Moçambique em Conflitos Obscuros (Ciclo de Vinganças e Retaliações)

O Custo das Manifestações e a Questão da Retaliação e Vingança (Governo e o Povo) 

As manifestações recentes em Moçambique expõem um ciclo de retaliações e vingança que afecta profundamente a relação entre o povo e o Estado ou com o governo, particularmente em instituições dominadas pelo partido Frelimo. Com paralisações estratégicas em pontos de alta circulação econômica, a população começa a questionar os valores financeiros que essas operações geram e os benefícios reais trazidos para o país.

Durante as manifestações, algumas fronteiras foram fechadas, incluindo a Fronteira de Ressano Garcia, onde as paralisações causaram perdas estimadas em quase 400 milhões de meticais, segundo o Jornal O País. A Autoridade Tributária, representada pelo porta-voz Fernando Tinga, confirmou esses números, revelando o impacto econômico que o funcionamento reduzido e posterior fechamento dessa fronteira gerou para o país.

Essa revelação provocou uma reflexão entre a população sobre o destino desses fundos. A pergunta que ecoa é: "Para onde foi (durante anos) e vai todo esse dinheiro e quem realmente se beneficiava e se beneficia dele?" A dúvida levanta questões sobre a transparência dos ganhos de outras instituições como portagens, aeroportos e portos, incitando a população a especular sobre quanto essas operações lucram diariamente, semanalmente e anualmente. 

Muitos questionam se o país precisaria recorrer à exploração intensiva de gás, madeira e outros recursos naturais para sobreviver, visto que, mesmo com esses recursos, a população ainda enfrenta graves dificuldades econômicas.

Em paralelo, cenas alarmantes emergiram durante os protestos em Maputo. Em um recente episódio, um jovem manifestante foi morto pela polícia durante uma manifestação pacífica em Malhampsene-Matola. Após o enterro, a população furiosa identificou o suposto atirador e, em um acto de retaliação, o linchou. 

Esse incidente intensificou as tensões, com indícios de que a população está agora identificando e retaliando contra as residências de agentes de segurança envolvidos nas operações de repressão, criando uma atmosfera de "caça às bruxas". Por outro lado, através de uma das mensagens vinculadas nas redes sociais, alguns agentes manifestaram a necessidade de desencadear buscas à paisana nas casas dos manifestantes para fins de silencia-los.

Outros agentes, temendo por suas vidas, já deixaram suas casas para evitar represálias e entre outros actos negativos desencadeados por alguns cidadãos. Esses episódios indicam uma escalada de violência e de retaliações mútuas entre a população e as forças estatais, um ciclo que promete acentuar-se, casa não haja uma intervenção altura. 

Queira-se ou não, esta acontecer até nos hospitais e centros ou postos de saúde, onde alguns agentes das FDS vão receber assistência e tratamento, depois de uma emergência vinda dos incidentes das manifestações, serem mal atendidos, até, alguns casos amputação enquanto só tinha uma feridinha. 

Chegar ao ponto de perder um membro ou órgão inteiro do corpo para sempre, só porque o pessoal que lhe atendeu ficou saturado das outras vítimas civis vindas do confronto entre a polícia e o povo nas encruzilhadas dos protestos, greves e manifestações em curso, é fora do controlo da situação. 

Moçambicanos, caso não se chegue a um consenso entre as partes, o conflito pode piorar, aumentando a necessidade de uma intervenção mediada – seja interna ou externa.

O desafio agora é encontrar uma resolução pacífica e inclusiva, que contemple as reivindicações populares sem incitar mais violência. A continuação desse ciclo de retaliações só aprofunda as divisões sociais e políticas, encarecendo o custo social de uma crise que pode agravar ainda mais as já profundas dificuldades enfrentadas pelo povo moçambicano.

Antes ou depois do anúncio dessa tal 4ª Etapa, apela-se que Moçambique precisa de um caminho que encerre este ciclo de hostilidades e fomente uma reconciliação que favoreça tanto o Estado quanto a sua população.

Ceremonia fúnebre de um dos jovens morto a tiro nas manifestações.


Comentários

  1. Óptima reflexão!
    É urgente uma solução pacífica, mas sabe-se como eles são .... Bom dia!

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  2. A verdade meu caro, está a clareza do dia. Porque haver diálogos depois de evidências. Aqui, o único passo é chamar a razão ao injusto, e acudir o injustiçado. É o povo que votou, e quer que se reponha no lugar devido o seu voto. Nada de transformar o povo em alvo, injustiça sobre injustiça até negar ao povo o direito de reagir perante a injustiça. Haja a reposição da justiça, e se decrete a verdade eleitoral. Se é para chamar atenção, que seja aos malfeitores.

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