A Capulana, símbolo de legitimação do poder.


Olha, até onde a capulana nos levou

Paulino Intepo

intepo1607@outlook.com


A capulana que trás e nos trará confusão, surgiu no continente asiático, segundo os europeus, chegou à África pela primeira vez nos Séculos IX a X. Inicialmente como moeda de troca no âmbito comercial, entre árabes persas e povos que viviam ao longo do litoral. Onde apenas os monarcas a usavam, como símbolo de representação de poder. Logo, é afirmação da capulana como um instrumento de legitimação do poder e não apenas como uma questão de pura moda, como defini-se hoje. 

Actualmente, este tecido é usado como vestuário além das funções básicas, tradicionais, usado pelas mulheres para carregar os seus filhos nas costas, carregar trouxas, fazer tendinhas nas machambas e em outras situações remotas. Servem também para se utilizar como: toalhas, cortinas, panos de mesa, lençóis ou cobertores, filtros de água, bandeiras que simbolizam vários cenários dependendo das regiões, fraldas, pensos, etc.

Em dias quentes, às vezes são usadas por homens em volta da cintura. Nalguns casos quando se está doente, também usa-se, como decoração, tapete. Etc. Para o resto da África, até é popular as declarações de moda na cultura pop urbana, entre os jovens, é comum manifestarem com ela. Assim como podem ser usadas em algumas ocasiões e de várias maneiras, simbolicamente ou por razões práticas.

Enfim, a capulana é um mar de histórias e vivências contidas na nossa identidade cultural e independentemente da época, é um bom negócio com lucros garantidos. 

O lado ruim da Capulana 

Mas fora de elogios, transcritos acima que foram emprestados de alguma fonte, sobre a capulana, nunca se esteve perto de imaginar que a dado momento ela, a capulana, este retalho de pano muito estimado, viria a se tornar numa maldição ou ser parte dela, causando infortúnios e infelicidades nas famílias das comunidades moçambicanas.

O dia 07 de Abril em Moçambique, é reservado à celebração do emponderamento da Mulher moçambicana, na qual se comemora como um feriado nacional, alusivo ao engajamento do destacamento feminino na luta de libertação nacional e nas outras nuances que dizem respeito ao processo evolutivo do país depois da independência. Homenageia-se nessa data, toda mulher moçambicana, sendo como a imagem da capa, a heroína Josina Machel. 

Mas parece não ser tão especial para as mulheres, quanto sagrado para o desfile da capulana. Não sei como será com a existência desse flagelo, promovido pelo dito livre-arbítrio, LGBTQ. Porque só entre mulheres naturais de sexo feminino, a coisa fica assim tão feia, imaginem quando aqueles que desistiram de ser Homens se juntarem a esse fenómeno? 

Haverá sangue na véspera, durante e depois, do que aquele derramado na altura da própria luta de libertação, por não se presentear as mulheres com capulanas. Logo, no dia seguinte estaremos a preparar o velório de alguns camadas, atribuídos à incompetência de não saber tratar, segundo a moda que pegou, as rainhas, guerreiras, batalhadoras, etc.

O dia 07 de Abril de cada ano, pode ser especial sim, mas não acho que seja considerado sagrado até ao ponto de haver atrocidades e confusões alinhadas ao argumento da falta de presente, falta de atenção às mulheres que está sendo obrigação aos maridos, aos homens que "devem" arrumar uma capulana, em razão de evitar que haja situações como:

  • Ser motivo de violência doméstica e física - contendas e pancadarias;
  • Ser motivo de separação e destruição de família;
  • Queimaduras de maridos. 

Até há situações onde verifica-se abandono de pacientes nas camas dos hospitais, em protesto de não ter-se recebido uma capulana. Só para elucidar ainda mais, celebra-se internacionalmente, dia 07 de Abril como o dia da Saúde Mundial. Este tipo de manifestação, estraga a beleza do desta data. 

