Moçambicano é um ser alienado e não pacífico.

Moçambicano é um ser alienado e não pacífico.


Por: Lino Mucuebo
(linoisabelmucuebo@gmail.com) 

Um convite à lucidez

Os factos sobre a reflexão que dá conta que o povo moçambicano é alienado, vem desde as observações quotidianas avaliadas pelo comportamento geral e individual dos cidadãos de Moçambique, face à reacção sobre vários aspectos que deveriam ser de preocupação colectiva e até levantar sérias indignações, com tendências para revolta ou outro tipo de manifestação.

Facto que resulta pela condição humana de um povo, que se dá por conformado e desleixa qualquer tentativa para contornar a situação. Vulgarmente, atribui-se a este fenómeno colectivo como sendo passividade ou um povo pacífico de mais e tolerante a tudo que é sujeito. 

Algo que incomodaria qualquer ser que tenha alguma consciência sobre a realidade em detrimento de agir para mudar, prefere manter-se apático e indiferente ao seu sofrimento, bem como aos demais e das futuras gerações. Ser pacífico residiria em optar por resoluções sem violência. O que objectiva este artigo em mostrar que os moçambicanos não são pacíficos mas sim alienados. 

Conceito de alienação 

Alienação é um conceito complexo na filosofia e nas ciências sociais, onde pensadores como Karl Marx, procuraram explorar ao referir um sentimento de que o trabalho de alguém não tem significado ou propósito real, ou que o trabalhador não tem controle sobre o próprio trabalho, no âmbito da alienação do trabalho. 

Porém, de modo geral se refere a um sentimento de separação ou estranheza em relação a aspectos da existência humana que normalmente se consideraria que fazem parte da identidade essencial de uma pessoa. 

Outros tipos de ideias-chave sobre a alienação inerentes ao presente tópico incluem a alienação existencial e auto alienação. 

  • Alienação existencial

É um sentimento mais amplo de falta de significado ou separação dos aspectos universais da condição humana. Pode envolver sentimentos de solidão, insignificância ou falta de propósito.

  • Auto Alienação

Um sentimento de estar desconectado ou separado de aspectos essenciais do próprio self, como paixões, crenças, valores ou criatividade. Isso é visto em situações onde as pessoas não podem "ser elas mesmas".

Sumariamente, a alienação envolve estar separado de algo que deveria ser uma parte integrante de quem somos como seres humanos, seja economicamente, socialmente, existencialmente ou em termos de autenticidade pessoal. Isso pode causar sofrimento psicológico e impedir a autorrealização.

Os moçambicanos são sim alienados e não pacíficos

Um dos objectivos deste artigo, é negar pacificamente a atribuição rotular que dá aos moçambicanos de serem pacíficos. Pois, ser um povo pacífico não é o mesmo que ser um povo alienado. O pacífico é ciente dos seus actos ao passo que o alienado não, como veremos a seguir. 

Um povo pacífico refere-se a uma sociedade onde os cidadãos optam por resoluções não violentas de conflitos, buscam o diálogo e demonstram valores de tolerância. Isso pode ser uma escolha consciente, não um sintoma de apatia ou falta de engajamento colectivo. 

Já um povo alienado politicamente refere-se a uma população que se sente incapaz de influenciar as decisões governamentais e o rumo político de seu país. Há um sentimento de impotência e descrença de que a participação política possa levar a melhorias reais. Chegando ao ponto de desacreditar as instituições e as entidades estatais. 

Na verdade, num ponto de vista profundo e independente, nota-se que o povo pode ser pacífico justamente por ter canais adequados de participação política e confiar que sua voz é ouvida pelos governantes. Não precisaria então "protestar" para ser notado. O que não é o caso do povo moçambicano. 

Portanto, pacifismo e alienação política não são sinónimos, pese embora se confunda muito e haja uso frequente deste atributo aos moçambicanos. Um povo pacífico está tomando uma decisão activa por meios não violentos. Já um povo alienado, como somos, se sente incapaz de impactar o status quo por qualquer meio disponível no sistema político vigente.

05 argumentos das observações na Opinião Pessoal

Para defender as observações que sustentam de que o moçambicano é um "ser alienado" devido à atual conjuntura política, que dos quais, alguns argumentos potenciais foram anotados minuciosamente, através das situações que decorreram dentro do território nacional, de forma recorrente nos três mandatos em seis pleitos eleitorais desde 1994, trazemos os seguintes pontos:

1. Falta de voz política

Devido ao sistema político de partido dominante em Moçambique, muitos moçambicanos podem sentir que têm pouca influência real sobre as decisões políticas que afectam suas vidas. Isso pode criar um sentimento de impotência e desconexão do processo político.

Sem mencionar que o modelo de participação de listas fechadas em que os representantes dos partidos políticos na Assembleia da República optam mais pela prioridade dos interesses dos seus superiores que da vontade popular. 

2. Corrupção generalizada

A equação de todo mal. Os frequentes escândalos de corrupção no governo moçambicano e nos negócios privados geram cinismo em relação às instituições políticas entre os cidadãos comuns. Isso pode alimentar um sentimento de que o sistema não representa seus interesses.

