Participar na vida política é ser político?
Participação na vida política é ser político? |
O facto de trocar uma lâmpada, consertar uma torneira, pregar algo, ensinar qualquer coisa, recomendar um produto, criticar ou buscar pelo entendimento de algo, etc. não nos faz automaticamente sermos eletricistas, canalizadores, carpinteiros, professores, técnicos de marketing, filósofos ou cientistas, etc.
Preocupar-se pelo bem comum é dever de todos e preservar a natureza e proteger, fazendo uso dos recursos existentes de forma sustentável é nossa inteira responsabilidade cívica. Não é necessariamente a tarefa daqueles que se encarregam a velar por isso, pois o quão bom e sábio que se poder ser, o poder corrompe-nos. Independentemente da religião ou crença.
O que é a vida política e um ser político?
Na primeira impressão, o termo "político" refere-se à pessoa que se envolve nas actividades, processos e debates relacionados ao governo, à governança e à tomada de decisões colectivas. Nestes moldes a participação na vida política ocorre quando directamente há afiliação a um partido político, candidatura a um cargo eleitoral, envolvimento em campanhas eleitorais e activismo político
Outra característica de ser político é ter interesse, conhecimento e participação activa nos assuntos públicos que afetam a sociedade como um todo. Isso pode incluir a defesa de ideias e valores, a formulação de propostas, o debate de questões relevantes, a busca por soluções para problemas sociais, a negociação de políticas e a busca de consensos.
Em síntese, no sentido restrito, o termo "político" geralmente se refere à pessoa que ocupa um cargo político, seja como representante eleito, membro de um governo ou algum outro cargo oficial dentro do sistema político. Portanto, ser político implica assumir uma posição formal dentro da estrutura política.
Exercício da política de pessoas comuns.
Mas isso não significa que pessoas comuns não possam se envolver na vida política ou ter influência nas decisões políticas. A participação cívica e o envolvimento activo nos assuntos públicos são formas de contribuição para a vida política, mesmo que não se ocupe um cargo político.
Por exemplo, na visão do Aristóteles, fazia jus que qualquer ser humano é por natureza um ser político. Pois este sendo parte e vivendo em sociedade, se envolve no exercício de direitos e deveres cívicos, como o voto e o respeito às leis. Notavelmente pode participar em protestos ou movimentos sociais, engajamento em grupos de defesa de direitos, entre outros.
Nesse sentido os cidadãos assim sendo, podem exercer sua cidadania por meio de várias acções, como: votar nas eleições, participar de protestos, fazer lobby por determinadas questões, se engajar em organizações da sociedade civil ou mesmo ao se informar sobre questões políticas e expressar suas opiniões.
Embora a palavra "político" seja geralmente usada para se referir a pessoas que ocupam cargos políticos, a participação dos cidadãos comuns na vida política é fundamental para uma sociedade democrática saudável. Portanto, é possível se envolver na vida política sem ser um político no sentido restrito do termo.
É importante ressaltar ainda, que a participação na vida política não se limita apenas àqueles que ocupam cargos eletivos ou desempenham funções públicas. Qualquer cidadão pode ser político ao se envolver activamente no debate público, expressar suas opiniões, exercer sua cidadania e buscar influenciar as decisões políticas e os rumos da sociedade onde está inserido.
Os motivos da rejeição ou negação do termo por algumas pessoas.
A repugnância em relação ao termo "político" está associada a várias razões possíveis em decorrência das experiências e acepções axiológicas, como tentamos demonstrar nas seguintes explicações:
1. Desconfiança e descrença na classe política
A falta de exemplaridade dos indivíduos e aliado ao mau carácter e a falta de honestidade por aqueles que desempenham alguns cargos públicos, faz com que algumas pessoas desprezem e criem sentimentos negativos em relação aos políticos e ao sistema político como um todo.
A percepção de corrupção, falta de ética, promessas não cumpridas e escândalos políticos pode levar à repugnância em relação aos políticos em geral. Até criar pavor em tudo que pareça ser político no sentido restrito do termo ou quando associado ao partido.
2. Polarização política
Em muitos casos e contextos, a política se tornou altamente polarizada e divisiva. As pessoas podem sentir repugnância em relação aos políticos de um determinado espectro político ou partido, associando-os a visões extremas, retórica agressiva e falta de diálogo construtivo e qualquer forma de intolerância expressiva proliferada em propagandas.
3. Frustração com a burocracia e ineficiência
Pela noção de instituições e organizações públicas com seus sistemas obsoletos ou as vezes criados apenas para acomodar interesses não transparentes ou que só beneficiam a minoria elitista, e que não funcionam para o resto da maioria da população, frequentemente associada à burocracia e à lentidão na tomada de decisões. Isso trás a percepção de que os políticos não estão resolvendo os problemas de forma eficaz ou não estão respondendo às necessidades das pessoas pode gerar repugnância.
4. Ceticismo em relação ao poder e à influência política
Algumas pessoas podem se opor à ideia de exercer poder e influência sobre os outros, e veem a política como um meio de exercer controle sobre as pessoas. Esse ceticismo em relação ao poder político pode levar à repugnância em relação aos políticos.
É importante ressaltar que essas razões não são universais e que a percepção das pessoas em relação à política pode variar significativamente, de acordo com o seu estado cognitivo e o factor cultural também conta. Existem pessoas que se sentem inspiradas pela política e veem os políticos como agentes de mudança positiva.
No entanto, a repugnância em relação aos políticos pode ser um reflexo das frustrações e desconfianças que muitos indivíduos têm em relação ao sistema político e aos seus representantes.
Alguns autores e percursores da matéria
Existem diversos autores que trataram sobre as questões relacionadas à política, descrença nos políticos, polarização, burocracia e poder político. Aqui estão alguns exemplos de autores que abordaram esses temas:
1. Hannah Arendt (1906-1975): Filósofa política alemã, escreveu extensivamente sobre política, poder, autoridade e participação cívica. Suas obras incluem:
"A Condição Humana";
E "Entre o Passado e o Futuro".
2. Michel Foucault (1926-1984): Filósofo e teórico social francês, abordou temas como o poder, a governamentalidade, a disciplina e a vigilância. Suas obras incluem:
"Vigiar e Punir"; e,
"Microfísica do Poder".
3. Max Weber (1864-1920): Sociólogo alemão, discutiu a burocracia, o poder e a legitimidade na política. Suas obras incluem:
"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo"; e,
"Ciência e Política".
4. Francis Fukuyama (1952): Cientista político e autor norte-americano, escreveu sobre a política contemporânea, incluindo a descrença na classe política e a decadência institucional. Sua obra relevante para essas questões é:
"Confiança: As Virtudes Sociais e a Criação da Prosperidade".
5. Sheldon Wolin (1922-2015): Cientista político norte-americano, analisou a política contemporânea, incluindo a influência do poder corporativo e a crise da democracia. Em sua obra de referência importante é:
- "Democracy Incorporated: Managed Democracy and the Specter of Inverted Totalitarianism".
Há muitos outros escritores, filósofos, cientistas políticos, artistas e sociólogos que também contribuíram para a discussão dessas questões complexas evitadas pela maioria das pessoas e multifacetadas relacionadas à política, que trazem muitas transformações ao longo da existência da humanidade.
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