Senhores promotores do género, olha até onde chegamos, ou até onde a capulana nos levou. Cá-de o profissionalismo? O bom senso. O dia 07 de Abril, já supera qualquer legislação, juramento e compromisso. Rasga qualquer acordo. Afinal, é só por motivos desse pano, tecido feito de algodão e o que mais?(...) só? Não pode ser. 

Deve haver medo ou receio de luto por este pedaço de tecido, nesta semana, pano tido na literatura moçambicana, como um pedaço de tecido colorido, é carregado de história e de muito significado nas suas diversas abordagens, que gera encanto e curiosidade. Mas olha que pena e triste, lamentavelmente desagradável olhar para a capulana como motivo de problemas em Moçambique. Se não for acautelado no sentido de haver moderação e tolerância neste aspecto, a semana do dia 07 de Abril, nos próximos anos, vai dar medo para os casais. 

As actuais heroínas correm o risco de demonizar a capulana, se não forem tomadas medidas adequadas. Demorei quatro noites a tentar me conter e reflectir sobre este aspecto e repetir rever esse artigo antes de o publicar. Não vejo um bom futuro dessa forma, não é pacífico. 

Enquanto imaginava nas cerimónias e ritos, onde a capulana é integrada, e como ela é útil e glorificada, passava-me a imagem dum jovem detido pela polícia alegadamente que dispunha na sua posse uma quantia de estupefaciente, suruma, para vender e comprar capulana para sua esposa. É muito amor envolvido na capulana, que Deus distancie o ódio que pode vir a mancha-la. 

Em nome de todos rituais que ela assegurou e garantiu a sua prossecução, gostaria que salvassem a boa imagem que ela traduz na nossa identidade e convivência. Ela escondeu vários segredos e não pode ser manchada assim. É um símbolo de poder, a capulana na África em geral e em Moçambique, particularmente. 

O primeiro semestre, praticamente, tem sido inútil na vida de alguns casados. Viemos das festas do final-novo ano, segue-se o comercial e dispendioso Dia dos Namorados, vem o dia Internacional da Mulher e o nacional 07 de Abril, fecha-se o ciclo das dívidas, para alguns desorganizados, com o dia da criança, depois das reivindicações frustradas do primeiro de Maio.

Tirando o dia da criança, o resto desses eventos, para a minha,Opinião Pessoal, é uma dose de futilidades. E não vejo motivos suficientes e plausíveis que justifiquem incidentes que uma capulana causa nas casas e relacionamentos em Moçambique, se não for ofertada as donas. 

Vamos salvar o bom nome e a imagem daquele tecido, que acompanha as nossas convivências e vidas, a nossa história, a nossa memória, em todas nuances. Antes das bolsas que expressam vaidades e guardam bruxedos, ela veio à nos em paz pelas mãos dos árabes. Ela não pediu muito para renunciarmos a nossa tradição. Pelo contrário, ela coloriu e protegeu.

Tenho renovada esperança que o próximo dia 07 de Abril, inspire um momento de muito "amor", ternura e alegria. Seja um momento de muita festa e convivência abrangente sem restrições nem cores partidária dividindo emoções e sentimentos no seio da mulher. Seja momento de reconciliação e que inspire ainda mais competências e qualidades femininas nos destaques justificáveis pela positividade.

Extra

Você sabia que:

1. Em algumas localidades do norte de Moçambique, a forma como a mulher amarra a capulana determina o seu estado civil: casada, solteira, divorciada, viúva, noiva, etc. Para a mulher casada e mais velha, a capulana passa a ser um símbolo de riqueza?

 

2. Mas também actualmente, quando as mulheres pedem capulanas, não se referem ao tecido, mas sim, é uma forma figurativa de pedir dinheiro para celebrar o dia 07 de Abril.

Por isso, ainda continua sendo símbolo de legitimação do poder! 

Readaptado da Opinião Pessoal, nº:13, de Abril de 2022:

Pemba, Abril 2022.


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