Moçambique Entre Dois Pólos: Incêndio ou Iluminação

Reflexões sobre o Rumo de Moçambique e a Decisão do Conselho Constitucional

Que arranque de forma consoladora e unificadora a sessão de luto nacional aos antequiridos caídos nessa derradeira luta por Moçambique para todos ou nada para ninguém. Assim como a obra prima "Both Poles" (1982), de Jean-Michel Basquiat, avaliada em US$ 4,9 milhões em uma liquidação da Christie's, adquirida recentemente pela Kim Kardashian, a obra explora a tensão entre dualidades, a actual situação em Moçambique coloca o país diante de dois polos opostos: 

o caos e a paz, o progresso e a estagnação, a inclusão e a exclusão. Esses contrastes, embora conflitantes, têm o potencial de revelar caminhos transformadores caso sejam equilibrados com sabedoria e responsabilidade.

A Dualidade no Contexto Moçambicano

O cenário político moçambicano pós-eleitoral é carregado de incertezas. De um lado, estão as denúncias de irregularidades eleitorais e as tensões crescentes alimentadas pelo apelo de Venâncio Mondlane - a voz do povo, candidato da PODEMOS, por justiça e representatividade dos excluídos. Do outro, a expectativa pela decisão do Conselho Constitucional, liderado pela frelimista Venerada Dr. Lúcia Ribeiro, que muitos temem possa pender para a preservação de interesses do partido governista, a FRELIMO, em detrimento da estabilidade e legitimidade democrática.

Assim como Basquiat usa símbolos vibrantes e enigmáticos para articular contrastes e provocar reflexões, Moçambique encontra-se cercado de elementos que simbolizam suas polaridades: uma população empobrecida e marginalizada diante de elites políticas e econômicas que têm acumulado os benefícios de seus vastos recursos naturais. A escolha diante da nação não é apenas política, mas moral, ética e profundamente simbólica. O que poucos académicos em torno da Frelimo não percebem.

O Papel do Conselho Constitucional: Entre o Fósforo e a Chama

Lúcia Ribeiro encontra-se no centro dessa dualidade. Sua decisão, prevista para 23 de dezembro, é como um fósforo que pode incendiar ou iluminar o país. Validar um processo eleitoral questionado seria dar fôlego ao descontentamento popular, potencializando as já existentes tensões sociais. Por outro lado, uma decisão corajosa e transparente que priorize a legitimidade e o interesse colectivo poderia marcar um momento de virada para a democracia moçambicana.

Assim como na pintura de Basquiat, a reconciliação entre opostos não precisa ser vista como inevitável conflito. É possível encontrar, na intersecção das polaridades, um caminho transformador. O Conselho Constitucional tem a oportunidade de restaurar a confiança nas instituições ao rejeitar práticas que perpetuam a exclusão e ao priorizar uma solução que favoreça o povo moçambicano, especialmente os mais vulneráveis.

Uma Visão para o Futuro: Inclusão e Educação

O caos que ameaça Moçambique não é apenas fruto de disputas eleitorais, mas do legado de exclusão histórica que nega à maioria da população o acesso aos frutos da exploração de recursos naturais e ao direito a uma educação de qualidade. Essa exclusão não apenas perpetua a pobreza, mas também impede a formação de cidadãos capazes de conceber projectos e ideias que beneficiem o país como um todo.

Neste momento crítico, é fundamental que a liderança moçambicana adote um senso elevado de patriotismo e compromisso com a maioria excluída. Isso inclui práticamente:

I. Decisões Justas e Transparência

O Conselho Constitucional deve tomar uma decisão que reflita o desejo popular e as evidências apresentadas, mesmo que isso signifique contrariar interesses partidários.

II. Educação Transformadora

Um compromisso renovado com a educação de qualidade é essencial para capacitar as futuras gerações a contribuírem para o desenvolvimento sustentável do país.

III. Gestão Inclusiva dos Recursos Naturais

A riqueza de Moçambique precisa ser gerida de forma transparente e inclusiva, beneficiando toda a população e não apenas uma elite restrita.

Por fim, esta é a Oportunidade para a Transformação

Moçambique, como a obra de Basquiat, possui elementos opostos que, em vez de serem vistos como fontes de conflito, podem ser reconciliados para criar uma nova narrativa. A decisão de Lúcia Ribeiro e do Conselho Constitucional será um marco histórico, não apenas para o desfecho imediato da crise eleitoral, mas para o futuro de uma nação que clama por justiça, inclusão e progresso.

Assim como na arte de Basquiat, o equilíbrio entre os polos exige criatividade, coragem e visão. Moçambique tem agora a chance de transformar suas dualidades em uma força motriz para o desenvolvimento colectivo e para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Que essa oportunidade não seja desperdiçada. Mas conhecendo os actuais decisores, que por hábito aponta soluções fora do contexto e ângulo concreto da situação, fiquemos preparados para o que der e vier como sempre...

Se tendermos para o caos, que dele venha a ordem até Janeiro de 2025.



Comentários