Se calhar, o povo nem sabe que está sofrer

As tantas, nós é que fazemos sofrer o povo, por dizer que está sofrer.

Se calhar, o povo nem sabe que está sofrer

Do editor

Imagine uma criança como vê o mundo. Tudo é novo, se nada lhe causa dor ou medo ela não chora. Mas quando começa conhecer as coisas através das informações que vamos incutindo nela, a consciência surge e vai formando o senso entre o certo e errado, bom e mau, etc. cessa a inocência e toma posse a decência.

Não gostaria de justificar muito o porquê desta conclusão, que em todo caso se pode considerar infundada, dado ao método que nos leva a ela, por motivos apresentados a seguir e ainda não de forma linear.

Não submetemos essa afirmação à um estudo, segundo como os padrões convencionais exigem para o efeito, para se aferir a tal veracidade, se na verdade o povo, está realmente a sofrer. Uma vez que, para concluir que estamos perante a uma dada situação, às vezes, deve ser por meios sensoriais que dispomos, para ter a experiência necessária pelas circunstâncias da vida ou pode ser pela manipulação dos outros que aprendemos o que é sofrimento.

Caso concreto é ter noção sobre o que realmente é sofrimento. Será sentir ou perceber a falta de alguma coisa? Ou basicamente é estar sujeito a passar por algum infortúnio? Já que alguns impiristas acreditam que quem sente algum desconforto em relação a alguma coisa, seja pela exposição ou pela falta, tende a se pronunciar tarde ou de imediato, assim que sentir que não suporta mais. A partir do momento que toma a consciência de que aquilo que sente lhe causa dor, angústia, etc.

Se calhar, o sofrimento não seja generalizado assim como nós críticos pensamos. E que a observação de que se está a sofrer, em Moçambique nesse caso concreto, seja uma mera obsessão nossa, ainda que individualizada, causada pela exposição de tanta informação que nos leva a comparar o estilo de vida dos outros povos em relação ao nosso. Isso ligado ainda ao inferiorismo atiçado pela cobiça, inveja, ganância, ambição desmedida de querer ser como eles.

É como basicamente ter a consciência da falta de conhecimento sobre uma determinada matéria, mas não perceber as repercussões por detrás da tal necessidade. Não saber descobrir que está sofrer e sentir-se bem, mas ser visto pelo outro que está sofrer e ele vir te dispertar que você está sofrendo. Uma questão de exteriorizar o que se supõe que o outro está em algum estado desconfortável em relação ao sujeito que o observa.

Nesse caso, talvez este que te disperta é que pode estar enganado que estás sofrendo. Depois de ouvir as declarações de alguns políticos ao alto nível recentemente, sobre a questão de segurança alimentar, me fez pensar à respeito disso. Se na verdade o povo sabe que está sofrer ou nós outros é que estamos a submeter a ideia de sofrimento ao povo.

Entre a ilusão e o esclarecimento.

Talvez nosso povo tenha passado por certo estágio de evolução, que agora não precisa de uma revolução ou ainda não tenha alcançado o tal estágio de emancipação humana, o qual conclui que não seja necessário estar numa determinada posição e nível de vida ou possuir certas condições de vida. Quem se importa com status é quem sabe do que se trata.

As tantas, concorda-se que a satisfação da vida seja relativa em relação ao estado cognitivo de cada ser, partindo da base que aceita a natureza das coisas de como elas são. Ou seja verdade de que o pior sofrimento é não saber que se está a sofrer. Basta que se tenha o mínimo ou básico para viver e não tenha nenhum rispicuo do que é sobreviver, o resto é capricho.

Indo mais ao fundo da questão.

É comum na nossa sociedade moçambicana rotular quem tem muita massa corporal, gordos, serem considerados como sendo os “bem de vida”. Enquanto os povos do outro hemisfério onde a medicina convencional não pára de surpreender, preocupa aos seus utentes que gordura é prejudicial e é doença. Atribuem o termo obesidade ao que para alguns de nós é sinal de ausência do tal sofrimento.

Mas para nós cá é saúde ser gordo e aliamos a prosperidade. O estar bem de vida. Só os mais atentos é que partem para observação do estado da pele e o nível de humor do indivíduo, para definir o quão está bem de saúde e outras vertentes.

Por outro lado, o sorriso e a alegria dos que vivem no campo, sem as teorias de que um ser humano normalmente, deve ter três ou cinco refeições por dia, são felizes apenas com duas ou uma refeição por dia, reforçadas com o mínimo de alguns milímetros de água, ainda que turva, vinda directamente da fonte ao recipiente para o estômago, sem nenhum tratamento ou refrigeração no processo de hidratação.

A estes, tenho máxima certeza, sendo eles gordos ou magros, não se sentem a sofrer por simples facto de faltar-lhes electricidade, muita roupa, transporte e comunicação tele qualquer coisa, etc. A sua aflição reside quando alguma dor no corpo se transparece. Onde também atribuem a causas naturais como espíritos ou maldição e se acomodam se consolando que é algum castigo. Provavelmente aceitam a morte, assim naturalmente como uma mera transição.

