Meus pêsames ao Povo moçambicano.

Quem ganha e quem perde com a morte da Azagaia? Falsos Sensacionalistas e oportunistas.

Jovem no teto duma casa alegando estar ressentido pela morte do Azagaia. Algures em Moçambique. 

Não queria entrar nesta onda de oportunistas e falsos moralistas, alinhados ao mesmo tempo como covardes e sensacionalistas. Aliás, podia até me dar o trabalho de ir mergulhar nas profundezas da língua lusa e busca os termos apropriados para o que quero desabafar nesta ocasião. Infelizmente, terei que entrar nessa sujeira “também”, pois algo não me parece justo, ainda que sem o vocabulário convincente para o efeito. 

Até que tenho muito a pensar além da minha própria vida, assumi a missão proporcionar um mundo melhor para as futuras gerações. Mas o medo é preparar armadilhas ou impor às pessoas o que é errado, pensando que estou a fazer o bem, prejudica-las antes mesmo de salvá-las. Isso me assusta. O que me incomodou foi ver o quão “dizem” que o rapper Azagaia foi até o anúncio da sua morte para nós moçambicanos.

Pois a grandeza de um homem vê-se depois de se anunciar a sua morte. Mobilizações e manifestações podem ser feitas em massa, acontecem pelos vivos de modo a demonstrar o quão amavam o finado. Ou melhor, só notamos o valor das coisas quando as perdemos. Assim surgiram desde as primeiras horas das informações em forma de especulações até as confirmações ditas das fontes oficiais e seguras.

Mas quando esteva vivo ninguém se importava tanto com a sua imagem, sua música e sua convicção artística pela escolha de falar daquilo que todos sentimos mas poucos estamos dispostos a combater. Ou melhor, sem largar o conforto como tal, apenas tomar uma postura para fazer parte daqueles que querem desenvolver Moçambique. Honestidade e justiça para nós as vezes parece arte ou dote, que poucos têm aspiração para tal.

Agora o que me fez entrar nessa pocilga de impuros e falsos é o sensacionalismo barato dos falsos moralistas de como estão endereçando as suas condolências ao porta-voz do povo: fotos nos perfis e murais das redes sociais, com dizeres ou mensagens que além de condolências, vão para propagandas com fins lucrativos. 

Não me vou debruçar sobre o significado do termo “sensacionalista”, cunho ele como oportunismo manifesto pelas mídias e pessoas de má fé, dentre daquelas que querem a qualquer custo tirar o proveito pessoal, com essa triste notícia.

Se achar o melhor termo do que pretendo dizer, volto e direi, de novo. Mas até onde sei, se encaixam os oportunistas e falsos moralistas nas acções que vejo a serem programadas para prestar a homenagem ao Edson da Luz, inimigo do comodismo, da corrupção e de outros males que infernizam este país. 

Calou-se a sua voz para as próximas composições. E ele não ganhava tanto assim em valores comparativamente com o que se podia fazer o teor de conteúdo o qual compunha suas letras e chegavam a nós. Era um perigo a governação e ao regime. 

Fomos injustos para com ele (o Azagaia).

Ora vejamos, ele foi rapper, escolheu um lado e conseguiu a popularidade com a tal linhagem, persistindo e resistindo a qualquer ameaça, típico de um guerreiro e super-homem, pela arte, pela música, entre versos e muita informação de utilidade pública e fundamental para a formação duma cidadania emancipada. 

À natureza de um génio, chegou nos ouvidos de muitos moçambicanos. Temo mentir que era dos mais populares na lusofonia e mais admirado entre os rappers da sua época e a posterior, mais odiado também sem competir com ninguém!? Foi o melhor no seu jogo. Prontos foi o Azagaia.

Aposto estar certo que com a sua morte, muitos fazedores têm a oportunidade de se destacar, pois sendo eu próprio como rapper, sentia que Azagaia ofuscava os do seu tempo. Desde que ele componha com o Escudo, formavam um duplo suicida que só Duas e 100 depois do país da marrabenta pareceu mais interessante, a questão do Underground. 

Onde sentia ser mais lírico antes da versão da linguagem aberta, como fazia ultimamente para tentar ser perceptível aos moçambicanos menos letrados, que pouco domínio tem de ouvir e perceber algo dito em português.

Muitos rappers ditos underground ou intervencionistas sabem como é difícil fazer conteúdos com relevância e acertados de forma a ser percebido pelos comuns. Já aos que bem entendem português e alguns decoravam ou memorizavam suas letras, é lamentável e absurdo que hoje venham a querer fazer homenagem a ele, enquanto não estão dispostos a encarar a luta na qual ele estava envolvido. É o preço de ser heróis – deu o que tinha e nada teve em troca na dimensão do que deu.

Incredulidade

Li e vejo muita energia que uns tem para dar e vender em prol de um Moçambique melhor  que ele queria constituir. Mas bem, acho que temos no geral problemas de gestão de esforços. Vamos nos movimentar depois da sua morte, contribuir para o seu funeral, marchas aqui e ali, vigílias, eventos em homenagem, textos e postes em murais, músicas e vídeos até filmes serão feitos ou poderiam ser exibidos. Haverá muita actividade criativa para justificar o quão nos significou.

Mas não haverá nada igual ou parecido com a mesma tenacidade para repudiar escândalos das atividades que ele tentava combater. Dentro dos rappers mal sucedidos já há rumores que uns estão a cobrar valores para se pronunciar face à sua morte. Aliás, dizer o que sentem. Alguns já estão somando visualizações, downloads e vendas com produtos e serviços em sua homenagem. Pobre Azagaia.

