Uma Reflexão sobre Prioridades Governamentais em África

A Hierarquia das Inaugurações: Uma Reflexão sobre Prioridades Governamentais em África

Recentemente, circularam vídeos mostrando a entrega de viaturas ao setor da saúde no Borquina Faso, país actualmente governado por Ibrahim Traoré, presidente apoiado por uma junta militar resultante de uma intervenção para restaurar a ordem naquela região da África. 

As imagens exibiam filas impressionantes de veículos destinados a diversos fins, desde transporte para direcção até clínicas móveis para atendimento comunitário.

Este acto foi celebrado como um exemplo que muitos líderes africanos deveriam seguir. No entanto, poucos se detêm a analisar os factores que impedem acções semelhantes em outros países do continente.

Em Moçambique, por exemplo, observa-se um fenômeno curioso: 

há grande alarde quando o actual Presidente da República, membro da Frelimo, inaugura uma simples torneira, um poste de transformação eléctrica ou uma ambulância. 

Alguns analistas, ao expressarem suas opiniões nos meios de comunicação, ousaram criticar o contentamento do Presidente com realizações aparentemente modestas, em detrimento de projectos de maior envergadura e ambiciosos, consequentemente de médio e longo prazo. 

A questão que se coloca é: não deveriam essas actividades de menor escala ser delegadas aos órgãos da administração pública local? Por exemplo, questões de bairro poderiam ser geridas pelas estruturas locais; assuntos distritais, pelas autoridades do distrito; e temas provinciais, pelo governador. 

Seguindo essa lógica, os lançamentos nacionais ficariam a cargo dos ministros de cada área, reservando-se a presença do Presidente da República apenas para eventos de maior relevância.

Contudo, o que muitos relutam em admitir é a tendência de endeusarmos nossas figuras políticas, criando uma dinâmica em que os eleitos para nos servir acabam sendo servidos por nós. Essa inversão de papéis leva alguns a questionarem o sentido de agradecer a um superior hierárquico por cumprir seu dever de proporcionar e promover direitos básicos.

Na verdade, nossos dirigentes deveriam ser os que agradecem pela confiança depositada pelo povo, empenhando-se em realizar mais para merecer nossa atenção, em vez de usurpar o lugar de seus subordinados, especialmente num contexto de descentralização administrativa.

Esta perspectiva crítica sobre pequenas inaugurações realizadas por altas autoridades nacionais sugere que estas deveriam estar focadas em resolver problemas de maior dimensão e impacto global. 

Cada minuto desperdiçado em eventos de menor relevância pode custar vidas e oportunidades de desenvolvimento significativo.

À medida que um mandato chega ao fim, é crucial reflectir sobre as prioridades estabelecidas e as reais necessidades da população. Apenas assim poderemos construir uma governança mais eficiente e voltada para o verdadeiro progresso de nossas nações africanas.

Saudações!



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