A questão de sofrimento no entanto, paira em nós autointitulados civilizados. Nós que pensamos que sabemos de mais sobre as coisas. Porém nem tecnicamente, duvidamos se estamos num loop ou sendo manipulados, achamos que estamos a sofrer e logo tentamos gritar ao alto para chamar a atenção aos que estão confortáveis na pluma, que estamos neste estado e nesta situação do tal “sofrimento”.

Sugestão: Opinião Pessoal

Precisamos estudar mais o nosso povo e a nós mesmos, ao ponto de saber se ele tem conhecimento que está a sofrer ou nós estamos iludidos, antes de sujeitar-lhes aos nossos devaneios. As tantas os políticos de qualquer índole e filiação partidária tenham mais dados sobre o povo moçambicano, do que julgamos. Daí, toda via, submetem ao tal povo, às circunstâncias a medida daquilo que este povo quer. Já que cada povo tem líderes que merece.

Pelo contrário, se este povo tivesse a noção de que está realmente a sofrer, teria se pronunciado, teria se revoltado vigorosamente, se insurgindo fogosamente contra a injustiça ou contra a penúria a qual, nós críticos de boa fé, achamos que é uma causa a defender e um problema a resolver.

Sofrimento dói, meu caro. Mas não saber que está sofrer é mais pior ainda, apesar de ser um estado físico e mental, até espiritual, inócuo a qualquer sensação que cause revolta e tente tomar o controlo da situação. Como o povo pode saber que está sendo roubado se nem sabe o que tem por direito?

Então, podemos admitir que primeiro devemos ensinar o “direito” ao nosso povo, para compreender a “justiça” por exemplo, e depois falar-lhes da democracia. Esse raciocínio pode não ser correcto. Mas precisamos nos ensinar o ABC da vida, sem precisar necessariamente, que seja numa escola. Mas cada um com o que pouco sabe, pode instruir ao outro trocando os saberes, talvez se forme à consciência colectiva sobre o que é sofrimento e até que ponto estamos a sofrer.

Partindo da noção de que o desconhecido não tem importância.

Todo apelo ao perigo a quem não sabe que está em risco é inútil. O meu juízo é que o povo não sabe que está sofrendo. E pode ser perigoso dizer e convocar ou mobilizar ao povo que precisamos de mudança e mudar de cenário, modo de vida, antes de ensinar o que é sofrimento. Caso não haja condições para o efeito, vamos admitir que nós os críticos, estamos iludidos e estamos atrapalhar ao povo quando reclamamos que o povo está sofrer, em representação deste.

Os estudiosos capitalistas sabem e usam essa técnica: ensinar aos clientes sobre o produto para lhes despertar a sua necessidade. Um produto que não é conhecido como é que vai ser revendicado?

Estamos a pôr palavras erradas na boca do povo e esta mobilização é uma tentativa frustrada de salvar o tal povo do tal sofrimento. Desta feita, podemos fechar as escolas a todos níveis e aumentar as igrejas. Pelo que ao meu ver, a escola não deve apenas ser a sala de aula, mas sim o tipo de convivência entre os que sabem ler e escrever com os que não sabem para dizer a eles que:

“Sofrimento é qualquer experiência aversiva e sua emoção negativa correspondente. Ele é geralmente associado com dor e infelicidade, mas qualquer condição pode gerar sofrimento se ele for subjetivamente aversiva”. Dic. Web

Em língua materna ou em língua que achamos que esse povo tem domínio, é importante frizar esse conceito. Isso por que, os mais atentos já notaram que, apesar de alguns terem feito a faculdade em universidades de renome e outras privadas, assim como públicas, a questão de comunicação em língua oficial portuguesa é completamente um desastre. Talvez a comunicação em língua materna pode salvar o processo.

E o processo de ensino e aprendizagem deve ser o modo de convivência, de forma a simplificar o caminho a percorrer para tal revolução e evolução que se pretende alcançar. Porque tanto aos políticos quanto ao povo, assim como os activistas e outros intervencionistas, podem ser inocentes na abordagem do sofrimento. As tantas também os dirigentes são inocentes, não sabem que estão a fazer sofrer o seu povo.

“qualquer caminho nos leva a Roma”

Há que procurar formas de ter a certeza de que o povo seguramente sabe que está sofrendo. Jovens e adultos de todos estratos sociais que queiram se destacar na vida, há essa oportunidade. Vamos fazer a prática reversa religiosa sobre a filosofia do pecado e inferno, na questão do sofrimento.

Quer dizer, as técnicas usadas noutras áreas para a arena da noção de sofrencia para juntos erradicarmos a pobre, antes nunca de fazer parte da tal famigerada propaganda da indústria de pobreza ao povo moçambicano, de modo a ensinar às pessoas de Moçambique o que é na verdade o sofrimento. Para tal devemos não se limitar nos padrões convencionais para descurtinar o que é o tal sofrimento.

Pois num outro sentido, o sofrimento que se diz estar sujeito ao povo pode ser uma criação de oportunismo dos autores da mobilização desta manifestação para fins habituais - arrecadação de fundos para seus caprichos ou para a desestabilização do governo do dia. Até que há casos que são só para ganhar popularidade, etc. 

Tete, 16 de Março de 2023 

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