Moçambique entre Discursos e Vazios
Começamos o ano com discursos de paz, mesmo com eleições manchadas, pobreza real e mesmo com elites ricas, características de um
Moçambique onde a hipocrisia virou um sistema enquanto o povo paga com sangue, fome e silêncio. Assim a vida segue e se reforça o optimismo, ainda que forçado junto do positivismo platónico a todo povo moçambicano com a abertura do diálogo nacional inclusivo como o analgésico.
A Hipocrisia como Sistema
Moçambique vive, hoje, um dos momentos mais cínicos da sua história recente. Palavras bonitas, discursos de paz, promessas de prosperidade e fotografias de abraços internacionais contrastam com balas reais nas ruas, crianças sem escola, hospitais sem remédios e elites cada vez mais ricas. Eis, sem rodeios, onde a hipocrisia mais grita:
1. Política – “Democracia consolidada” com metralhadora na mão
Só esquecem de dizer que o Conselho Constitucional ignorou provas de enchimento de urnas, votos fantasmas e actas alteradas. Observadores da União Europeia, SADC e Carter Center falaram em “irregularidades graves”. Resposta do Estado? Já no final do ano, antes do champagne e tchin-tchin de gloria's e perdas, não devemos esquecer esses momentos: mais de 320 mortos e 5 mil feridos entre Outubro de 2024 e Março de 2025, segundo a Plataforma DECIDE e o Centro para a Democracia.
Enquanto isso, Chapo, o nosso PR que o devemos defender independentemente de..., vai a Brasília receber a Ordem do Cruzeiro do Sul das mãos de Lula e posa de “democrata progressista”. O mesmo Chapo que, em Fevereiro de 2025, chamou manifestantes desarmados de “terroristas” e disse que “a pátria se defende com sangue”. Hipocrisia em estado puro.
2. Sociedade – Gritamos por uns, calamos por outros
Quando morrem cristãos em Cabo Delgado – mais de 20 decapitados só em Novembro de 2025, sete igrejas queimadas – o mundo quase não pia; recentemente deslocados em memba, agora agitação em Nangade chega até nós mídias. Mas se fosse noutro continente, já haveria hashtags, marchas e discursos inflamados. Em Maputo, sequestros diários de empresários (muitos deles filhos de famílias pobres que subiram na vida) são tratados como “casos isolados”, enquanto a polícia protege cortejos de luxo dos filhos dos generais.
Nas redes sociais, activistas que choram por Gaza silenciam o genocídio silencioso de Cabo Delgado e o deslocamento de quase 1 milhão de pessoas. É selectividade ideológica com cheiro a oportunismo.
3. Economia – “País mais rico de África”… para 0,1 % da população
Falam-nos do gás de Rovuma como salvação nacional. A TotalEnergies, ExxonMobil e ENI anunciam milhares de milhões. Resultado prático até hoje? O país entrou em recessão técnica no primeiro semestre de 2025 (-2,4 %), o metical desvalorizou mais de 20 %, a dívida pública consome 80 % do orçamento e o desemprego jovem passa dos 45 %.
As elites da FRELIMO compram apartamentos em Lisboa e Dubai com o dinheiro que devia construir escolas. O aeroporto de Nacala, feito com 125 milhões de dólares brasileiros, funciona a 4 % da capacidade e deve 22,5 milhões. Mas quando se fala em auditoria, chamam-lhe “campanha contra o desenvolvimento”. Oh, o Secretário Geral da Frelimo visita Vietname, o nosso PR fez dezenas de viagens e houve uma campanha de justificação, PR sul-africano visita Moçambique, etc: no fim deve haver IVA sobre as transações móveis, também, só por que a E-Mola declarou que teve treze ou nove dígitos de movimentos? Antes de até à tal inclusão financeira ter atingido 50% da cobertura nacional.
4. Educação – Discursos bonitos, greves reais
Na Escola Portuguesa de Moçambique, professores entraram em greve em Novembro de 2025 porque o Estado português não paga subsídios de instalação nem passagens prometidas. A direcção da escola diz que “as aulas decorrem normalmente”. Mentira: há turmas sem professores há semanas. No sistema público é pior: mais de 700 escolas destruídas desde 2019 (ciclones + protestos), exames nacionais feitos em tendas, meninas grávidas aos 14 anos porque “casar cedo é cultura”. O governo apresenta o Plano Económico e Social 2026 com a palavra “inclusão” 47 vezes… e corta a previsão de crescimento para 2,8 %. Muita pulga na orelha, que só vale engolir em seco e sobreviver hoje para talvez lutar amanhã se acordar sobrevivendo enquanto o viver não chega.
5. Internacional – Todos querem o gás, ninguém quer os direitos humanos
A TotalEnergies foi acusada em tribunal francês (2025) de cumplicidade em tortura e desaparecimentos em Cabo Delgado. Resposta? Silêncio e mais contratos. O Reino Unido e a Holanda retiraram 2,2 mil milhões de dólares do projecto de gás por violações de direitos humanos – mas Portugal, Brasil e China continuam a aplaudir e a emprestar.
Na Expo Osaka 2025, Moçambique levou bailarinos tufo e cartazes “Raízes do Futuro”. Na mesma semana, o ciclone Chido (Dezembro 2024) ainda mantinha 100 mil pessoas em abrigos de lona.
6. Nós, o povo – A maior hipocrisia de todas
Nas marchas, gritamos “abaixo a ditadura”. Em casa, aceitamos suborno de 500 meticais para votar na FRELIMO. Nas redes, partilhamos vídeos de polícia a bater em jovens. No dia seguinte, aplaudimos quando o mesmo polícia bate no vizinho que é do “outro partido”. Queremos justiça, mas continuamos a chamar “maluco” a quem denuncia corrupção dentro da própria família.
Em resumo: temos um país rico debaixo da terra e pobre em cima dela porque a hipocrisia se tornou sistema. Enquanto continuarmos a aplaudir discursos em vez de exigir resultados, a trocar silêncio por migalhas e a fingir que “está tudo bem”, nada mudará.
Moçambique não precisa de mais heróis das redes sociais. Precisa de cidadãos que deixem de ser cúmplices da própria desgraça. Mas mesmo assim, um dia teremos o melhor e as boas condições para a maioria.
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Palavras e sentimentos exprimidos do seu ínfimo coração que guardas ainda princípios e valores genuínos que já não existem na nossa sociedade. Também sou como tu. Autêntica no meio de tanta falsidade e hipocrisia. Enfim somos escassos
ResponderEliminarEste é o nosso país real, onde a fome, escolhe o sangue dos irmãos para sacear, sem se importar com a dor dos outros. Assim vai o nosso país.
ResponderEliminarEntra no esquema ou seja um herói que vai morrer a tenta salvar a desgraça
ResponderEliminarTudo requerem sacrifício, seja para salvar a sua pele ou para salvar os outros, que quando as coisas começam a dar certo vão te esquecer...
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