A BELEZA DA LUTA: O QUE NÃO VEMOS NAS IMAGENS QUE VIRALIZAM
💭 Por trás de cada curva há uma história que o mundo prefere ignorar
Bem, não é sobre se dá ou não casar com mulheres que sabem cozinhar, muito menos se vale casar com as que sabem fazer trabalhos domésticos. Essa discussão deixaremos nos fóruns onde melhor foram tratados e existem muitas opiniões boas e até melhoradas sobre isso. O que pretendemos nesta, é sublinhar que vivemos numa era em que os olhos deslizam mais rápido do que o pensamento, numa simples observação qualquer plano e ângulo.
Nesse contexto, as imagens tornaram-se alimento diário, consumidas e descartadas com a mesma pressa com que se muda de página ou se apaga uma notificação. Mas há imagens que, apesar da superficialidade com que são vistas, carregam mundos inteiros — mundos que o tal olhar apressado não alcança.
A fotografia de uma mulher inclinada diante de uma fogueira ou um fogo improvisado, como que tentando reacender a chama para cozinhar, é um desses exemplos. Para uns, é apenas um corpo que chama atenção pelas sua características que presume qualidades daquelas que despertam vontades proibidas; para outros, uma imagem comum do quotidiano africano. Poucos, porém, enxergam o que realmente está ali: o esforço silencioso de quem sustenta a casa, a simplicidade transformada em resistência, o calor da sobrevivência num contexto onde o luxo é ter uma refeição quente e não sonhar em possuir uma belezura e tanta e mesmo assim ter uma vida humilde e talvez digna.
A viralização rouba o sentido das coisas. Um gesto de cuidado vira piada; um acto de esforço, fetiche; um momento íntimo, espectáculo. É assim como vivemos actualmente. E, assim, perdemos a capacidade de sentir — de olhar para a vida com humanidade, sem transformar tudo em consumo visual. A mulher que sopra o fogo não está a posar: está a lutar. O que a câmara captou não é apenas uma imagem, é um instante de dignidade que pode ser travestido de banalidade.
O problema não está nas redes, mas na forma como as usamos: olhamos sem ver, clicamos sem pensar, comentamos sem compreender. O corpo tornou-se vitrina e a dor, conteúdo. No entanto, por trás dessa estética que tanto prende os olhos, há histórias de cansaço, de persistência, de amor disfarçado de rotina.
A beleza verdadeira — aquela que não precisa de filtros nem de aplausos — está na luta que ninguém filma, no gesto que não viraliza, no silêncio de quem faz sem ser notado. Talvez o que o mundo mais precise não seja de mais imagens, mas de mais olhos capazes de ver, compreender e reflectir profundamente em harmonia com a natureza real do ser da coisa como ela é.
Abraços e bom fim de semana, que juízo chegue logo aos professores e outros profissionais da educação de Moçambique, em especial. Pois, deles depende o ensino do melhor olhar que uma nação precisa para moldar um Estado de direito e verdadeiramente soberano.
Um aprendizado ficou hoje para mim. Muito obrigado!
ResponderEliminar