COISAS QUE NUNCA ME ENSINARAM

"Que posso mudar de opinião" 

Mudança de opinião é normal e pode significar evolução ou lucidez em determinados assuntos.

Nunca me ensinaram que crescer significa, às vezes, deixar para trás crenças que já não me servem. Que não sou hipócrita por evoluir. Que a consistência cega pode ser uma prisão. 

A prisão da consistência forçada

Crescemos numa sociedade que valoriza a firmeza de carácter, mas confunde-a frequentemente com rigidez mental. Desde criança que nos ensinam a "ter palavra", a "manter as nossas posições", como se mudar de perspectiva fosse sinal de fraqueza ou falta de integridade. 

Esta mentalidade cria uma armadilha psicológica onde nos sentimos obrigados a defender ideias ultrapassadas apenas porque um dia as defendemos publicamente. É como se fossemos obrigados a ser cúmplices e condenados a sentir as consequências do que falamos, inda que fossemos presumiveis inocentes, talvez pela ingenuidade.

A evolução como acto de coragem

John Maynard Keynes, o famoso economista, quando confrontado sobre uma mudança nas suas teorias económicas, respondeu: "Quando os factos mudam, eu mudo de opinião. O que faz o senhor?" Esta resposta encapsula uma verdade profunda: a inteligência não reside na consistência inflexível, mas na capacidade de adaptação face a nova informação.

A neuroplasticidade, descoberta revolucionária da neurociência moderna, prova-nos que o nosso cérebro está constantemente a reformular-se. Cada experiência, cada novo conhecimento, altera literalmente a estrutura dos nossos neurónios. Somos biologicamente programados para mudar. 

Então porque resistimos tanto a essa mudança no plano das ideias?

O peso cultural da "palavra dada"

Em Moçambique, como em muitas culturas africanas, existe uma forte valorização da palavra empenhada. "Palavra de homem" ou "palavra de mulher" carregam um peso moral significativo. Este valor é importante e deve ser preservado quando se trata de compromissos éticos fundamentais e promessas feitas a outros. Mas torna-se problemático quando se estende às nossas opiniões pessoais sobre temas complexos.

Um jovem que aos 20 anos defende determinada posição política não deveria sentir-se prisioneiro dessa posição aos 40, especialmente se entretanto viveu experiências que lhe mostraram outras perspectivas. A lealdade cega a ideias do passado pode impedir-nos de abraçar verdades mais profundas no presente.

E aprisionar-se ao que já não funciona actualmente, só porque um velho 'caduco' não, nosso mentor, esqueceu de se actualizar e interpretar melhor os novos fenómenos, isso sim, trará consequências negativas. É como resistir a mudança, o que não se pode confundir com resiliência, como uns o fazem. 

Os custos psicológicos da inconsistência aparente

Uma das consequências negativas é a dissonância cognitiva - termo cunhado pelo psicólogo Leon Festinger - descreve o desconforto mental que sentimos quando as nossas acções contradizem as nossas crenças. Mas existe uma forma mais subtil desta dissonância: o desconforto que sentimos quando as nossas crenças actuais contradizem as nossas crenças passadas.

Este desconforto leva-nos frequentemente a racionalizar posições que já não fazem sentido, ou a evitar informação que possa desafiar as nossas convicções estabelecidas. Criamos câmaras de eco onde só ouvimos vozes que confirmam o que já pensamos, não porque estejamos certos, mas porque mudança dá trabalho e expõe-nos à vulnerabilidade.

A sabedoria dos povos antigos

Curiosamente, muitas tradições africanas reconhecem a importância da flexibilidade mental. Os provérbios e ditados populares frequentemente celebram a adaptabilidade. "A árvore que não se dobra, quebra com o vento" é uma metáfora que se aplica tanto à natureza quanto às nossas convicções.

Os griots da África Ocidental, os contadores de histórias tradicionais, eram valorizados não apenas por preservarem as histórias, mas por adaptá-las aos tempos e contextos específicos. Sabiam que uma história rígida perde relevância; uma história que evolui mantém-se viva.

A coragem de dizer "estava errado"

Algumas das pessoas mais respeitadas da história foram aquelas que tiveram a coragem de mudar publicamente de opinião. Nelson Mandela, inicialmente defensor da luta armada, evoluiu para abraçar a reconciliação. Malcolm X, que começou a sua luta pelos direitos civis com uma perspectiva separatista, nos seus últimos anos desenvolveu uma visão mais inclusiva e integradora.

Estas mudanças não diminuíram a sua grandeza - amplificaram-na. Mostraram que eram suficientemente grandes para crescer, suficientemente humildes para aprender, suficientemente corajosos para admitir quando o caminho inicial já não era o melhor.

Quanto aos partidos libertadores na África, em os líderes estiveram reunidos em Gauteng? Ainda não tenho opinião (😊), por receio de um outro bloqueador mental, o medo do julgamento social, já que vivo rodeado de 'camaradas' e já falamos sobre este à seguir. 

O medo do julgamento social

Um dos maiores obstáculos à mudança de opinião é o medo de como outros vão reagir. "Vão pensar que sou indeciso", "vão perder a confiança em mim", "vão usar as minhas palavras passadas contra mim". Estes medos são compreensíveis, mas frequentemente exagerados.

A verdade é que as pessoas respeitam mais a honestidade intelectual do que a consistência forçada. Quando explicamos sinceramente porque mudámos de perspectiva, partilhando o processo de crescimento que nos levou até ali, criamos conexões mais profundas e autênticas com os outros.

Distinguir princípios de opiniões

Existe uma diferença crucial entre mudar de opinião sobre questões específicas e abandonar princípios morais fundamentais. Os nossos valores centrais - como honestidade, compaixão, justiça - devem permanecer relativamente estáveis. Mas as nossas opiniões sobre como aplicar esses valores em situações específicas podem e devem evoluir.

Por exemplo, o princípio de justiça social pode permanecer constante, mas as nossas ideias sobre quais políticas melhor promovem essa justiça podem mudar à medida que aprendemos mais sobre suas consequências práticas.

A mudança como acto de amor próprio

Finalmente, mudar de opinião é um acto de amor próprio. É reconhecer que merecemos crescer, que merecemos a liberdade de evoluir, que merecemos abraçar versões melhores de nós mesmos. Quando nos agarramos rigidamente a ideias ultrapassadas, estamos a negar-nos o direito fundamental de aprender e crescer.

Como disse Maya Angelou: "Quando sabemos melhor, fazemos melhor." Não podemos fazer melhor se nos recusamos a saber melhor. E não podemos saber melhor se nos recusamos a questionar o que pensávamos saber.

A verdadeira consistência não está em nunca mudar de opinião, mas em manter-nos sempre fiéis ao compromisso de buscar a verdade, mesmo quando isso significa deixar para trás crenças que um dia nos foram queridas. Essa é a mais nobre das consistências: a consistência do crescimento.

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