Calamidades naturais: sofrimento para o povo e oportunidades para oportunistas e dirigentes dos pobres.

Como é que as calamidades geram oportunistas e não oportunidades de ajuda e assistência às vítimas? 

Edil da Matola em acção de ajuda e assistência às vítimas das cheias. 

Não seria uma questão como tal, onde procuraria responder. Mas uma reflexão sobre a aversão que se pode ter sobre as calamitosas chuvas em relação aos recursos mobilizados para intervir em ações de ajuda humanitária.  

Estamos no ano de 2024 no último turno do mês de Março, quando chegam especulações conspiratórias, talvez, sobre os pronunciamentos de Venâncio Mondlane, a pedra no sapato, areia no pão, pesadelo dos pesos pesados que Moçambique tem actualmente na Governação, ou por questões de mudança climática, mesmo.

Nos referimos às 10 pragas por ele prometidas quando da inconformidade dos resultados das eleições autárquicas de Outubro de 2023. Onde de político passou a profeta e retornou à sua postura interventiva, tentando alavancar a sua formação política, caso da marcação do congresso. 

Venâncio Mondlane no anúncio da sua profecia às 10 pragas ao PR Nyusi. 

O seu povo todo distraído e indeciso no seu posicionamento, eis que o ciclone Filipo sacode e acorda a zona Sul onde, como que por obrigação, seja o local em que as mudanças devam começar.

Inundações nas ruas e bairros, depois de Inhambane e Gaza terem sido fustigadas por ventos fortes que deixaram casas, machambas e florestas devastadas. Os que não sofrem com esses eventos cataclísmicos são os governantes, cujas casas são fortificadas, erguidas a um custo superior ao da construção de escolas que tirariam milhares de crianças das escolas-árvore para salas de aulas convencionais e dignas.

O cenário de inundações na cidade de Maputo parece ou é já bem antigo, como se pode ver em algum retrato de 1950, no Moçambique colonial. Hoje, em 2024, ainda não se pode gerir de forma preventiva nem de outra. Imagine como pode ser para outras regiões do país, se o privilegiado Maputo não se pôde.  

Mas a pior parte do cenário deste e de outro tipo de calamidades não é apenas o sofrimento e desespero do povo, independentemente do seu status social, o pior disso é a postura das nossas lideranças face a esses episódios de enxurradas. 

Enquanto o povo, os pobres choram, os dirigentes e governantes, sem deixar de lado o burlas ou gatunos veem nisso uma oportunidade.
Um suposto jetsky furtado numa das residências, vítimas das enxurradas. 

Os outros beneficiados são os oportunistas que nesta publicação, denominamos por gatunos, enquanto noutra abordagem chamávamos-lhes de "imprestáveis". É como se desejassem por isso, para mobilizar desvios desenfreados de fundos desde o erário até às ajudas externas, que muitas das vezes não são monitoradas de modo a se canalizar a quem realmente necessita: caso dos falsos movimentos de solidariedade. 

Fazendo-se disso até, como uma fonte de renda do partido e uma janela de protagonismos de figuras políticas acomodadas nas posições desnecessárias, que o governo criou para os seus sequazes, praticamente inúteis, chegando a ser uma despesa às contas do Estado.

Estas cheias são meramente um sofrimento para o povo, que nem tem hábito e condições de poupar para cobrir quando há eventos desse género. Aliás, muitos dos dirigentes moçambicanos que temos não são criativos até ao ponto de conceber ideias, promover o pensamento crítico ou mesmo adotar medidas preventivas como soluções duradouras e definitivas para os problemas da sociedade que representam.

Quanto menos, só podem se aproveitar dos problemas para justificar o desvio e incapacidade de gerir o que é possível em benefício da maioria, em detrimento do bem pessoal e de um grupo minoritário. Às vezes, só aproveitam esses infortúnios para mostrar a cara, fazer promessas que no fim o povo ainda sofre, pois se existir alguma solução à vista, monopolizam até à sua inviabilização.

Exemplo disso é a burocracia para operacionalização de qualquer esforço para fazer face aos incidentes de chuvas ou de secas severas. Quais são os papéis do Secretário de Estado numa província? O que fará o Governador, o Administrador, o Presidente do Município, delegados de várias instituições que se fazem acompanhar na mesma comitiva da Província e da área afetada? 

Serão visitas constantes e remuneradas, promessas vazias ao povo, que nada de imediato terá ou se fará antes de se esperar ver a vontade de alguma organização não governamental e parcerias privadas ou coletivas de boa vontade, seguidos de estudos de viabilidade daqui e acolá... simplesmente triste e avassalador.

Então, quem sai a ganhar nas circunstâncias calamitosas são os governantes, dirigentes e suas formações políticas, que seriam responsáveis em disponibilizar e mobilizar recursos, mas desviam ao invés de canalizar aos reais necessitados. Antes do IDAI, vimos em vários outros cenários anteriores em que instituições como o INGD sempre saíram com nódoas. São ineficazes para intervir.  



É inacreditável que um país como este não haja uma prontidão para atender questões adversas inerentes à emergência, tendo noção do quão somos vulneráveis aos efeitos climáticos, sem mencionar a instabilidade político-militar e o terrorismo. As funções que a nossa chefia desempenha nas situações desse género é deplorável e características de mau caráter ou de oportunistas, se não de gatunagem.

Porém, enquanto o Senegal celebra a vitória de um jovem de 44 anos, nós os outros lamentavelmente ridicularizamos os Venâncios, não questionamos o desaparecimento dos Samitos, choramos por infraestruturas destruídas que os mais privilegiados fazem dessa imagem um motivo para angariar e desviar recursos que serviriam para a sua recuperação.

Isso é o que dá ao se ter líderes que temos e eles serem ainda a nossa cara. Pois, cada povo tem os líderes que merece. Se essas calamidades são por conta de alguma profecia ou não, não sabemos. O certo é que o povo torna-se vítima a dobrar: sofre por efeito e é usado para desvios de verbas e ajudas.

Enquanto os "bosses" adoram ver esse sofrimento, pois eles aparecem como a salvação, ainda que só soltando migalhas e monopolizando soluções. Por aí, aparecem mobilizações de pedidos de ajuda para canalizar às vítimas que, por falta de transparência, desvia-se para armazéns e destinos clandestinos, se não aos mercados.  

Precisamos de dirigentes proativos e capazes de trazer ou acolher soluções duradouras e definitivas dos nossos problemas. Bem como de autoridades sérias para repor a dignidade e justiça dos processos. Não um bando de camaradas bajuladores, egoístas, burros, corruptos e lacaios. 

Assim como há uma necessidade de evoluirmos para saber tratar dos nossos problemas sem esperar assistência humanitária externa. E não uma gestão corrupta e incompetente que usa a imagem do sofrimento do povo como uma montra de mendicidade aos olhos do mundo inteiro.

Lino Isabel Mucuebo TEBULO

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