A CRIATIVIDADE É UMA LOUCURA que o PRÓPRIO LOUCO NÃO PROCURA

A criatividade como uma loucura libertadora e reveladora

Por: Lino TEBULO

A criatividade é uma loucura que o próprio louco não procura.” — Paulino Intepo

Há momentos em que a criatividade se manifesta como um relâmpago — não pede licença, não anuncia chegada, e, muitas vezes, nem se explica. O curioso é que, como escreveu Paulino Intepo, esta frase aparentemente paradoxal ilumina o mistério mais puro da mente humana: o de criar sem intenção, sem roteiro, sem razão.

As imagens que a inspiram são simples, mas profundas: uma menina deitada na areia, imóvel, e à sua frente um pano estendido — inerte, quase inútil. Depois, a mesma menina surge ajoelhada, como se orasse ou agradecesse a algo invisível. A sequência é absurda e poética, uma metáfora viva daquilo que acontece dentro de um espírito criador.

A criatividade, tal como a loucura, não segue linhas retas. Desorganiza para reorganizar, destrói para reconstruir. O verdadeiro criador não procura o absurdo; é o absurdo que o encontra e o convida a dançar. O artista, o pensador, o inventor — todos partilham essa inquietação interior que os leva a transformar o banal em simbólico, o comum em espantoso.

O “louco” da criatividade não é aquele que perdeu a razão, mas aquele que ousou questionar o sentido da própria normalidade. É quem, ao deitar-se na areia, imagina um palco. É quem transforma um simples pano numa metáfora da sombra, da alma, ou até da ausência. É quem faz do ridículo uma forma de arte.

A sociedade, porém, ainda teme essa loucura. Ensina-nos a ser lógicos, previsíveis e prudentes — como se o sentido da vida estivesse apenas nas respostas certas. Mas é nas perguntas erradas, nas experiências improváveis e nas encenações aparentemente tolas que surgem os lampejos do novo.

A criatividade não é um acto racional; é uma espécie de delírio controlado. Talvez por isso o criador raramente compreenda a própria genialidade no momento em que a exprime. Ele não procura a loucura — ela apenas o visita. É uma centelha que o atravessa e o deixa em espanto, sem saber se deve rir ou temer o que acaba de criar.

As imagens da praia são um retrato visual dessa verdade: a pessoa não está a representar o óbvio; está a encenar o imprevisto. O corpo deitado é o repouso da mente antes da ideia. O corpo ajoelhado é a epifania, o despertar, o instante em que o absurdo ganha forma.

É assim com todos os criadores — dos poetas aos cientistas, dos loucos aos santos. Nenhum deles procura a loucura; eles apenas se rendem à sua visita. E quando essa loucura chega, traz consigo a centelha que separa o comum do extraordinário.

Talvez, afinal, a diferença entre o louco e o criativo esteja apenas no que cada um faz com o seu delírio.

O primeiro tenta fugir dele; o segundo transforma-o em arte.

📜 Texto de Lino TEBULO, inspirado na frase de Paulino Intepo e nas imagens que revelam que a imaginação, quando quer, brinca até com a areia.


Comentários