Aos médicos e os demais profissionais de saúde, em greve.
Aos médicos e os demais profissionais de saúde, em greve.
Em primeiro lugar não sou à favor das greves e outras manifestações.
Mas mesmo assim manifesto o meu desagrado pela data escolhida para a greve que
já à muito devia ter sido realizada, bem como satisfeitas maior parte das
necessidades básicas para o bom funcionamento das unidades sanitárias e o
empenho desejado aos seus profissionais. Em relação a data tardia, o fulgor
recai ao dia 01 de Junho por ter sido uma data reservada à criança. Achei ser
mau dividir as atenções ou roubar a cena da pequenada.
Quanto a acção da greve, eu diria que demorou, ainda bem que
se reconhece que é legitima e não vejo o ministro que superentende a área,
assim como aos demais dirigentes superiormente hierárquicos, a se simpatizarem
com a causa. Não diria que o governo todo não me parece também estar
interessado, pois existem alguns que não se manifestam talvez por uma
estratégia, medo ou por serem naturalmente bajuladores e corruptos.
Quer dizer que, beneficiam-se tanto quando não há satisfação
das necessidades da classe toda ao nível da base, tanto quanto não há
medicamentos e boas condições de exercício dessa tarefa nobre – salvar vidas,
assim como quando a chefia não tem vontade de resolver os problemas que podem
até ser ultrapassados mesmo cortando algumas regalias ao pessoal acumulado nos
gabinetes fazendo honorários também nos outros sítios.
Porque cá entre nós sabemos que os dados são produzidos nas
actividades dos humildes, esforçados e desfavorecidos técnicos, que sem
negociação alguma nem outra chance ou costas quentes, prestam serviços e fazem
cobertura de assistências sanitária nas zonas recônditas, sem acesso à água nem
o tal saneamento básico, sem cobertura da rede de corrente eléctrica, nem disponibilidade
da rede móvel, muitos menos acesso a vias de comunicações (estradas e pontes) e
habitação condigna.
Enquanto isso:
- O
povo e os seus familiares morrem pela ausência dos profissionais e falta de
medicamentos e dinheiro para ir as clinicas privadas, em contra partida nenhum dirigente perde alguém por isso;
- Os
poucos profissionais que estão assegurando alguns serviços estão exaustos e
esgotados, a chefia ainda pode facturar em sessões e reuniões, até horas extras
a pensar em como resolver isso;
- O
povo continua sendo a vitima dessa disputa e mesmo se terminar bem, os
causadores da dor, virão declarar-se heróis da cena e mais uma manipulação da
vontade popular vai rolar. Em fim…
Todo profissional de saúde merece um tratamento condigno
desde a remuneração que devia compensar moralmente as outras necessidades, bem
como cobertura de outras questões, ligadas a habitação e outros tipos de
assistência aos profissionais. Merecem muito mais que os tais dirigentes e
deputados que dizem representar-vos. Mas pelos meus cálculos, será impossível
cederem facilmente, pois há alguns entretantos que passo a citar.
Na minha opinião pessoal, como um cidadão moçambicano
comprometido com o exercício de cidadania inspirado em fazer do mundo um lugar
melhor para se viver, eu acho que esses problemas todos são criados,
orquestrados ou existem propositadamente para acomodar e satisfazer os fins
individuais daqueles que estão ou se encontram nas posições de topo, privilegiadas
e de chefia ou ainda fazem parte das elites ocultas, por detrás da governação e
direcção do resto do país.
Diga-se ainda mais que alguns médicos e profissionais de
saúde, já contribuem positivamente para que a rede clandestina de desvio de
material, equipamento ou aparelhos médicos e medicamentos destinados aos
hospitais, centros, postos e serviços de saúde públicos, continuem sem
assistências, abastecimento e distribuição desses recursos ao povo com baixo
poder de compra ou de renda baixa.
Inclusive contribuem para continuar a se perpetrar o desvio
de bens e fundos destinados ao pessoal da saúde nacional, bem como ao beneficio
do povo moçambicano. O pior de tudo, nem denunciam, muito menos fazem alguma
coisa para combater as acções malignas contra essa maldade. E só se alinham aos
movimentos de repudio e reclamação como estas, quando cessam de cargos que lhes
davam vantagens alguma, em detrimento de prejudicar a maioria para o beneficio
individual deles.
Alias, criam-se essas dificuldades, problemas e outras situação
constrangedoras no sector da saúde publica, para proporcionar um campo fértil e
oportunidades de alastramento de farmácias, centros e postos privados, onde a
chefia é proprietária. Quer dizer, deturpam o bom funcionamento das
instituições de saúde publicas para fazer dos pacientes potenciais clientes nas
suas empresas de saúde privada, as famosas clinicas privadas.
Pois é assustador que num país como este, haja tanta
proliferação de empresas de saúde em cada esquina com aparelhos e material que
sempre desaparecem nos armazéns e portos, enquanto eram destinados às
instituições publicas. Agravasse ainda mais, quando não se consegue rastrear
enquanto havia seguranças e às vezes desaparecem à luz do dia. Já ouvimos
relatos desse assunto, salvam-se os vampiros por termos uma memoria curta.
Se calhar ainda muitos não tenham percebido o risco que o
pessoal de saúde corre, além da exposição e risco de contaminação eminente, o
manuseio de certos aparelhos e medicamentos, pequeno erro e desconforto no
ambiente de trabalho pode ser fatal tanto para o profissional quanto ao
paciente. É claro que as consequências e danos algumas são irreversíveis e por
vezes levam anos para começar a se manifestar e fazer efeitos. Apesar de muitas
profissões terem os seus respectivos riscos, os de sector da saúde, por
enquanto merecem mais atenção.
Em jeito de conclusão do meu simpatismo à vossa causa, a
greve, que espero que acabe logo, pois o povo está a morrer e alguns
profissionais sem seus auxiliares estão a provar incompetências e incapacidade
de exercício da sua profissão, uma vez que os técnicos não estão lá para
completar o que deve ser feito. Então sem querer ser tão pessimista, é que
alguns problemas estão longe de ter a soluções se as elites, dirigentes
superiormente hierárquicos e alguns chefes nos governos, continuarem
oportunistas e obcecados por mais dinheiro, mais riqueza e mais poder.
Ou melhor, enquanto a chefia continuar olhar as dificuldades
do povo como oportunidades de negócio, isso estará longe de se resolver de
forma sensata. Eles preferem que haja má qualidade nos hospitais e serviços de
saúde pública, para que as pessoas recorram as suas clínicas privadas. Porque é
o objectivo central deles, terem algum cargo e posição no governo e no Estado,
para pura e simplesmente, assegurar a prosperidade dos seus negócios.
Enquanto a isso, muito moral e votos de sucesso na vossa
luta, se não forem por vocês, ninguém mais irá. O povo que vos devia ajudar já está
embrutecido e seus filhos, os que deviam servir de bastiões, foram todos
instrumentalizados por esperanças vagas, educação empobrecida para que não vejam
o lado oculto das atrocidades dos governantes e dirigentes vestidos de ovelha.
E não é falta de recursos que não vos podem satisfazer. É mesmo
falta de vontade, só. Pois cada mandato produz mais ricos e milionários no meio
de tanto sofrimento do povo. Salvem a vossa pele e recuperem a vossa dignidade
diante desses abutres…
Saudações de Maputo, 08 de Junho de 2023
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