3. Pobreza e desigualdade persistentes

Apesar do crescimento econômico nos últimos anos, Moçambique permanece um dos países mais pobres do mundo. Muitos moçambicanos lutam para satisfazer necessidades básicas enquanto uma elite desfruta de privilégios, o que gera claramente a alienação.

4. Conflitos armados recorrentes

Conflitos como a insurgência em Cabo Delgado, adicionam insegurança e disrupção da vida normal para muitos moçambicanos. Isso pode distanciá-los de qualquer noção de identidade nacional compartilhada.

5. Regionalismo e divisões tribais

As divisões e rivalidades regionais e tribais, às vezes, parecem pesar mais na política moçambicana do que plataformas ideológicas, marginalizando ainda mais alguns grupos.

Esses são pontos que sustentam o nosso argumento de que muitos moçambicanos se sentem politicamente alienados e incapazes de moldar seu destino nacional. Há matrizes e contra-argumentos, mas essa é uma perspectiva potencial sobre a conjuntura atual partindo do marco no acordo que deu a luz a democracia o qual se acreditava que funcionaria para o bem dos moçambicanos, depois do regime colonial português. 

Medidas sugestivas para reverter o cenário 

Como não basta só apontar os problemas há que sugerir algumas soluções, aqui apresentamos algumas medidas sugestivas que poderiam ajudar a reverter o sentimento de alienação política dos moçambicanos. Como:

1. Implementação real e concreta de uma reforma eleitoral para tornar o sistema mais representativo e justo. Isso inclui financiamento público de campanhas, tempo de transmissão igualitário para partidos políticos e revisão de distritos eleitorais.

2. Optar por modelo sério e honesto de descentralização política para dar mais voz e poder de decisão às autoridades locais e regionais eleitas. Isso aproxima os cidadãos do processo político e não a jogada de representação parlamentar que não representa vontade popular alguma, mas sim, malabarismos de defesa de interesses comuns de um grupo desalinhado à causa da maioria desfavorecida. 

3. Adopção de mecanismos de democracia participativa como orçamentos participativos, iniciativas populares e assembleias comunitárias para envolver os cidadãos nos processos de gestão dos recursos públicos nacionais, bem como na tomada de decisão.

4. Permitir maior liberdade de imprensa e acesso à informação para promover a transparência, responsabilidade do governo e debates informados e não incentivo aos desinformadores, bajuladores e cleptocratas ignorantes da realidade deplorável das piores condições de vida da maioria dos moçambicanos, em defesa de algum posicionamento dentro do governo ou partido no poder. 

5. Estabelecer o fortalecimento dos mecanismos de checks and balances entre os poderes Executivo, Legislativo e Judicial.

6. São necessárias reformas concretas para combater a corrupção sistêmica, especialmente garantindo a independência dos órgãos de fiscalização e controlo.

7. Implementação de políticas econômicas e sociais mais inclusivas que reduzam a extrema pobreza e desigualdade no país.

8. Introdução de investimentos em educação cívica e política para promover uma cultura democrática entre os jovens. Bem como a consideração do sector de educação como uma questão soberana longe da inflação do jugo das parcerias que desejam cumprir suas agendas à troca de financiamento externo. 

9. Efectivação da promoção de valores constitucionais como justiça social, unidade nacional e respeito à diversidade.

Mesmo cientes que a implementação dessas reformas demandaria forte vontade política e superação de interesses arraigados. Mas a longo prazo pode devolver o protagonismo da política aos cidadãos moçambicanos. Se é que há alguma intenção clara de servir o país com dignidade e patriotismo. Que é o que não se nota no seio dos governantes. 

Considerações finais 

A luz destas e outras observações, pode-se dizer que o sentimento de alienação política relatado por parte da população moçambicana é compreensível dadas as deficiências sistêmicas em aspectos fundamentais da democracia no país. Outro sim, Moçambique poderia ambicionar ser uma nação pacífica e politicamente engajada ao mesmo tempo. Mas para isso, precisaria de mais canais de participação significativa da população e de políticas públicas que reflitam verdadeiramente as demandas populares. Com isso, seria possível conciliar pacifismo com protagonismo cívico.

Mas a falta de canais adequados para participação política significativa, aliada a problemas sociais e econômicos persistentes, corrupção generalizada e falhas em fazer as instituições políticas responderem às demandas populares, gera uma sensação de impotência, cinismo e descrença na política entre muitos moçambicanos.

Isso é preocupante do ponto de vista da estabilidade democrática e coesão nacional a longo prazo. Por isso, é essencial contemplar reformas inclusivas, representativas e equalizadoras para devolver o protagonismo aos cidadãos e resgatar o papel transformador que a política poderia desempenhar na vida das pessoas.

Com vontade política e amadurecimento gradual das instituições, entidades públicas e da cultura cívica, é possível reverter esse quadro e encaminhar Moçambique a uma democracia mais substantiva, donde uma identidade política compartilhada substitua os sentimentos de alienação e apatia. Mas são necessários passos firmes e urgentes nessa direção.

Daí que, somos convidados, mais uma vez, a preparar-se e trabalhar individual e colectivamente para sair do estado de alienação para a lucidez. Portanto, há um atenuante. Apenas estamos num "estado", o que indica que ainda não fomos diagnosticados como sendo a nossa natureza o de "ser" alienados.


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