SER ACTIVISTA EM MOÇAMBIQUE
Entre o Dever de Denunciar e o Direito à Dignidade
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“A coragem de dizer a verdade não dispensa a prudência de saber como dizê-la.”
— Reflexão inspirada em conselhos de Adriano Dinala
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Em tempos em que o silêncio tem sido cúmplice da corrupção, da impunidade e das injustiças sociais, o papel dos activistas e denunciantes tornou-se mais necessário do que nunca. Mas a urgência de agir não pode sobrepor-se à sabedoria de agir bem. Denunciar é um acto de cidadania, sim — mas também é um exercício de responsabilidade.
⚖️ A Dignidade Humana como Princípio e Limite
A luta por uma pátria justa não deve transformar-se numa caça às bruxas. O activismo verdadeiro é aquele que eleva a dignidade humana — mesmo quando confronta os que a violam.
Atacar pessoas sem provas sólidas, lançar acusações sem fundamento ou partilhar boatos não é coragem: é imprudência que mina a credibilidade do próprio activista e fragiliza a causa que ele defende.
Em Moçambique, onde a fronteira entre o poder político e o aparelho de Estado é por vezes ténue, a prudência é mais do que uma virtude — é uma necessidade de sobrevivência.
📚 Leiam o Código Penal: Conhecer a Lei é Proteger-se
O primeiro passo para quem deseja ser activista ou denunciante é conhecer o Código Penal.
As leis moçambicanas preveem crimes como difamação, calúnia e injúria, mesmo quando a intenção é denunciar um acto de corrupção. O desconhecimento da lei não isenta de responsabilidade, e muitos activistas acabam a responder em tribunal simplesmente por falta de orientação jurídica.
Conhecer a lei é, portanto, uma forma de resistência inteligente.
🏛️ Denunciar Instituições e Sectores, não Pessoas
Outro ponto fundamental é focar a denúncia nas instituições e nos sectores de actividade, e não em nomes individuais — a menos que haja provas documentais, testemunhais ou factuais que sustentem as acusações.
A forma mais segura e responsável é usar expressões como:
“Há informações de que o Sector X apresenta irregularidades na gestão dos fundos”;
“Há relatos de que na Instituição Y têm ocorrido práticas que merecem investigação.”
Esta abordagem protege o denunciante e mantém o foco no interesse público, evitando o erro de transformar a denúncia num ataque pessoal.
🔍 Apurar Antes de Publicar
Antes de tornar pública qualquer acusação, o activista deve confirmar se o acto realmente aconteceu. É preferível perder a “exclusividade da notícia” do que perder a dignidade e enfrentar processos judiciais por difamação.
A pressa em publicar pode destruir reputações inocentes e, por consequência, enfraquecer o próprio movimento social que busca a verdade.
🚨 A Prudência é uma Forma de Coragem
Adriano Dinala resumiu bem:
“Cuidado, atacar directamente leva ao que aconteceu.”
Esta advertência é um lembrete vivo da realidade moçambicana, onde a crítica directa a indivíduos ligados ao Estado pode resultar em represálias políticas, profissionais ou judiciais. Ser activista não é ser imprudente — é ser corajoso com inteligência.
💬 Conclusão: O Activismo como Dever Ético
O activismo responsável não é apenas denunciar o mal, mas fazê-lo de modo que inspire confiança, respeito e mudança.
Cada palavra publicada, cada vídeo gravado, cada texto partilhado deve honrar três pilares fundamentais: verdade, dignidade e responsabilidade.
Porque o verdadeiro activista não procura protagonismo — procura justiça.
E a justiça, quando nasce da verdade e da prudência, é mais forte do que qualquer poder que tenta calá-la.
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Por Paulino Intepo
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