Tratar bem as pessoas, vai além dos aspectos raciais

 "Don't Go Rosie": Reflexões de que ninguém nasce racista?

Espero que este ensaio estruturado e as reflexões apresentadas contribuam de alguma forma para explorar essas questões complexas e promova maior consciência de humanidade e compaixão nos seres humanos. Por favor, compartilhe e vamos tentar construir um mundo melhor para nós e para as futuras gerações. 

Quaisquer outros pensamentos ou reações, mudam tudo…


Lino I. Mucuebo

(linoisabelmucuebo@gmail.com)


Introdução

Depois de uma tarde de sábado, a primeira de Dezembro de 2023, tentava descansar os olhos, dada a maior exposição a um material electrónico - PDFs sugeridos, quando deparei-me no grupo de Whatsapp, O Verbalyzador, vídeo e comentários sobre a babá Rosie. Comovi-me com lágrimas quando conferi os vídeos sobre a Rosie. Chocante e emocionante a situação descrita - de uma babá negra, Rosie, se despedindo em lágrimas de crianças brancas no aeroporto. Simples. 


Mas para pessoas como o autor desta publicação, o episódio destaca dinâmicas complexas de raça, poder e privilégio na sociedade moderna, onde pelas algumas circunstâncias impostas, questões como cuidar e amar tem dimensões que extravasam o ideal de como elas seriam. 

Rosie e as 04 crianças, num aeroporto
Do vídeo original:Maria.Cataleya.Official TikTok


As crianças chorando inconsoláveis, enquanto seus pais parecem impotentes para confortá-las, é uma imagem poderosa que levanta questões sobre as relações entre os homens, as camadas mais favorecidas e desfavorecidas, o qual está na consciência dos pais. Mas nas crianças, pela boa e fraterna convivência com a babá, pode despertar o quão angelical é a Rosie. Como pessoa, obra de algum Criador do bem. 


Análise e Interpretação

Claramente, Rosie compartilha um vínculo profundo com as crianças após cuidar delas por muito tempo. E deve ter tratado as bem ou tem as tratado de certo modo que só em contos de fadas acontece. Como Bell Hooks disse em seu livro "Teaching Community" (2003): 


"Muitas vezes, empregados domésticos negros criam laços mais estreitos com as crianças brancas para quem cuidam do que os pais brancos com quem as crianças realmente estão relacionadas" (p. 107). 


Isso destaca as desigualdades onde os pais dispõem de recursos para contratar cuidadores, enquanto esses cuidadores têm pouca escolha a não ser deixar seus próprios filhos para trás e cuidar das outras em troca de poder sustentar as suas. Nesse acto, a dado momento, quem é amável e sensato, age como uma flor, que espalha a sua fragrância pela sua natureza de ser. E, não como uma contratada para demonstrar amor e carinho.

Rosie e as 04 crianças, num aeroporto
Do vídeo original:Maria.Cataleya.Official TikTok

Além disso, a situação simboliza a exploração histórica de babás e empregados domésticos como observado por Audre Lorde: 


"As degradações históricas sofridas por gerações de mães pretas que foram obrigadas a delegar o cuidado de seus filhos a outras pessoas enquanto cuidavam da prole dos senhores brancos são demasiado numerosas para serem esquecidas" (Lorde, 1980, pp. 115-116).


As crianças vendo Rosie como figura materna destaca o privilégio racial do qual desfrutam, enquanto Rosie permanece em uma posição subalterna apesar de sua clara importância na vida dessas crianças. Sua partida e as emoções descritas expõem as divisões sociais injustas ainda operantes, que algumas crianças são impostas pelos adultos. 


Ademais, as crianças vêem um anjo profundo, que poeticamente, diz-se que elas conseguem enxergar a alma das pessoas e não as cores da pele que as cobre. Nós, os adultos, é que ensinamos toda futilidade e burrice que transmitem aos outros ao longo da vida. Admito estar equivocado. Mas há quem ainda trouxe do vídeo a seguinte reflexão:


"Muita interpretação em torno deste vídeo...

- É evidente que as pessoas não nascem racistas, mas sim são ensinadas.

- Este afecto que as crianças demonstram para com a Rosie pode ser o sinal de atenção que tem oferecido a eles mais do que os próprios pais.

- Se os pais destas crianças lhes permitissem, elas viajavam com a Rosie tranquilamente acredito que mesmo independentemente das condições da casa dela elas ficariam com ela à vontade."


Profundo. Simplesmente genial o raciocínio. Em suma este vídeo têm um conteúdo muito forte e que cada um pode decifrar ao seu gosto e belo prazer, positivamente, segundo as suas acepções, desde que tenha algum cérebro ideal para um mundo melhor para nós e para as futuras gerações. Bem como reduzir a profundidade, mediante o tamanho da sua ignorância aos aspectos sociais que fazem diferença ou criam desavenças. 


Conclusão

Situações como essas, embora talvez pareçam superficiais ou individuais, têm raízes nos sistemas de opressão estruturais que permeiam a sociedade. Elas revelam como o racismo e os privilégios sustentam desigualdades profundas na forma como as pessoas são valorizadas e tratadas. A imagem de Rosie partindo enquanto as crianças choram descontroladamente destaca essas verdades duras, mas necessárias de confrontar antes que a cura e a verdadeira justiça possam ocorrer. 


Todos os seres humanos, independentemente da raça ou classe, merecem dignidade e devem poder criar laços significativos sem serem explorados, o que provavelmente Rosie fez, talvez sem qualquer obrigação de o fazer. Somente através da conscientização e acção contra essas injustiças arraigadas a sociedade pode progredir em direção a um estado mais iluminado e compassivo. Atenção, algures neste mundo, há também onde os brancos são discriminados pelos negros, o que consequentemente deve ser repudiado.


Referências

Hooks, B. (2003). Teaching community: A pedagogy of hope. Routledge.


Lorde, A. (1980). Age, race, class, and sex: Women redefining difference. Copeland Colloquium, Amherst College.


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Comentários

  1. O episódio é muito forte. Emocionante e comovente. Assim é a realidade que dia após dia a baba dá no duro para cuidar dos nossos filhos!

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