando tudo parece longe da perfeição.
Por: Lino TEBULO
"Perfeito"
ResponderEliminarPerfeito, adorei.
EliminarMuito obrigado, eu precisava ler algo assim.