Qual partido político pode ainda manifestar o seu apreço endereçando condolências, cá entre nós sabemos que são aquelas manobras populistas para atrapalhar os distraídos. Estranhamente, não seria de esperar ver uma publicação na página do PR actual ou do Ex-PR e do antigo PR. Afinal, é uma oportunidade porque não explorar ao favor

Típico de oportunismo

Vai se facturar muito em prol da sua morte. Era um rapper incrível que antes do sociólogo e filosofo português (...), falar dele, Nguenha e outras entidades moçambicanas (escritores com altos níveis de escolaridade), mencionavam e reconheceram sua luta. Mas porém todas essas figuras que me refiro, foram ignoradas pelos mesmos moçambicanos que Azagaia defendia, acho por serem pretos. Só quando um europeu falou dele, aí viram Azagaia como o maior e melhor.

Severino Nguenha: os tempos africanos do mundo 2022, pag 85.

Aliás, quem perde e quem ganha na morte do Azagaia? Perde o país e ganham os falsos moralistas, desde os que nunca foram nos seus shows, nunca pagaram um CD seu, nem compravam as suas músicas nas plataformas digitais onde estavam disponíveis. Mas agora depois da sua morte, muito material será vendido. Espero que os seus filhos, se teve, aproveitem algo ou façam chegar os ganhos.

Diria que o povo moçambicano não perdeu nada com a morte daquele filho de Moçambique. Pelo contrário, tal como os políticos e dirigentes o qual eram suas vítimas ganharam um alívio. Azagaia incomodava a todos covardes e inócuos a qualquer educação política. Porque em vida preferiam ir num espetáculo de quem promove sexualismo, banalidades e qualquer repugnância, que ir ouvir o que aquele génio poético dizia.

Das críticas para acções

Por mim, baste que façamos o que é certo para Moçambique desde 09 de março de 2023, ele agradeceria bastante. Tirar a ministra da educação; pôr nos lugares certos pessoas certas e comprometidas com o bem-estar de Moçambique antes nunca e unicamente do bem-estar individual; repudiar qualquer acto de corrupção; mudar de governo ou das pessoas que travam o desenvolvimento do país; multiplicar os Amuranes, os Ferreiras de Chimoio suas atitudes espalharem-se nos outros municípios; posicionar-se como país perante a África do Sul; acabar com o terrorismo; a venda dos recursos minerais servir para construir infraestruturas sociais essenciais e dar subsídio aos jovens e idosos desempregados; termos um fundo soberano com gestão transparente; menos igrejas, mesquitas e muros em detrimento de mais amor ao próximo; educação de qualidade para bem servir o país; etc.

Seria melhor homenagem ao Azagaia, último herói da presente geração, que com o papel e a caneta quis moldar o país. Apenas as mobilizações podem ser o marco duma viragem. Só que do jeito como conheço moçambicanos, não passaram de mais uma desculpa para aprontar mais podridão em suas vidas e mentir que estão a reflectir a respeito disto e aquilo.

Em última análise, tal como tantos outros, suas letras, algumas, deviam compor alguma linhagem dos mais proeminentes autores revolucionários nas bibliotecas do país. Aliás, a morte simplesmente acontece pois é natural, mas pode ser o marco de grandes eventos, sendo o fim ou o início, vai depender de como o resto da juventude do seu tempo, vai se comportar diante da luta em que ele estava envolvido. Assim saberemos realmente quem ganhou e perdeu com sua morte.

Sugestão derradeira

Não façamos das homenagens ao Azagaia um novo campo de discussão ou disputa entre Moçambique e Angola. Seria reduzir a nada a dimensão do Azagaia como rapper ao comparar a sua popularidade com o Nagrelha. São ou foram lendas e tiveram suas próprias lutas, como artistas e como pessoas. Não acho justo nem correcto dizer que façamos do movimento do seu velório igual DMX ou Notorious Big ou outros por mundo fora.

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As realidades são diferentes, caso não, arriscaria endeusar ele, assim depois da morte, segundo as histórias sobre Jesus ou outras divindades que ficaram famosas depois da morte. Que não é o caso do Mano Azagaia. Ele foi famoso enquanto em vida, infelizmente, a popularidade não lhe valeu milhões na conta, tanto é que tão simples que me parecia ser, era verdadeiramente o tal filho ou enviado do Senhor para nos o seu apelido: LUZ.

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E, ninguém devia ter ido no seu lugar além de ele mesmo, nem Nyusi ou Doppaz, muito menos os corruptos e covardes que estagnam o desenvolvimento deste país. Teve a sua oportunidade de mostrar ao mundo e dar o seu melhor à todos nós. Suas letras em músicas serão a nossa LUZ. Já que faremos com suas mensagens e conteúdos um guião para seguir noutros desdobramentos e frentes. Do que faremos com as letras mostraram de que lado da história estamos entre quem perde e quem ganha com sua morte em qualquer sentido.

Estando livres de expressarmos os nossos sentimentos face o sucedido, seria culto separarmos a disputa de protagonismos nas redes sociais e Midas ou em outros fóruns, de quem fará melhor ou bem representa as condolências merecidas ao Azagaia. Já é bom assumirmos que ele foi melhor que nós e estará fazer muito mais enquanto morto que nós por ele enquanto vivos. No fim das contas, um monumento não seria nenhum exagero para ele. 

Só se pode ser Azagaia se se for justo e honesto e não drogados ou Psico dependentes, fugindo da realidade. Calou-se uma voz e continua a história com novos actores.

Jovem empoleirado por cima duma casa, alegando lamentar a morte do Azagaia. Algures em Moçambique. 

Que sua alma descanse em paz.

 

Tete, 11 de março de 2023

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