Da Encenação à Realidade Cruel
A Metamorfose do Teatro Político em Moçambique
A Gênese da Resistência Popular
O que começou como mera representação teatral foi, gradualmente, ganhando contornos de realidade tangível, distanciando-se da nossa percepção inicial ou imaginação limitada. Quer dizer dos teatros feitos em comícios e televisões se propagando em propagandas e cenas em documentários, chegou a realidade nas ruas e subúrbios.
Esta transformação seguiu um percurso meticuloso: nasceu nos palcos do teatro político, ganhou força nas redes sociais - onde foi inicialmente desconsiderada como simples manifestação virtual - até finalmente alcançar as ruas em protestos concretos. Hoje os berros respondem-se em disparos pelo descontrolo e inconformação paralela da realidade.
Da Repressão à Resistência
Apenas quando a situação se materializou nas ruas, as autoridades reagiram, primeiro aumentando o custo das comunicações, podem ter havido outras medidas que nos passaram em mente no momento da redacção desta matéria, mas depois impondo restrições.
E, chegamos a este ponto onde as próprias forças armadas que deveriam proteger os manifestantes do verdadeiro inimigo - aquele que se esconde nos gabinetes, não o fictício das matas - acabaram por voltar-se contra o povo. Aliás, são orientadas a travar os ânimos. E será que cooperam?
Outros militares são os que têm a bola como arma e a baliza do adversário como o alvo. Mas o jogo, infelizmente, reside em não participar na disputa como gesto de solidarizar-se com a situação actual em curso. Valha nos Deus - só Azagaia é que teria ante visto que seria necessário paralisar os campeonatos?
O Despertar da Consciência Colectiva
Ironicamente, as marionetas agora têm um mentor - em lives que, através da observação dos ciclos de governação teatralizados, transformou esses dados em ferramentas de mobilização popular. Materializou tudo e a concretização desafia-nos dar-lhe uns cinco anitos e ver se revertemos tudo ou precisaremos se mais fôlego para resgatar o país.
Porém, esta mobilização visa combater os verdadeiros "palhaços" - governantes que, embora assassinos, mascaram-se de bons samaritanos, tratando o povo como seus servos. Aliás, tentando entrepôr as armas ao povo como seus alvos. Tudo uma cilada, até os escritores devem ser mobilizados para tal, então não nos surprenderá o Mia Couto aos leitores à favor dos que antes criticou.
O Ciclo da História
Mas é só a história se repetindo, mas com uma diferença crucial: desta vez, a luta não é contra os colonizadores portugueses, mas contra aqueles que,- após expulsá-los, impuseram ao povo moçambicano dezenas de Estados parasitas, contrariando a vontade popular e substituindo realizações concretas por promessas vazias disseminadas através da mídia controlada.
Vê-se esse teatro numa abordagem de um angolano algures por lá, educando os seus e termina a peça com a máxima de "expulsamos um e admitimos 20". Chamado atenção que estes detém as partes vitais e estratégiacas do país. Igualmente em Moçambique, país irmão.
A Militarização do Cotidiano
A realidade atual manifesta-se de formas perturbadoras:
- Jovens imitam forças armadas, tudo cómico, por enquanto!
- Crianças encenam protestos nas escolas, nas ruas voltando para casa percorrem as avenidas em cânticos revolucionários. Que ânimo;
- Autoridades ameaçam rastrear "agitadores" (...);
- 208 processos contra manifestantes, zero contra os verdadeiros responsáveis pela crise. Como de hábito.
Outro cenário: O Sistema Contra o Povo?
Observamos uma mobilização institucional contra a revolução pacífica:
- observa-se o Ministério Público parcial;
- Sistema judiciário resistente às manifestações populares;
- Profissionais de saúde apoiando clandestinamente os protestos;
- ANAPRO anunciando novas ondas de manifestações;
- Juventude marginalizada improvisando armas com materiais disponíveis.
O Risco da Escalada
Apesar dos esforços de líderes como Venâncio Mondlane e Manuel de Araújo em manterem a resistência democrática e pacífica, algures parece existir um risco real de escalada. Quando as armas começam a falar, apenas o povo e os militares permanecem - enquanto políticos, juristas, jornalistas e elites desaparecem.
Em fim, Um Apelo à Mudança
Enquanto o mundo avança com processos eleitorais transparentes e transições pacíficas de poder, Moçambique permanece preso em disputas por actas e editais perdidos e acórdãos demorados. Esta falta de transparência já custou vidas - seja por violência directa, fome ou desespero. A pergunta que resta é: quantos mais precisarão enfrentar esta situação antes que ocorra uma verdadeira mudança?
Que Deus abençoe Moçambique!
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