A RAINHA ACIVAANJILA OU ATCHIVANJILA

LIDERANÇA DAS RAINHAS AFRICANAS: A CONSTRUÇÃO DE REFERÊNCIAS LOCAIS E COESÃO SOCIAL. CASO RAINHA ACIVAANJILA

Rainha Acivaanjila V. 

TEXTO RESUMO SOBRE A RAINHA ACIVAANJILA

INTRODUÇÃO

A figura da Rainha Acivaanjila está intrinsecamente ligada ao processo de formação, reinado e sucesso de Estados Pré-Coloniais em Moçambique, caso do Estado Mataaka nos finais do século XIX e princípios do século XX.

Trata-se de uma figura exemplo de superação, um icon comunitário, uma referência indomável, que muito inspira a comunidade de Majune a Província de Niassa, actualmente, ao país no seu todo.

DE ESCRAVA À RAÍNHA

De prisioneira de guerras de razias e de conquistas (escrava), raptada nos territórios do líder tribal Makaanjila, transcendeu à categoria de mulher principal do Mataaka I, transformando-se numa das figuras feminina e símbolo de poder feminino no Niassa, Moçambique, em África e no mundo em geral.

A sua história está intrinsecamente ligada ao engrandecimento do Estado Mataaka em termos políticos, sociais, geográficos, económicos e demográficos. Através dos seus conhecimentos na medicina tradicional contribuiu para sucessos nas campanhas de razias contra outros reinos africanos (de norte de Moçambique), e na purificação dos escravos que eram levados para o litoral afim de alimentar o comércio de escravos, principal fonte de reprodução e manutenção do poder.

Rainha ou Bibi Acivaanjila de escrava da corte real ascendeu ao estatuto de mulher principal do Mataaka I, Ce-Nyambi, depois da morte da Bibi Mbumba. Bibi Mbumba foi a primeira esposa do Mataaka I, Ce-Nyambi, assassinada pelo Régulo Makaanjila, numa acção de retaliação ao ataque sofrido nos seus territórios, na qual Mataaka I, obteve vários escravos de guerra, fala-se em mais de cem.

A partir desse episódio, Acivaanjila ou seja Alusi Apitangombe (seu nome verdadeiro), assumiu o estatuto de esposa principal em virtude dos conhecimentos adquiridos durante o período de convivência com a perecida Rainha, na invocação aos antepassados, na preparação da farinha sagrada usada para as expedições guerreiras, dirigir as cerimónias de purificação dos guerreiros antes de enfrentar alguma campanha de conquista e expansão e, pelo sentido humanista que sempre a caracterizava.

O REINADO DA ACIVAANJILA

O reinado da Acivaanjila teve o seu início, de acordo com a tradição oral, por volta de 1865-1870, visto que nessa altura já havia se dado a dispersão do povo Yao e formadas as principais chefaturas locais.

Durante esse período, Rainha Acivaanjila passou a estar no centro de todo aparato ideológico que circundava em torno do soberano ou Sultão Mataaka I e de todo processo ligado a reprodução do poder dentro do Estado.

De acordo com a memória colectiva do distrito de Majune recolhida durante trabalho de campo levado a cabo pelo ARPAC-Niassa, movida pelo espírito de humanismo, a Bibi Acivaanjila teve compaixão das pessoas condenadas à morte, castração e a escravatura. 

Visto que durante o seu mbopezi  pedia aos antepassado para que lhe desse muitas pessoas para suprir o vazio que sentia pelo facto de ser sido tirada da sua povoação muito jovem, indignada com as atrocidades cometidas pelo seu esposo, entrou em contacto com os guerreiros destacados para executar as sentenças bárbaras do sultão, pedindo para as deixar viverem escondidas nas montanhas da região de N´conde.

Passado algum tempo, Bibi Acivaanjila soube que os prisioneiros já tinham constituído uma grande aldeia e convidou seu marido para visitar a povoação. Nesta visita, Mataaka I, Ce-Nyambi ficou muito impressionado pela recepção calorosa e pela multidão existente.

Totalmente rendido pela conquista da jovem esposa, decidiu investir a sua esposa como dona e rainha daquela população. Nesse contexto, Mataaka atribuiu a sua jovem esposa, o nome de Acivaanjila, que em língua Yao significa criar, fundar ou quem faz para si mesma.

Ce-Nyambi, morre em 1879 vítima de doença prolongada. Esse acontecimento vai marcar um período de profundas transformações no Estado Mataaka, caracterizado pela saída da Bibi Acivaanjila da corte real estacionada em Mwembe-Nkonde.

Aventa-se a hipótese de que a Bibi recusou-se casar ou ser herdada por Mataaka II, Ce-Nyenje, porque era mais poderosa. Assim sendo, ela passou a residir na região central da província de Niassa (Majune), concretamente em Macolo, com a sua população.

Acivaanjila foi amparada ou seja protegida pelo Matola I, chefe de guerra de Mataaka e primo directo do Mataaka I (tradicionalmente considera-se irmão). Com quem manteve um relacionamento simbólico, ele passava uma semana no seu povoado em Mecualo e outra no povoado da Bibi Acivaanjila.

A SUA RESISTÊNCIA CONTRA A PENETRAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA

Acivaanjila dirigiu um vasto território, organizou um exército, encontrou formas locais de protecção das suas fronteiras contra as incursões inimigas, entre outras coisas. Resistiu de forma heróica contra a penetração colonial portuguesa e de todas as formas de pacto de boa convivência com as autoridades portuguesas.

Por isso mesmo, foi presa por duas vezes pelas autoridades coloniais portuguesa (1902 e 1917), mesmo assim, continuou mantendo a sua postura anti-colonial, facto que mereceu reconhecimento das autoridades coloniais.

Como se pode depreender, Acivaanjila é um exemplo de resistência contra a penetração colonial. Infelizmente, a literatura colonial não apresenta registo sobre ela tornando-a invisível no processo histórico. Acivaanjila resistiu de forma enérgica a colaboração com as autoridades coloniais através de uso seus conhecimentos e saberes.

Valendo-se desses conhecimentos, usou para fortalecimento dos seus territórios, criando condições para que o número da sua população conhecesse incremento constantemente. E buscando incessantemente condições para que houvesse harmonia e que a sua população ficasse livre das doenças, pragas, entre outras calamidades naturais.

A MORTE E SUPULTURA DA RAINHA ACIVAANJILA

A Rainha Acivaanjila morreu em 1926. A sua sepultura é um verdadeiro santuário do distrito de Majune e fica localiza a cerca de 10km da sede do distrito e a cerca de 150km da cidade de Lichinga, capital provincial de Niassa. Durante a passagem ao local, todos os automobilistas devem reduzir a velocidade, desligar o sistema sonoro, tirar chapéu e passar em silêncio.

Durante as cerimónias no local, tantos homens como as mulheres devem entrar de tronco nú e descalços. Segundo os naturais, quando não são rigorosamente cumpridos esses rituais, pode aparecer animais estranhos, entre outras coisas que dispersa os visitantes.

DESAFIOS

  1. Colocar a história da rainha nos currículos escolares;
  2. Acentuar pesquisas sobre mulheres líderes da província da Niassa;
  3. Colocar a história da Rainha Acivaanjila nas telas de cinema; e,
  4. Criar um pequeno mural em formas de mini-centro interpretativo no espaço adjacente ao túmulo para enfatizar a importância do local de interesse histórico que ostenta o nome de Acivaanjila.

LICHINGA, 11|04|23





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