ESTAMOS A CAMINHO DA EXTINÇÃO DEMOGRÁFICA?

A Bomba Silenciosa da Infertilidade Global 

Durante décadas, acreditou-se que a taxa de fertilidade necessária para garantir a estabilidade populacional girava em torno de 2,1 filhos por mulher. Mas os tempos mudaram — e a ciência actualizada também. Estudos recentes indicam que o número mágico já não é 2,1, mas sim 2,7 filhos por mulher, se a humanidade quiser evitar a extinção demográfica a longo prazo.

Esta actualização não resulta de mero alarme, mas sim de novos cálculos que têm em conta factores imprevisíveis como a percentagem de pessoas que nunca chegam a ter filhos ou a proporção de nascimentos femininos — dados que, embora negligenciados no passado, alteram substancialmente o cenário.

Enquanto isso, a maioria dos países desenvolvidos parece caminhar de olhos fechados rumo a um declínio demográfico inevitável. Os Estados Unidos, por exemplo, registam uma taxa de fertilidade de apenas 1,66. Itália e Japão estão ainda piores, com 1,24 e 1,39, respectivamente. 

E mesmo perante estes sinais, a maioria das sociedades ricas continua apática. Elon Musk tem sido uma das vozes mais sonoras neste debate, alertando para as consequências devastadoras de uma civilização que deixa de se reproduzir — mas poucos parecem escutar com atenção.

OS EXTREMOS DO MUNDO: QUEM ESTÁ A TER FILHOS, E QUEM NÃO ESTÁ?

Num olhar mais abrangente, os dados da World Population Review (2023) revelam contrastes chocantes. Os países africanos lideram a lista dos mais férteis:

  • Níger: 6,73 filhos por mulher;
  • Angola: 5,76;
  • República Democrática do Congo: 5,56;
  • Moçambique: 4,74. 

Estes números contrastam drasticamente com as taxas das nações ocidentais, onde a reprodução caiu para níveis historicamente baixos. Alguns exemplos incluem:

  • Coreia do Sul: 1,11;
  • Taiwan: 1,09;
  • Itália: 1,24;
  • Portugal: 1,44;
  • Alemanha: 1,58;
  • Estados Unidos da América: 1,84. 

Olhando para o continente africano, nota-se que a maior parte dos países ainda regista taxas de fertilidade bem acima do mínimo necessário para a reposição populacional. Contudo, essa fertilidade não deve ser romantizada — muitas vezes é acompanhada por condições socioeconómicas precárias, insegurança alimentar, frágil acesso à educação e à saúde, o que impõe um dilema ético e estratégico.

UM FUTURO DESPOVOADO OU SUPERPOVOADO?

É aqui que se levanta uma questão crítica: o verdadeiro risco está no excesso de pessoas ou na falta delas? O discurso sobre a “superpopulação” dominou durante décadas, mas hoje é o inverno demográfico que começa a preocupar os especialistas.

Com o envelhecimento acelerado da população em países como Japão, Itália, Alemanha e China, muitos Estados enfrentam já um desequilíbrio entre a população activa e a reformada — uma bomba-relógio para os sistemas de pensões e para a sustentabilidade das economias modernas.

E MOÇAMBIQUE?

Com uma taxa de fertilidade de 4,74 filhos por mulher, Moçambique ainda figura entre os países com crescimento populacional robusto. Mas é preciso atenção: o crescimento sem planeamento, sem investimento em capital humano e sem transformação económica pode resultar em fragilidade estrutural prolongada. A lição que se pode extrair deste fenómeno é que nem o excesso, nem o défice populacional são soluções em si mesmos. O essencial está no equilíbrio dinâmico entre fecundidade, bem-estar social e desenvolvimento sustentável.

O QUE O MUNDO DEVE REAPRENDER

Talvez a crise mais urgente da humanidade hoje não seja climática, económica ou tecnológica, mas sim existencial. A recusa crescente de formar famílias, aliada ao culto da individualidade, à insegurança financeira e à perda de sentido colectivo, empurra silenciosamente a espécie humana para o seu próprio esvaziamento. O futuro pode muito bem não ser marcado por guerras ou catástrofes naturais, mas por berços vazios e escolas encerradas por falta de crianças.

Neste contexto, a pergunta que se impõe é simples e desconcertante: estamos ainda interessados em continuar a existir?



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